Stroessner (à esquerda) desfila em Madri, em 1973, com o ditador Franco

Morreu na manhã do dia 16 de agosto, em Brasília, o ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner. Exilado no Brasil desde 1989, Stroessner comandou uma sanguinária ditadura no país vizinho que durou 34 anos (1954-1989). O ditador obteve asilo após ser derrubado por um golpe militar perpetrado por seu próprio genro.

O asilo concedido pelo Brasil impediu que Stroessner fosse julgado por seus crimes no Paraguai. Calcula-se que, sob seu regime, pelo menos 15 mil opositores tenham sido assassinados. Além disso, sua ditadura pôs em prática, junto com os governos de Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, a chamada Operação Condor, entre as décadas de 70 e 80. A operação articulada era responsável pela perseguição, tortura e assassinato de militantes de esquerda.

Genuína ditadura paraguaia
Stroessner era considerado um político próximo do governo brasileiro, seja na ditadura ou na “redemocratização” dos anos 80. O ex-ditador freqüentou a Escola de Alto Comando do Exército no Rio de Janeiro, tendo aulas com o futuro ditador do Brasil, General Geisel, antes de chegar ao poder.

O ditador ascendeu ao poder após depor o então presidente Dr. Federico Chaves, em maio de 1954. Oficialmente declarado como uma medida contra a corrupção generalizada do governo Chaves, o movimento golpista tinha, na verdade, o objetivo de impedir o alinhamento do Paraguai com Buenos Aires. Desta forma, Stroessner impediu a integração do país com a Argentina, mas o submeteu aos interesses do Brasil.

Nos anos mais intensos da guerra fria, o país se alinhou aos EUA, que, ao contrário do que ocorreu em outros países, não teve sequer o trabalho de articular e promover um golpe, mas tão somente fortaleceu a ditadura que já estava instaurada. Sua corrupta ditadura converteu o alto comando do exército paraguaio numa verdadeira fábrica de novos ricos, com coronéis e generais dirigindo negócios ilegais, como contrabando.

Durante as décadas em que esteve no poder, Stroessner e sua família acumularam uma espantosa riqueza. Dirigindo negócios em inúmeros setores da economia, de bancos, empresas de construção, agronegócios até casas de jogos, no Paraguai e no exterior, a família do ditador acumulou algo próximo de 4 bilhões de dólares, constituindo uma das maiores fortunas da América Latina.

A notícia da morte do ex-ditador foi recebida com alegria pela população paraguaia. O bispo de San Juan Bautista, Monsenhor Mario Melanio Media, chegou a declarar o seguinte à imprensa do país: “Nada de resignação cristã: o mundo está contente com a morte do sanguinário ditador”. Segundo o religioso, a ditadura matou famílias inteiras de sua paróquia. “Ele foi terrorista. Foi uma pessoa que mandou matar muitos paraguaios. Exilou compatriotas e muitos morreram longe de sua pátria. Aqui não cabe outro qualificativo: a Stroessner se deve chamar por seu nome”, reforçou.

Brasil: refúgio de ditadores
A morte de Stroessner, apesar de ser boa notícia, revela uma outra não tão boa. O Brasil há tempos se tornou num verdadeiro refúgio de ditadores e assassinos estrangeiros. Josef Mengele, médico nazista responsável por inúmeras mortes em experiências macabras e na câmara de gás durante o regime de Hitler, viveu no país por 19 anos. Mais recentemente, o ex-presidente equatoriano, Lúcio Gutierrez, exilou-se no Brasil após ter seu governo neoliberal derrubado pelo movimento de massas que o ajudou a eleger.

Ao mesmo tempo, o governo Lula ainda não abriu os arquivos da ditadura, deixando os nossos assassinos impunes por seus crimes durante os anos de chumbo. Stroessner já vai tarde. Porém, ainda restam muitos ditadores como ele por aí.

  • Veja Stroessner na galeria de ditadores latino-americanos amigos dos EUA, com ilustrações de Bill Sienkiewicz (em inglês)
  • Um poema para Stroessner