(Osaka - Japão, 28/06/2019) Jair Bolsonaro, durante Reunião bilateral com o senhor Donald J. Trump Foto: Alan Santos / PR
Redação

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Após o ataque aéreo norte-americano que matou o general iraniano Qassem Soleimani, o governo brasileiro divulgou nota em que se alinha de forma incondicional ao atentado praticado pelos EUA no Iraque, reafirmando seu apoio a Trump. “O governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo“, diz o comunicado do Itamaraty. Mais do que apoio político, Bolsonaro fez questão de ressaltar sua completa submissão ao seu chefe do Norte, dizendo que iria “entregar” terroristas no Brasil. “Se tiver qualquer terrorismo no Brasil a gente entrega“, disse à imprensa.

Bolsonaro, ao mesmo tempo em que não perde a oportunidade de demonstrar sua humilhante posição de lambe-botas de Trump, ainda mostra ter um contraditório conceito de “terrorismo”. Ignora que o governo dos EUA comanda as maiores e mais destrutivas ações de terrorismo do mundo, como a invasão e ocupação do Afeganistão, que hoje já se sabe ter sido levada a cabo com base em mentiras, além da invasão e ocupação do Iraque, e em diversos pontos do mundo, orientado basicamente por seus interesses, especialmente o petróleo no caso do Oriente Médio.

No plano doméstico, Bolsonaro simplesmente se calou diante de o atentado terrorista cometido contra a produtora Porta dos Fundos, e da fuga à Rússia de um militante de extrema-direita que confessou o crime. Aliás, militante de extrema-direita que, num caso ainda nebuloso, recebeu informações de dentro da própria polícia que teria decretada sua ordem de prisão, o que lhe conferiu tempo para se evadir.

Isso sem falar na execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, verdadeiro ato terrorista, ao que tudo indica, praticado por milicianos aos quais Bolsonaro e a sua família tem ligação histórica.

A verdade é que Bolsonaro não está comprometido com luta alguma contra um suposto “terrorismo”. Ao contrário, apoia um governo terrorista, é formado por políticos e tem como base milícias que, essas sim, espalham um domínio de terror a populações pobres no Rio de Janeiro. Seu discurso e seu governo amparam ainda o avanço do terror praticado pela Polícia Militar contra a juventude negra das periferias, como no recente assassinato de 9 jovens em Paraisópolis, em São Paulo.

“Terrorismo” para o governo Bolsonaro significa protestos, ocupações de terra, manifestações, e tudo o que tem a ver com lutas dos trabalhadores e do povo pobre.

O apoio de Bolsonaro ao ato ilegal de Trump, de executar um general do Irã em pleno solo iraquiano, passando por cima de qualquer lei internacional ou soberania, é um verdadeiro escândalo. É um sinal verde de que Trump pode fazer o que bem entender, inclusive por aqui. Mostra, assim, mais uma vez, que seu discurso nacionalista não passa de palavras vazias para enganar o povo.

Soleimani era um facínora, assim como o restante do regime teocrático iraniano. O general comandou a brutal repressão do ditador sírio Bashar Al-Assad à revolução popular que havia se desencadeado naquele país, ao lado da Rússia e da China. No próprio Iraque, o general coordenava a repressão aos protestos do povo iraquiano por melhores condições de vida, que já havia ceifado 400 vidas. Era uma figura, portanto, que não merece qualquer condolência. Mas isso não dá o direito de apoiar o ato terrorista e ilegal de Trump.

É preciso, sem qualquer apoio ao regime ditatorial do Irã, repudiar energicamente o ataque norte-americano no Iraque. E repudiar a posição humilhante de submissão e subordinação de Bolsonaro a Trump.  O Brasil deveria, isso sim, romper relações com os EUA e Israel, em defesa da soberania dos povos.