Foto Felipe Beltrame
Priscila Lírios

Priscila Lírios

Por volta das 11h da manhã deste domingo, 21, mais um episódio apavorou os moradores Guarani da região noroeste de São Paulo, no bairro do Jaraguá. A possível queda de um balão no restante de Mata Atlântica que ainda se preserva devido à forte luta dos Guarani, deixou quilômetros de rastros de fogo no meio da mata próxima ao Parque Pico do Jaraguá e ameaçando todo território indígena que fica ao lado do parque.

Foram 14 horas de combate com os xondaros (guerreiros) dos Territórios Indígenas do Jaraguá para derrotar o fogo e superar a omissão do corpo de bombeiros. Foram horas de pedido de socorro e de apelo por transmissões ao vivo nas redes sociais, para que colaboradores e amigos pudessem, conjuntamente com os Guarani, ligar para os bombeiros e defesa civil a fim de pressionar a ação destes que pouco ou nada ajudaram, como relatado pelo guardião da florestas, Guarani Thiago.

A preocupação da ação das autoridades restringiu-se a garantir que o fogo não chegasse próximo às antenas do Pico do Jaraguá, uma vez que a pouca atuação foi exclusivamente naquela área segundo Thiago Guarani, que combateu o fogo com 3 facões e alguns galhos juntamente com outros xondaros.

Segundo relato, um dos membros do corpo de bombeiros que se recusaram a entrar na mata para conter o incêndio, chegou a dizer que “entrar na mata não é coisa pra ‘gente’ não, deixa pra vocês que são índio e entende” .

Breve histórico de incêndios

A aldeia Tekoa Itakupe, combinada as outras cinco aldeias pertencentes à T.I Jaraguá, sofre com as queimadas combinadas ao descaso dos governos há anos. Só no ano passado houve alguns registros na região que colocaram a vida dos Guarani em risco, assim como das populações que moram aos arredores do parque e da T.I Jaraguá. 

Em abril e maio de 2019, segundo o site Diário Jaraguá, houve dois registros de incêndios no local. As causas não apuradas recaem sobre os problemas climáticos de muita seca que a cidade de São Paulo vem enfrentando, o que acende um alerta vermelho para que nos preocupemos com as vidas que ali habitam, conjuntamente com os problemas que enfrentamos com a Secretaria do Meio Ambiente da cidade, que não cumpre as leis de segurança ambiental como foi e ainda é o caso da construtora Tenda na região que segue sendo uma ameaça ao modo de vida e existência dos Guarani, assim como todo o restante da população paulistana que dependemda Mata Atlântica para melhor qualidade de vida.

No mesmo ano de 2019, no mês de agosto, houve outro incêndio na região, precisamente na Tekoa Pyau onde a falta de manutenção das redes elétricas ocasionou um incêndio que levou 4 famílias a perderem sua casa e seus pertences. Já no mês de novembro de 2019, segundo o jornal Estado de S. Paulo, outro incêndio foi registrado na região do Pico do Jaraguá comprometendo a Tekoa Itakupe. Só na cidade de São Paulo já são 35% a menos hectares de mata comparado ao ano anterior de 2018 pelas queimadas na cidade de São Paulo.  Quando o Estado não cumpre seu papel podemos concluir que os incêndios são parte de um plano de extermínio e, portanto, criminoso. 

Auto-organização: defender a vida com as próprias mãos

As chamas que queimaram o território indígena do Jaraguá fazem parte de tantos incêndios que a população Guarani está submetida na política de ódio da Casa Grande racista de Dória, Covas e Bolsonaro

Neste domingo o fogo só pôde ser parado através das ações dos indígenas, que combateram as chamas por várias horas sem o apoio necessário dos bombeiros. O governo mais uma vez prova seu descaso com a preservação ambiental e com as vidas indígenas, que ainda sofrem com as consequências do incêndio, o mesmo governo que não mediu esforços para reprimir os indígenas para que o território a poucos metros da T.I Jaraguá  fosse entregue para a Tenda. O recado é simples e direto: o compromisso desse governo é com o lucro dos patrões e dos ricos.

Os indígenas, que se organizaram por conta própria, mostram o caminho e provam mais uma vez que só a partir dessa organização é possível resolver os nossos problemas. É necessário que o conjunto da classe trabalhadora denuncie os governos e se solidarize e apoie os indígenas da T.I. Jaraguá. Só a nossa auto-organização e nossa luta é capaz de resolver os nossos problemas.

Solidariedade de classe

O incêndio de domingo comprometeu o fornecimento de água para os territórios indígenas queimando mangueiras e os canos de fornecimento de água. É preciso cercar de solidariedade as aldeias do Jaraguá, tanto através de galões de água, como ajudando financeiramente na conta a seguir:

Banco do Brasil
Agência 0297-6
Conta Corrente: 074870-6
Geni Vidal
CPF 344.089.178-00