Cristina Portela, do Rio de Janeiro (RJ)

Uma insurreição espontânea toma conta das ruas de Tegucigalpa e muitas outras cidades de Honduras. A rebelião, liderada pela juventude, é contra a fraude eleitoral protagonizada pelo atual presidente do país, Juan Orlando Hernández, conhecido pelas iniciais JOH. As eleições foram realizadas no dia 26 de novembro último. À frente nas apurações estava o seu opositor, Salvador Nasralla. Mas, misteriosamente, depois de um estranho apagão informático no meio da semana, JOH passou à frente, o que gerou justificadas desconfianças de fraude.

Revoltada, a população, que odeia JOH, foi às ruas, onde enfrenta a violentíssima repressão da polícia. Até o dia 3 de dezembro, pelo menos cinco pessoas tinham sido mortas pela polícia, entre as quais uma jovem de 19 anos. Há muitos presos e feridos graves. O governo decretou o toque de recolher por dez dias e declarou estado de exceção.

Mas a luta está imparável e a corajosa juventude hondurenha continua a enfrentar os assassinos a soldo de JOH nas ruas. O Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), seção hondurenha da LIT, conta que já são mais de 50 cidades que realizaram ações que vão desde mobilizações e concentrações massivas, até cortes de estradas e organização de barricadas para impedir o trânsito dos grupos repressivos.

O ódio contra JOH explica-se por este aplicar fielmente o receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI): reduziu os orçamentos para a saúde e a educação; demitiu 25 mil funcionários públicos, privatizou empresas públicas e estradas. Cerca de 600 mil hondurenhos emigraram para os Estados Unidos para fugir da morte e da miséria. Honduras é considerado o país mais violento do mundo, com taxas de homicídio diários similares às que vivem os países em guerra civil. Mais de 120 ecologistas foram assassinados desde 2010, entre eles Berta Cáceres, que se opunha à instalação de um projeto hidroelétrico num rio sagrado para a comunidade indígena. Os vínculos do Partido Nacional, de JOH, com os projetos hidroelétricos são conhecidos: a sua presidente e vice-presidente do Congresso é proprietária de dois importantes, enquanto o seu marido constrói outras duas, para vender energia ao Estado.

Salvador Nasralla, o candidato oposicionista, é um popular apresentador de televisão e não é uma opção para o povo hondurenho. Declara-se “apolítico” e só teve a votação que teve por denunciar a corrupção do governo e aparecer como a única alternativa eleitoral para tirar JOH do governo. Diante da mobilização, só teve a dizer que: “Posso fazer um chamado pela paz hoje, mas não posso responder sobre as manifestações em massa de meus simpatizantes. Isso é impossível”.

O PST está chamando uma paralisação nacional, por tempo indeterminado, apoiada em assembleias de bairros e nos centros de trabalho, para tirar JOH do poder! E chama também a não se depositar nenhuma confiança no Tribunal Eleitoral nem nos observadores internacionais!

Toda a solidariedade à luta do povo hondurenho!