O balneário de Mar del Plata, nesta primeira semana de novembro, será isolada do resto do mundo. Serão proibidas as entradas de trens, ônibus e aviões durante a realização da Cúpula das Américas, que reúne os chefes de governo da Organização dos Estados Americanos (OEA) na cidade argentina. O governo de Kirchner aventa inclusive medidas de segurança como a proibição de veículos não-autorizados e, até mesmo, o bloqueio do sinal de telefones celulares na região.

O orçamento nacional reservou cerca de 120 milhões de pesos argentinos para acomodar a comitiva do presidente norte-americano George W. Bush Jr. – que inclui 7.500 efetivos das forças armadas, marines, policiais e agentes da CIA e FBI -, além dos aparelhos repressivos deslocados pela própria Argentina, com cavalaria e agentes militares. A militarização da cidade transformou-a numa verdadeira fortaleza – com quilômetros de pesadas cercas metálicas, protegidas por franco-atiradores e policiais militares -, formando uma impenetrável zona de exclusão. O operativo, que inclui o recenseamento, cadastro e vigilância dos habitantes de Mar del Plata em uma área classificada como “zona de risco”, objetiva fundamentalmente impedir e, eventualmente, reprimir as mobilizações populares programadas contra Bush.

A Central de Trabalhadores Argentinos (CTA) organizou panfletagens, palestras, marchas e manifestações – nos principais centros urbanos do país – além da convocatória a uma paralisação nacional. A manifestação contra a presença de Bush no país contará com delegações de diversos países, convocadas a participar da III Cúpula dos Povos – organizada pela Aliança Social Continental (ASC) e pela Campanha Internacional contra a ALCA – e do Fórum Sindical, organizado pela Coordenação das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS).

Trata-se da terceira vez que ocorre um evento deste gênero na América Latina. Ao largo da história do subcontinente foram poucas as vezes em que os presidentes da região reuniram-se, sendo a agenda para a América Latina definida e imposta diretamente desde Washington. Convocados pela OEA, os mandatários reuniram-se no Panamá, em 1956 e, 11 anos depois, no Uruguai, em 1967. A realização do evento, desta vez, se dará no país da América Latina onde há o mais alto índice de rechaço popular ao imperialismo norte-americano e apenas três anos depois do encerramento de uma profunda situação revolucionária que questionou abertamente a subordinação ao capital financeiro internacional e massificou o repúdio ao FMI entre a maioria da população.

* Com informações dos jornais Clarín e Página 12