Para muitos, o carnaval do Rio se resume aos desfiles no sambódromo onde se realiza um show para TV e turistas estrangeiros. Hoje, as grandes escolas servem basicamente ao grande mercado do turismo. Até os enredos são escolhidos a partir de patrocinadores. A integração latina cantada pela Vila Isabel campeã de 2006 não é só fruto da imaginação de um artista, mas uma demanda do governo Venezuelano que patrocinou a escola. Esse excesso de “profissionalismo” que aumentou o custo e afastou o povo da avenida parece não ter fim.

Como tudo é dialético, porém, a escola de samba não é só isso. Na escola de samba há a comunidade que se vê representada e se expressa, mesmo que com limitações, na sua escola do coração. Hoje, a maioria que desfila ganha sua fantasia e freqüenta a escola o ano inteiro. É na escola de samba que o menino pobre pode mostrar sua ginga como passista e sua habilidade na bateria.

A quadra da escola é um centro cultural permanente. É na escola de samba que a poesia popular tem vazão nas letras dos sambas de enredo ou de exaltação. É a comunidade que garante o chão da escola e o show do carnaval.

Hoje, a maioria das pessoas que desfilam em escolas de samba ganha sua fantasia. Escolas, como por exemplo, a Beija-Flor de Nilópolis que terá cerca de 4000 componentes destina mais de 2500 fantasias gratuitas para a comunidade. Em escolas menores, que desfilam nos grupos de acesso, chega a 100% o número de fantasias da comunidade. Apesar disso, entretanto, a maioria do povo segue longe do sambódromo.

Mas o carnaval não é só isso
Confete, serpentina, boa música, gente bonita e muita alegria compõem o carnaval de rua no Rio de Janeiro. Todo mês de fevereiro, milhares de pessoas invadem as ruas da cidade atrás dos blocos carnavalescos, mostrando ao mundo sua irreverência.

O carnaval de rua carioca reconquistou seu lugar e hoje são mais de 300 blocos espalhados por toda cidade. Blocos como Cacique de Ramos, que funciona o ano inteiro com sua roda de samba e já revelou grupos como Fundo de Quintal, são uma das principais atrações da avenida Rio Branco. Todas as noites do carnaval, junto com o Bafo da Onça, que tem 50 anos de desfile, demonstram que o carnaval está mais forte que nunca.

Tem bloco pra todo gosto: grandes ou pequenos, tradicionais ou novatos, que cantam marchinhas conhecidas ou com samba próprio, que fazem sátiras políticas ou de nomes com duplo sentido, que concentram, mas não saem, que percorrem as ruas arrastando o povo e, o melhor de tudo, de graça, para garantir a alegria do folião. Aqui não tem cordas separando o povo do bloco nem regras para se divertir. Pode brincar o fantasiado e o sem fantasia, e o melhor é que a estrela desse carnaval é o folião anônimo com sua empolgação.

Esse é o mais forte fenômeno de resistência popular no Rio de Janeiro.

O samba não é carioca só no carnaval
Nesse momento, há uma revitalização do samba como cultura de massas. Durante muito tempo, o samba só era lembrado no carnaval, e o rock, o axé e outros gêneros musicais dominavam as atenções da população o ano inteiro.

Há algum tempo, contudo, isso vem mudando. Durante todo o ano, o samba se faz presente na vida do carioca, de blocos e grupos de samba que tocam na rua, passando pelos eventos nas quadras até as rádios especializadas no gênero musical como a muito não se via. Exemplos desse fenômeno são os shows das Velhas-Guardas das escolas de samba que voltam a ser veneradas, as feijoadas nas quadras das escolas, os ensaios de blocos – como os Embaixadores da Folia e os Escravos da Mauá – que reúnem milhares de pessoas em qualquer época do ano e as dezenas de casas noturnas especializadas em samba.

Por isso, o carnaval do Rio pede passagem, convidando a todos para sacudir essa cidade. Viva Zé Pereira!

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