O sambista Bezerra da Silva tinha razão. Dizia ele numa canção sobre os políticos do país: “É ladrão que não acaba mais. Você vê ladrão quando olha pra frente. Você vê ladrão quando olha pra trás”. A música retrata com fidelidade o sentimento de milhares de trabalhadores diante do dilúvio de lama que inunda o noticiário.

Em apenas uma semana, a crise política ultrapassou o PT e o Congresso Nacional e o mar de lama começa a subir a rampa do Planalto. Numa tentativa de focar a crise em volta das remessas ilegais de dinheiro do empresário Marcos Valério ao PT, Lula, Delúbio Soares e próprio Valério apresentaram um discurso previamente ensaiado em cadeia nacional de TV. O objetivo era varrer para debaixo do tapete o escândalo do mensalão e reforçar a blindagem sobre Lula. Não deu certo. Eis que surge, horas depois, a lista comprovando a existência do mensalão com nomes de assessores de deputados do PT, PP e até do PSDB. Pior, em poucos dias, ficou claro para todos que as entrevistas não passavam de uma grande armação, denunciada por toda imprensa do país. Na mesma semana, um cheque que poderia comprovar que Valério teria pagado um empréstimo de Lula desaparece “misteriosamente” dos documentos da CPI dos Correios.

Acuado, Lula apelou para a tese defendida pelas entidades governistas (UNE, CUT e MST) dizendo que “não baixará a cabeça para as elites”. O problema é que Lula não só já abaixou a cabeça, como está, já faz tempo, de joelhos perante a burguesia, quando resolveu aprofundar a política econômica neoliberal, continuando a tirar dinheiro da saúde, educação e reforma agrária para pagar a dívida externa ao FMI.

Também falou, em tom de desafio, que “está para nascer alguém que venha querer me dar lição de ética”. Mas as bravatas de Lula fazem lembrar Collor quando começou a afundar no mar de lama e disse que tinha “aquilo” roxo. Falta apenas Lula chamar a população sair às ruas de verde e amarelo em apoio ao seu governo. O problema é que a popularidade de Lula, apesar de relativamente alta, segue uma tendência de queda progressiva.

Lula sabia da bandalheira e as provas tornam-se cada vez mais evidentes. Cresce o número de pessoas que não acreditam mais nas suas mentiras.

Para os que ainda acreditam que Lula não sabia de nada, resta explicar porque participou da farsa das entrevistas na TV e aonde foi parar o cheque que sumiu da CPI.

A crise segue também desgastando o Congresso e os partido políticos. Na última pesquisa IBOPE, 67% dos entrevistados acreditam que o PT pagava mensalão a deputados. O PT também é identificado como o partido com denúncias de corrupção. A crise política poderá tornar o PT inviável como uma máquina eleitoral. Um fim merecido para quem fez da corrupção bilionária parte do seu projeto político.

Ao lado da decepção, está estabelecida a confusão entre os trabalhadores. Muitos, percebendo corretamente a hipocrisia da oposição de direita, dizem que não há alternativa para Lula. Nós dizemos que há sim alternativa à crise, mas, para construí-la, é preciso tomar as ruas contra esse governo do mensalão. É das lutas que nascerá a alternativa dos trabalhadores em oposição ao governo e a PSDB e PFL. Vamos aderir ao chamado da Conlutas! Vamos à Brasília no dia 17 de agosto e ocupar as ruas da Capital Federal!

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 226
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