A jornada nacional de lutas do dia 23 de maio foi uma grande vitória da classe trabalhadora. De norte a sul, operários, sem-teto, sem-terra, estudantes, professores e servidores públicos foram às ruas contra as reformas previdenciária e trabalhista do governo Lula, que pretendem acabar com direitos históricos dos trabalhadores. De acordo com o levantamento da Conlutas, cerca de 1,5 milhão de trabalhadores e estudantes participaram de alguma forma de protesto. Foi uma das maiores manifestações da classe trabalhadora, pelo menos dos últimos dez anos.
“Esta é uma luta vitoriosa que demonstra a disposição e a força dos trabalhadores para derrotar Lula e suas reformas”, disse Joaninha de Oliveira, no ato em Florianópolis que reuniu cerca de cinco mil pessoas.

Todas as formas de lutas foram utilizadas: greves, passeatas, ocupações, atos de protesto e bloqueio de estradas e avenidas. Houve uma combinação entre a coordenação de campanhas salariais e específicas de distintos setores, e uma mobilização diretamente política contra a reforma da Previdência que está sendo preparada pelo governo Lula.

Segundo levantamento do MST, foram bloqueadas 39 estradas em nove estados. “O recado ao Congresso, ao governo e ao capital foi claro: amplos setores da sociedade organizada não vão deixar barato ataques aos seus direitos”, disse Gilmar Mauro, dirigente do MST.

O sucesso do dia 23 tem duas explicações. A primeira é que existe um aumento da temperatura social do país. As lutas vieram para ficar e mostram que o segundo mandato do governo Lula será bem diferente do primeiro.

A segunda explicação é que a Conlutas está se firmando com uma direção alternativa das lutas. O dia 23 foi definido como dia nacional de lutas no Encontro Nacional contra as Reformas do dia 25 de março, convocado por distintas entidades (inclusive a Intersindical, pastorais sociais e outras), mas principalmente pela Conlutas. Quando o dia chegou, na grande maioria das manifestações a Con-lutas teve uma participação decisiva, jogando todas as suas forças na realização dos protestos.
Isso também tem a ver com a crise da CUT. Essa central pelega assinou a nota de convocação do dia 23 a contragosto, e depois tentou dar um golpe para transformar a mobilização em atos de apoio ao governo Lula, pelo veto à Emenda 3. Foi claramente derrotada.

Papelão da CUT
Em muitas capitais, a CUT dividiu o movimento e realizou atos em separado, cujo caráter era de defesa do governo federal. Os governistas tentaram restringir os protestos ao apoio ao veto à Emenda 3, mas a manobra não conseguiu o resultado esperado.

Em São Paulo, por exemplo, o ato convocado pela central na frente da Fiesp, na avenida Paulista, reuniu, no seu auge, cerca de 600 pessoas. Muito abaixo das expectativas dos dirigentes governistas, que aguardavam dez mil pessoas. Já o ato unitário contra as reformas neoliberais reuniu 3.500 pessoas. Em Porto Alegre, o ato da CUT juntou 400 pessoas, muitas funcionários de sindicatos. Já a mobilização unitária contra as reformas reuniu quatro mil, expondo o fracasso completo da CUT.
No Rio de Janeiro, a CUT disse que não participaria do protesto chamado pelo Fórum Nacional de Lutas. No entanto, os governistas “aderiram” de última hora, depois que a atividade já reunia cerca de sete mil pessoas no centro da cidade.

No ato unificado de Salvador, os dirigentes da CUT tentaram impedir que sindicalistas da Conlutas criticassem o governo cortando o som do microfone. Não conseguiram. Para desespero dos dirigentes da CUT, seguiram-se coros contra Lula e o governo como: “Ô Lula, que traição, essa reforma é reforma do patrão”.

Na mobilização contra as reformas em Brasília, em plena Esplanada dos Ministérios, a CUT teve que participar de um ato com cinco mil pessoas claramente contra o governo.

Manipulação da imprensa
A grande imprensa tentou restringir a pauta das mobilizações, reduzindo-as a apenas “contra a Emenda 3”. Já a Rede Globo dedicou-se somente a qualificar os manifestantes como “vândalos” e “agressores”.
Para isso, a governista CUT teve uma mãozinha desses órgãos de comunicação. Trata-se de uma manobra consciente, cujo objetivo é impedir a veiculação de qualquer enfrentamento com o governo.

São aliados do governo na preparação de uma forte campanha ideológica que tentará enganar a população sobre a “necessidade” das reformas. Nessa mentira, destaca-se a Globo, que está em plena campanha a favor reforma da Previdência, tentando convencer o povo que a aposentadoria no Brasil é uma das mais “generosas do mundo”.

Calendário de lutas
Os vitoriosos protestos do dia 23 foram resultado da articulação dos vários setores e movimentos iniciada no Encontro Nacional contra as Reformas do dia 25 de março, em São Paulo.

“Aqui foi muito importante a unidade de ação, mas para que essa luta se torne realmente conseqüente, é preciso que esses setores [CUT, CSC] rompam com o governo”, defendeu Cyro Garcia, militante do PSTU que coordenou o ato do Rio de Janeiro.

As jornadas do dia foram parte do calendário de lutas aprovado no encontro, que também indica a realização de um grande ato em Brasília, no segundo semestre. Dirceu Travesso, do Movimento Nacional de Oposição Bancária, ligado à Conlutas, ressaltou no ato em São Paulo que “as jornadas do dia 23 indicam a possibilidade real de derrotar esses ataques aos nossos direitos. Este dia de luta não pode parar aqui, tem de continuar”.

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