Já rendidos, detentos foram executados dentro das celas
Mais um absurdo que mostra a quem serve a Justiça desse país. O Tribunal de Justiça de São Paulo acabou de anular os julgamentos que condenaram os 74 policiais militares envolvidos no massacre do Carandiru em 1992, quando 111 presidiários foram friamente executados pela PM.
Mais chocante que a decisão do TJ foi o argumento utilizado pelo desembargador Ivan Sartori: “Não houve massacre, houve legítima defesa”, afirmou. Com os julgamentos anulados, os réus podem ser absolvidos e se livrarem das condenações que variavam de 48 a 624 anos de prisão. O último processo do caso teve seu julgamento concluído 21 anos depois do massacre.
As justificativas utilizadas pela defesa vão de argumentos técnicos à absolvição do comandante da operação na época, o coronel Ubiratan Guimarães, morto em 2006 sem nunca pagar pela barbárie que chocou o mundo.
O massacre do Carandiru ocorreu em 2 de outubro de 1992, numa invasão da PM após uma rebelião no presídio. A esmagadora maioria das vítimas foi executada dentro das celas após rendição, segundo versão dos poucos sobreviventes e da própria perícia.
O massacre do Carandiru é uma mostra viva do caráter dessa Polícia Militar genocida, e da impunidade que impera aos crimes da polícia contra a população pobre e, sobretudo, negra. Um massacre que se repete diariamente nas periferias e favelas. Após o caso, Ubiratan foi eleito deputado estadual com o número 14.111, em referência ao número de presos assassinados. Um escárnio.
A anulação dos julgamentos é uma vergonha. É preciso punir exemplarmente os assassinos envolvidos no massacre, incluindo o ex-governador na época, Luiz Antônio Fleury. É preciso desmilitarizar a PM e acabar com o genocídio que se repete diariamente contra a juventude negra e pobre desse país.