Todo e qualquer preconceito precisa ser combatido, mais ainda dentro da universidade, para construir uma educação e uma sociedade melhoresOs estudantes da USP foram surpreendidos, no dia 23 de abril, por um triste fato: um grupo de alunos da universidade, em publicação eletrônica e anônima, incitou explicitamente a violência contra homossexuais. O jornal O Parasita, publicado por alguns estudantes do curso de Farmácia, dizia: “O Parasita lança um desafio, jogue merda num viado que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010”.

Ao contrário do que pode parecer, este não é um fato pontual ou esporádico. Nesta mesma universidade, no ano passado, dois estudantes que se beijavam numa festa foram violentamente expulsos por expressarem publicamente o seu afeto. Há um tempo atrás, outro caso aconteceu: duas estudantes da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste foram reprimidas dentro do campus pela polícia. O motivo: uma delas estava sentada no colo da outra.

São apenas alguns exemplos, sem mencionar os diversos casos de racismo e o constante machismo. E machismo, racismo e homofobia não são exclusividade da USP. Lembremos o emblemático caso Geyse, a aluna da Uniban que foi agredida por causa de um vestido curto. Vez por outra, esses acontecimentos ganham a mídia por uns dias e, depois, são esquecidos. E voltam a acontecer.

As universidades – com destaque para a USP – são vistas pela população como ambientes livres, democráticos e isentos ou menos sujeitos aos preconceitos, ao racismo, ao machismo, à homofobia. Não é assim. As pessoas, dentro da universidade, tomam parte nos problemas gerais da sociedade, e esta é machista, racista e homofóbica.

Por mais que os responsáveis por incitarem a violência homofóbica – atirar fezes nos homossexuais – tenham pedido desculpas, dizendo que era só uma brincadeira, isto em nada altera a gravidade do fato. Não só por conta da carga de hipocrisia contida no formal pedido de desculpas, mas porque são exatamente estas brincadeira que preparam o terreno para a violência homofóbica (e machista e racista) de fato.

O Brasil é campeão de assassinatos a homossexuais. O número de crimes desse tipo cresce a cada ano. O texto dos estudantes da USP tem um cunho fascista. Além da apologia à violência, sustenta uma argumentação imperdoável, que defende uma suposta moralização do curso, propondo a discriminação.

Sabemos que a universidade e os estudantes não estão apartados dos problemas que comovem e permeiam a sociedade. Nos anos recentes, os estudantes ocuparam suas reitorias contra os projetos de educação apresentados pelos governos estaduais e federal, em defesa de um ensino público, gratuito, de qualidade e presencial. Isso interessa a todos.

O machismo, o racismo e a homofobia também atingem o conjunto da população, assim como os projetos de educação. E, assim como estes projetos foram e são combatidos em prol de uma outra universidade e sociedade, o machismo, o racismo e a homofobia também devem ser combatidos, mais ainda dentro da universidade, em prol de uma educação e de uma sociedade melhores.

Mobilização
No dia 4 de maio, haverá um ato de repúdio ao ocorrido na USP. Queremos a apuração e a punição severa aos envolvidos nessa barbaridade. Este tipo de ação não pode ficar sem resposta. Os estudantes da USP, independentemente de sexo ou cor, têm de se organizar e lutar contra o preconceito.

Nós, estudantes que enfrentamos os governos, não podemos ter medo de enfrentar a opressão cotidiana que nos cerca dentro e fora das universidades. Não podemos nos omitir e nem permitir a omissão da reitoria, das diretorias das faculdades e das autoridades. Na manifestação, também vamos exigir a aprovação do Projeto de Lei 122, que criminaliza a homofobia.

Nós, que queremos a educação transformadora, não podemos querê-la somente para os homens brancos e heterossexuais. Devemos nos perguntar a quem serve a opressão. Chegaremos à resposta de que serve aos mesmos que tentam usurpar a universidade para perpetuar essa sociedade de exploração.