Publicamos, abaixo, a entrevista concedida pelo sociólogo norte-americano James Petras para Efraín Chury Iribarne, da “Radio Centenário” do Uruguai, no dia 26 de março de 2007. Petras questiona a atuação dos Democratas nos Estados Unidos – supostamente contrários à guerra – e fala sobre o atual conflito com o Irã.

EFRAÍN CHURY IRIBARNE: Queria colocar a você primeiro a situação do Irã; as Nações Unidas sobre o tema da energia nuclear; 15 marinheiros britânicos detidos. O que acontece? Pode haver antecipação de uma intervenção dos Estados Unidos na região?
PETRAS:
Bem, estão utilizando dois caminhos ao mesmo tempo. Um são as sanções econômicas, utilizando o instrumento do Conselho Nacional de Segurança daquilo que chamam as Nações Unidas, e, por outro lado, há tempos que estão tratando de provocar um conflito como pretexto para utilizar a outra rota, a militar.

Agora, sabemos dos antecedentes, que os Estados Unidos capturaram meia dúzia de funcionários iranianos que trabalham num consulado no Iraque e, desde janeiro, eles estão encarcerados. Existem comandos norte-americanos que operam no Irã, há financiamento aos curdos nas fronteiras, tratando de criar incidentes, há assassinatos e outras operações e, também, temos a última provocação do barco inglês, que entrou nas águas do Irã.

A partir disso, estão fazendo duas coisas: primeiro, a provocação e, segundo, tentando ver até que ponto podem provocar uma reação por parte do Irã e ver sua capacidade de intervir próximo às fronteiras do país. Isso é uma coisa que fizeram em muitos outros lugares quando há um conflito: provocam atritos na fronteira de um país para testar o que pode fazer esse país, que capacidade ele tem. Mas, neste caso, creio que as duas medidas – as sanções econômicas e, agora, a provocação militar – endureceram a linha no Irã e fortaleceram a idéia de defender-se a todo custo.

A resposta do Irã é que agora limita o papel da agência de segurança da ONU, que estava utilizando suas visitas mais para recolher informações sobre as bases nucleares do Irã do que para buscar armas de destruição em massa, e fazem isso a serviço de metas militares. Agora, com esta ação militar, a situação com a Inglaterra está criando um ambiente de escalada de conflito e creio que isso poderia levar a respostas militares.

Tem de se entender que os Estados Unidos não avançaram nas últimas semanas e meses na guerra do Iraque. Ontem, perderam cinco soldados num atentado e outros mais ficaram feridos, porque a resistência segue atacando a polícia e os militares em todas as partes do país.

Ao mesmo tempo – e quero enfatizar isso – os sionistas causaram um enorme dano ao movimento de paz influenciando o Partido Democrata para que aceite que Bush tenha autoridade para declarar guerra sem consultar o Congresso. Essa é uma medida de alta prioridade que tinham os sionistas: que o Partido Democrata deixe Bush com as mãos livres para tomar uma medida bélica contra o Irã. Foi uma capitulação horrível das lideranças do Partido Democrata frente às pressões dos sionistas que estão em plena atividade para uma confrontação militar, neste país em que vivemos.

Os Demócratas criticam o que em Bush? Que fazem contra a guerra do Iraque e o que eles têm conseguido?
PETRAS:
Existem várias coisas. Primeiro, criticam o fato que todo mundo sabe, de que o governo mente e que a razão para a invasão era mentira. Alguns fizeram uma autocrítica de que se arrependeram de votar a favor dos poderes de Bush para fazer a guerra, mas outros, como Hillary Clinton e outros, disseram que não têm nenhum problema terem votado a favor.

E, segundo, a condução da guerra é ruim. A forma como se lançaram as tropas, a forma da ocupção, o uso de torturas e o transporte de presos a países que utilizam tortura nos interrogatórios. Toda uma série de críticas secundárias. Agora, sobre as críticas recentes, primeiro, votaram a favor das apropriações para a guerra, com uma estimativa que em 18 meses os EUA deveriam começar a retirar as tropas, mas essa medida de 18 meses poderia mudar no meio do caminho, dependendo de como se encaminharia a guerra, ou seja, poderia estender-se por mais 18 meses.

