A operação de blindagem não impediu que as denúncias de corrupção respingassem no presidente. Empresa do filho de Lula recebeu um investimento de R$ 5 milhões da TelemarA operação de blindagem de Lula, garantida não somente pelo PT, mas inclusive pelo PSDB e pelo PFL, não impediu que as denúncias de corrupção respingassem no presidente. Isso ocorreu através das recentes denúncias sobre seu filho, Fábio Luis Lula da Silva, de 28 anos. Fábio é sócio da produtora Gamecorp, ex-G4, que recebeu, em janeiro deste ano, um investimento suspeito de R$ 5 milhões da empresa de telefonia Telemar.

O investimento é estranho por alguns motivos. Primeiro porque o dinheiro investido representa quase todo o capital da Gamecorp, cujo total é de R$ 5,2 milhões. Além disso, apesar de a empresa de telefonia ter parcerias com mais de 40 grupos no ramo de jogos e conteúdos para celulares, a única empresa na qual a Telemar fez questão de ter participação como sócia, comprando parte das ações, foi a Gamecorp.

Outro fato suspeito é que o negócio foi intermediado pela DBO Trevisan, empresa de auditoria e consultoria cujo principal sócio é Antoninho Marmo Trevisan, amigo pessoal do presidente Lula e membro do Conselho de Ética Pública da Presidência da República.

E as ligações com o poder não param por aí. A Telemar não é uma empresa privada qualquer, mas atua na área de telefonia fixa por concessão pública. O BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que é vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, possui representante no Conselho de Administração da Telemar. Isso porque o BNDES tem 25% de participação num grupo que detém 18,8% do capital da Telemar, o que o torna, indiretamente, detentor de 4,7% das ações da empresa de telefonia.

Com o alto investimento da Telemar, a Gamecorp já teve, nesses últimos seis meses, um crescimento na sua atuação e nas expectativas de lucros. A empresa do filho de Lula produz conteúdo voltado ao público jovem, que vai ao ar em dois programas de televisão, um na Bandeirantes e outro na Mix TV, um canal UHF. Os R$ 5 milhões fizeram crescer os parcos 40 minutos do programa da Mix TV para 4 horas. Agora, a Gamecorp estima um faturamento de R$ 7 milhões para este ano.

Resmungos e desculpas esfarrapadas

Todas as justificativas apresentadas pelo BNDES, pela Telemar e pelo próprio Lula para as denúncias sobre o investimento da Telemar na Gamecorp não colaram. Lula divulgou, através de seus assessores, que julga ser “normal” a operação e que não interferiu para que seus filhos fossem beneficiados em contratos com empresas públicas ou privadas.

Em um momento de maior desespero, Lula acusou a imprensa de invadir sua vida privada ao denunciar sua família. Durante a reunião ministerial desta semana, ele disse que “estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é baixaria, um golpe baixo, um desrespeito”. Ele não levou em conta que, quando os assuntos de família são favorecidos pela administração pública, o assunto deixa de ser privado.

O BNDES, por sua vez, soltou uma nota à imprensa apenas negando que tenha tido qualquer influência na decisão da Telemar em realizar o investimento e a compra de ações. A nota diz que o investimento foi aprovado “baseado na recomendação da diretoria da empresa de que se tratava de investimento de grande potencial”.

A nota divulgada pelo grupo Telemar diz que “as parcerias feitas com a empresa Gamecorp e com outras produtoras de conteúdo multimídia fazem parte da estratégia de negócios da companhia”. Isso não explica por que a Gamecorp foi a única empresa na qual a Telemar quis entrar como sócia.

Em seu ofício destinado à Comissão de Valores Mobiliários, CVM, a Telemar chegou a afirmar que o valor investido é “absolutamente irrelevante” em relação ao faturamento da empresa. Porém, tendo em vista o crescimento da Gamecorp, está claro que o valor não foi tão irrelevante assim.

No dia 13 de julho, uma das respostas dadas pela Telemar através de sua assessoria foi que a empresa só soube que o filho do presidente era um dos sócios da Gamecorp em setembro de 2004, quando o negócio já teria sido fechado. Entretanto, isso entra em contradição com o fato de que o conselho da Telemar só aprovou o negócio em reunião realizada em 6 de janeiro de 2005. Como se pode ver, nessa história muita coisa está mal explicada e as desculpas esfarrapadas não estão colando…

Família unida…

O outro filho de Lula, Sandro Luís Lula da Silva, de 26 anos, também tem contas a esclarecer. Segundo foi divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, Sandro era contratado pelo Diretório do PT de São Paulo desde 2002 para prestar “serviços à distância”.

Sandro foi contratado como assistente administrativo do partido em maio de 2002, com o salário de R$ 1.522. Com a eleição de Lula, ele passou a prestar serviços à distância, segundo a assessoria do PT. Antes de divulgar esta versão definitiva, o diretório havia dado outras respostas. Primeiro, que Sandro nunca trabalhou no partido. Depois, disseram que ele trabalhou, mas deixou de ser funcionário em 2002. A terceira versão dizia que ele foi desligado há duas ou três semanas.

O fato é que todos os funcionários do diretório entrevistados pela Folha disseram nunca terem visto Sandro no prédio. Além disso, no livro de empregados, ao contrário dos outros 70 funcionários do partido, não está especificado o horário da jornada de trabalho do filho de Lula.

Quando perguntado por seus colegas, através do Orkut, sobre o que anda fazendo da vida, Sandro responde que continua “vagabundeando e tentando terminar a faculdade” e que tem “fingido que trabalha um pouco”.

Para quem acha que Lula paira imaculado diante do mar de corrupção que se alastra pelo governo e em seu partido, essas histórias mostram como sua família vem se beneficiando depois que ele foi eleito presidente da república. Coincidência? O povo não é tão ingênuo…