Marina Cintra e Juliana Rocha, da Juventude do PSTU

De acordo com resultados divulgados na revista científica “Science”, muitas meninas a partir de 6 anos têm a imagem de que os meninos lideram, fazem descobertas científicas e são muito inteligentes, enquanto elas mesmas não se veem dessa forma. O resultado dessa pesquisa tem a ver diretamente com a imposição e com os estereótipos de gênero que são colocados para nós desde que nascemos. “Até os cinco anos, garotas e garotos associavam de modo semelhante o próprio gênero à inteligência. Contudo, a partir dos seis anos, as garotas se mostravam significativamente menos propensas a fazer tal associação“, diz a pesquisa.

Desde pequenas, nós somos bombardeadas com roupas rosas, nossos primeiros brinquedos são sempre bonecas, panelinhas, vassouras. Não tem nenhum problema gostar de rosa e desses brinquedos. A questão é a ideia que passam para nós de que nosso papel natural seria unicamente nos tornar mães, limpar a casa, cozinhar. Os meninos, também durante a infância, são incentivados a um papel de liderança, de maior liberdade que as garotas.  Dessa forma, o resultado dessa pesquisa não é tão surpreendente.

Além disso, muitas vezes não é estudado nas escolas o papel das mulheres na História, que foi muito importante, porém é desconhecido. Isso é muito ruim, pois acabamos não nos vendo como agentes da História também.  Já foi mostrado muitas vezes que as mulheres tiveram papéis cruciais, como Ada Lovelace, que inventou a programação, desenvolvendo o primeiro código que fez ser possível um computador existir. Também temos Marie Currie, primeira pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em física e química. Não podemos esquecer de Dandara, líder do Quilombo dos Palmares, que resistia e teve um papel decisivo na luta contra a escravidão. Esses são apenas três exemplos de muitos outros que existem por aí.

Tudo isso ajuda a reforçar a ideia de que o papel da mulher na sociedade é subalterno. O sistema capitalista se aproveita desse estereótipo para sustentar a tese de que a mulher é inferior, inclusive do ponto de vista salarial – situação agravada no caso das negras. Além disso, o fato das mulheres estarem “destinadas” quase que naturalmente a darem conta de todas as tarefas domésticas desobriga o próprio Estado e as empresas capitalistas a garantirem serviços como unidades públicas de educação infantil que atendam toda a demanda, lavanderias públicas, refeitórios públicos etc.

Mas as mulheres estão cada vez mais independentes, ganhando o mercado de trabalho e se “empoderando”. Isso é verdade?

Sim e não. É verdade que atualmente se fala mais sobre os problemas de machismo e os estereótipos são questionados. Ou seja, esses temas tem ganhado mais visibilidade nas novelas, propagandas etc. Isso tem a ver com a nossa resistência, as mulheres jovens e trabalhadoras tem protagonizado greves e lutas por todo o mundo.

No entanto, do ponto de vista da estrutura social que vivemos pouco ou quase nada mudou para nós. Basta observar ainda como é a estruturação da maioria das famílias brasileiras, os postos de trabalho que são ocupados pela maioria das mulheres negras, seus salários, a cultura do estupro bastante vigente e os inúmeros casos de feminicídios.

Com relação às mulheres jovens a situação é ainda mais assustadora, pois os índices de desemprego, subemprego e de violência por exemplo são maiores nesse setor. Além disso, sofremos uma dura pressão sobre o futuro das nossas vidas: mulher feliz é aquela que se casa (com um homem!), constitui família, é uma boa mãe e esposa. Precisa ser bonita (a padrão), bem resolvida, ter um emprego e ainda dar conta das tarefas domésticas.

PMDB, PSDB e PT não nos representam
Diante de toda essa realidade, os governos municipais, estaduais e federal não priorizam as políticas de combate ao machismo. A verba destinada para a Lei Maria da Penha, por exemplo, é minúscula. Nem mesmo quando tínhamos uma mulher governando o país essas políticas eram priorizadas.

Agora, o governo Temer que aprovar a reforma da Previdência, que vai aumentar o tempo de arrecadação, um ataque direto aos nossos direitos. Essa reforma prejudica principalmente as mulheres, sobretudo as negras. Ela iguala a idade de aposentaria entre homens e mulheres, ou seja, ignora o fato das mulheres terem dupla e muitas vezes até tripla jornada de trabalho. Isso significa que nós, mulheres jovens, vamos trabalhar até morrer, sem nos aposentarmos. Os governos fazem isso justamente porque eles estão alinhados com os ricos e precisam tirar investimento das áreas sociais para repassar diretamente aos bancos, através do pagamento da dívida pública.

8 de março: se nossas vidas não importam, produzam sem nós!
Mesmo diante de tantos casos de machismo, violência e ataque aos nossos direitos, a verdade é que as mulheres trabalhadoras e jovens não param de lutar no mundo inteiro. São vários processos de luta e recentemente presenciamos uma das maiores marchas de mulheres da História, contra o governo machista e racista do capitalista Trump. Aqui no Brasil as mulheres, as pretas e LGBT’s protagonizaram ocupações de escolas e universidades contra os ataques do governo Temer.

Nós da juventude do PSTU nos somamos ao chamado por uma greve internacional de mulheres. Estamos junto com todas as trabalhadoras.

Aqui no Brasil essa convocação ganha uma importância particular, pois é urgente realizar uma greve geral para barrar os ataques e derrubar Temer. Mas infelizmente há setores no movimento de mulheres, como a Marcha Mundial de Mulheres, que não defendem isso. A maioria do PSOL também não joga seus esforços para a construção da greve geral.

Muito distante do interesse das mulheres trabalhadoras, priorizam a luta contra o “golpe” e a  construção de uma frente de defesa da candidatura do Lula em 2018. Achamos isso um equívoco, pois significa iludir as mulheres de que os nossos problemas vão se resolver se elegermos o Lula. Ora, quando o PT governava o país, com Lula ou mesmo Dilma, a vida das mulheres não melhorou, vide os índices de violência que continuaram subindo. Por que agora seria diferente?

Precisamos mesmo é apostar na alternativa da luta para barrar os ataques que estão acontecendo agora contra a vida das mulheres e também ir a fundo na raiz do problema, lutar contra o próprio sistema capitalista, que se aproveita do machismo para se sustentar.