Jean Anil Louis-Juste

Neste dia 12 de março, o terremoto que devastou o Haiti completa doia meses. Um dia antes, o ativista Jean Anil Louis-Juste foi assassinado. Nesta sexta, trabalhadores haitianos farão uma jornada em homenagem a JanilA classe dominante, inteligente,
Sabendo-se em princípio minoria
Procura controlar as regras do jogo
A sua posição de classe é o que vale
Fará o impossível, arrasará…
Eliminará até fetos na placenta
Se necessário
(…)
(Mas) lutaremos até o fim
Até a nossa plena libertação
(…)

Manno Chalmay
Cantor popular haitiano

Sem dúvida é muito curioso. Mas a melhor fórmula capaz de resumir o Jean Anil Louis-Juste, tirei na leitura de um texto bíblico: salmo 92. Trata-se da imagem da palmeira e das ervas. Foi a leitura deste texto que me ajudou a entender porque Janil sempre foi alvo de ataques de todo tipo por parte das classes dominantes haitianas até que assassinaram-no. Foi este texto que também me ajudou a entender por que não se encontra um Janil a cada esquina das ruas de Porto Príncipe. É que Janil foi uma palmeira em meio de uma multidão de ervas.

Honestidade, moralidade… não se encontra em qualquer canto. Do mesmo modo que palmeira não se ergue à beira de caminho. Mas, aonde quer que se erga, a palmeira é sempre visível. Não se multiplica muito, mas se ergue reta. E resiste a vento, furacão… deslizamento. Embora que possa cair, não deixa de permanecer reta. Assim, entendi que Janil é e sempre será uma palmeira.

Não vou apresentar o Janil. Por uma razão simples: Janil mesmo nunca gostou de se apresentar. A única coisa que sempre teve importância aos olhos do Janil era sua luta pela transformação das condições de vida da esmagadora maioria das classes populares haitianas. Era sua luta contra o sistema capitalista que condena a maioria da humanidade a viver como se já fosse morta. Por isso é que a minoria poderosa que controla as riquezas do Haiti explorando a esmagadora maioria, sempre identifica no Janil um alvo a ser eliminado. E como diz a letra da canção em cima, não há nada que a classe dominante não faria para defender os seus interesses.

Desde a madrugada da sua vida, Janil estava certa de uma coisa: o verdadeiro se estabelece na luta contra o falso. Pois “só a verdade é revolucionária” (Gramsci). Por isso, Janil nunca se cansou de denunciar as mentiras que sustentam a indústria da desumanização da vida do povo negro haitiano. Esse compromisso o levou a desenvolver pesquisas em cima das estratégias pelas quais se neutraliza a capacidade de resistência do povo haitiano. Assim identificou o famoso “desenvolvimento comunitário”, introduzido no Haiti em 1948 pelas Nações Unidas, logo depois de terem criado as ONGs.

Hoje, estudando a bibliografia disponível no Haiti, não faz dúvida que Janil é o primeiro a ter denunciado a tarefa alienante conferida às ONGs desde 1948. Sem, porém, esquecer-se de outra canção popular do mesmo Manno Chalmay cuja letra deixara claro que: “As organizações internacionais não são nossas; têm como papel ajudar os ladrões a saquear e engolir tudo que é nosso”. Quando se observa a facilidade pela qual as ONGs se multiplicam como ervas no Haiti, compreende-se o porquê que a palmeira Janil sempre representava uma ameaça. Não foi por acaso que a dona da maior ONG cultural do país, logo que foi nomeada Primeiro-Ministro, não se incomodou a utilizar o seu poder para perseguir Janil. Chegou até pressionar a reitoria da Universidade para demitir o Janil. Pois ele era conhecido como uma das principais figurais das lutas em prol do reajuste do salário operário durante o ano 2009.

Denunciar a obra de alienação das ONGs pelas quais o Haiti se transforma em um paraíso, levou Janil a desenvolver uma tese de doutorado. A essas organizações, braços ideológicos e executivos do capital, que costumam se autoproclamar “Comunidade Internacional”, o Janil deu o nome de “INTERNACIONAL COMUNITÁRIA”. Pois descobriu que o seu verdadeiro papel nos países do Terceiro Mundo é usar da “solidariedade de espetáculo” para melhor defender os interesses do capital, impedindo esses povos a se comprometerem com as lutas da Internacional Comunista.

Só o compromisso com a verdade pode levá-lo a tal descoberta. Esse compromisso é também nosso. E contra ventos e marés, o levaremos até a vitória. Por isso é que preferimos falar no Janil no presente. Pois, o corpo dele está morto, mas a obra dele continua viva. E nossa homenagem a ele é lutar até o triunfo da verdade, até a destruição da ordem sócio-metabólica do capital e o estabelecimento da ordem socialista. É para levar a luta pela frente que organizamos a jornada do dia 12 de março em homenagem ao JANIL SEMPRE PRESENTE!

*Franck Séguy é haitiano e vive no Brasil. Ele é militante da Asosyasyon Inivèsitè ak Inivèsitèz Desalinyèn (Asid) do Haiti, mesma organização da qual fazia parte Jean Anil

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