Então, primeiro, o mais importante é que votaram um adicional de 105 bilhões de dólares para a guerra e quero dizer que essa soma é cinco bilhões a mais do que pediu Bush, e os democratas aumentaram-na para a guerra. E, mais além, esta meta de 18 meses pode sofrer um veto de Bush e, então, o Congresso tem de voltar a negociar sobre as cláusulas e isso também é indeterminado, não sabemos que concessões podem fazer os Democratas, porque aumentar o orçamento e depois falar de retirada das tropas é muito contraditório. O aumento do orçamento implica em poder aumentar o número de tropas que estão em marcha ao Iraque e as cifras previstas são de um adicional de 30 mil soldados que partirão neste ano, quando os Democratas têm maioria no Congresso.

Petras, passo para outro tema. Que conseqüências pode ter o aumento de cinco dólares no preço do petróleo verificado ultimamente?
PETRAS:
É o preço político por esta escalada de provocações. Muito do preço do petróleo não está vinculado diretamente com a oferta e demanda atual. Este aumento é um preço referencial para o futuro com relação à situação político-militar do Irã. Os diretores dos fundos de inversão estão muito assustados ou, pelo menos, estão se preparando para o caso de que a provocação inglesa tenha conseqüências maiores. Eu acredito que o preço vai subir mais em função da resposta norte-americana frente à captura das tropas inglesas. Não estou avisando aos especuladores do Uruguai sobre como ganhar dinheiro. Porém, dado que a situação é cada dia mais explosiva com as sanções e as provocações, é inevitável que o preço suba mais.

Hoje é o julgamento de Simón Trinidad [guerrilheiro colombiano das Farc] nos Estados Unidos. O que se pode adiantar a respeito da audiência para a América do Sul?
PETRAS:
Existem duas coisas que são chave: primeiro, que Simón Trinidad ganhou o primeiro julgamento, em que o júri rechaçou a acusação impelida pela Casa Branca de que ele era terrorista e seqüestrador. Agora, vão tratar de vinculá-lo ao narcotráfico, porque o caso anterior estava vinculado a seqüestros e, como não puderam provar com nenhum testemunho acreditável, tratarão de implicá-lo nas atividades acusatórias contra as Farc, de que está envolvido com o tráfico de drogas.

Em segundo lugar, o juiz é muito desfavorável a Trinidad. Apesar de todos seus esforços em prejudicar Trinidad, Simón ganhou o julgamento contra o juiz, contra o procurador e contra os meios de comunicação de massas. Bem, agora eu acredito que a carta forte é que Simón Trinidad faça sua própria defesa e isso é muito importante, porque é muito eloqüente, conhece os fatos e sabe apresentá-los.

Depende, no julgamento atual, de o juiz permitir a Simón Trinidad citar os últimos acontecimentos que vinculam muitos congressistas aos esquadrões da morte e aos narcotraficantes envolvidos nos esquadrões da morte e vincula os militares do governo de Uribe e os senadores com os narcotraficantes. Vai causar muitos danos às testemunhas colombianas que vêm falar contra Simon. Se ele puder, se lhe permitirem mostrar o contexto mais geral sobre o narcotráfico, a relação Uribe-esquadrões da morte-narcotraficantes, eu creio que outra vez poderá ganhar o julgamento. Mas muito depende das atitudes do juiz. Se excluir o contexto relevante, vai ser mais difícil.

Petras, por último: Los Angeles Times acusa o general do exército colombiano, Mario Montoya, de vínculos com os paramilitares colombianos. Diz-se, além disso, que a CIA tentou censurar o artigo do Times. Isso é verdade, se pode comprovar?
PETRAS:
É sabido pelos testemunhos dos chefes dos esquadrões da morte, inclusive pelo chefe maior, Mancuso, que Montoya estava fazendo um pacto com os traficantes e os esquadrões da morte. Que ele tenha relações com Montoya é provável, porque quando um chefe trata com um general, o testemunho pode ser verificado pela atitude que teve Montoya nas regiões onde atuava Mancuso. Então, acredito que as provas são mais fortes do que os acusados agora dizem.