Leia a nota do PSTU de Itajubá sobre o crescimento econômico e industrialItajubá e região passam por um processo de crescimento industrial que se baseia na reestruturação e expansão das empresas já instaladas e também na instalação de novas empresas. Todo esse processo é reflexo da política do imperialismo e do capital financeiro que tem investido nos países emergentes pela rentabilidade que proporcionam devido à alta produção com baixos custos e também pelo papel que cumprem na divisão internacional do trabalho. Além disso, o crescimento da economia brasileira tem possibilitado que as empresas façam novos investimentos.

A localização próxima aos grandes centros; a facilidade de escoamento da produção através das rodovias; por estar situada em uma região onde se concentram empresas de determinados ramos como: bélico, aeroespacial e automotivo; os incentivos fiscais e financeiros das prefeituras e dos governos, estadual e federal; o baixo custo de mão de obra; mão de obra qualificada; entre outros fatores, tornam a região bastante atrativa para as empresas.

Os investimentos para preparar a vinda de novas empresas caminham de vento em popa. Para a construção do Parque Tecnológico de Itajubá (ParCTec) serão destinados R$ 26 milhões só para a primeira fase. Já foram investidos mais de R$ 8 milhões e o Governo de Minas no total deverá investir R$ 10 milhões (no total, o governo está investindo 50 milhões em ParCtec’s no estado). O parque vai abrigar várias empresas de cunho tecnológico.

A prefeitura também está buscando investimentos para a implementação do projeto da Vila Industrial, que consiste em um projeto urbanístico de 40 lotes numa área de 2.000 m² para abrigar, assim como o ParCTec, novas empresas que em sua maioria estão ligadas à expansão das grandes empresas da região como a Helibrás, que com sua ampliação pode transformar a região num pólo industrial aeroespacial. Existe uma demanda de novas empresas e a cidade não tem atualmente espaços apropriados. Várias empresas já manifestaram o interesse de instalação na vila.

A possibilidade da vinda de novas empresas só vem reforçar a idéia do potencial de crescimento econômico e industrial de Itajubá e região. Mesmo assim, o principal motor do crescimento está se dando através da expansão e da profunda reestruturação das empresas já presentes. A vida de novas empresas, inclusive, está vinculada a esses processos. A Imbel, por exemplo, passa por uma brutal reestruturação institucional, administrativa e técnica. Já a Mahle anunciou um investimento e a geração de novos empregos e vem qualificando mão de obra para suprir a demanda futura de mão-de-obra.

E a expressão máxima desse processo sem dúvidas é a Helibrás, que deve dobrar o número de funcionários efetivos e chegar a aproximadamente 3.000 terceirizados. Efetuar investimentos de R$ 700 milhões para que seja produzido aqui no Brasil até 50% da maior parte dos 50 helicópteros vendidos ao governo brasileiro por aproximadamente R$ 5,2 bilhões. E ainda temos as empresas menores que são fornecedoras e vem acompanhando o crescimento das grandes, e também estão ampliando as suas instalações para poder incorporar processos que as grandes empresas estão deixando de executar, como por exemplo, a Mahle que está começando a terceirizar os serviços da sua ferramentaria.

Essa dinâmica de crescimento deve seguir caso o Brasil continue crescendo, embora seja importante deixar claro que a situação econômica mundial e brasileira têm influência direta nesse processo, e a dinâmica da crise econômica pode desencadear em diversas possibilidades distintas.

Se a crise econômica se aprofundar, algumas empresas podem ser levadas por ela. Outras, porém, tem mais possibilidades de sobrevivência, como é o caso da Imbel e Helibrás, pois seus investimentos vêm diretamente do governo. Tais empresas têm possibilidades, mas nada está garantido, pois dependerá da situação do Brasil nessa conjuntura, assim como a disposição do governo em manter os planos e os atuais contratos.

Mesmo que a situação econômica permaneça como está, esse processo de expansão industrial terá conseqüência duras para os trabalhadores, pois as matrizes da maior parte dessas empresas dependem dos seus lucros ou para sair da crise ou para enfrentá-la melhor. A Eurocopter (dona da maior parte das ações da Helibrás), por exemplo, ainda sofre as conseqüências da crise de 2009. Foi para salvá-la que Sarkozy buscou o apoio subserviente de Lula, que prontamente o atendeu e agora Dilma irá usar dinheiro dos trabalhadores brasileiros para pagar a fatura na compra dos helicópteros da Helibrás, por um valor que daria para comprar a empresa ou produzir a tecnologia empregada.

A quem serve o crescimento?
As empresas e a prefeitura têm feito grandes propagandas sobre o crescimento da cidade, e tem dito aos quatro cantos que este crescimento trará inúmeros benefícios para a população, e boa parte dos trabalhadores acredita que realmente serão beneficiados.

Nós do PSTU queremos dialogar com os trabalhadores mostrando que a realidade é bem diferente do conto de fadas contado pela prefeitura e pelas empresas. Não há dúvida de que a cidade irá crescer e que irá aumentar a oferta de empregos. Mas a que custo? Quais os benefícios para os trabalhadores? Quais as conseqüências desse crescimento para os trabalhadores? Quem irá sair ganhando?

Quando se pensa em crescimento econômico é comum esperar que se tenham melhorias na vida dos trabalhadores. Só que há muito tempo a realidade não é bem assim. A época em que isso acontecia está num passado distante, devido à tendência de queda da taxa de lucro das empresas e mais recentemente o estouro da crise econômica mundial. Com isso, a expansão das empresas tem se dado combinado com baixos salários e tentativas de ataques aos direitos dos trabalhadores, inclusive nos grandes centros como na Europa, que antes os trabalhadores gozavam do estado de bem estar social, e hoje estão sofrendo com tentativas de ataques brutais aos seus direitos e sua qualidade de vida.

A principal política das multinacionais tem sido transferir suas plantas para países com mão de obra barata e baixo custo de produção. Por isso, o crescimento dos investimentos em países como China, Índia e no Brasil.

Em Itajubá a tendência é que esse crescimento industrial apesar de desenvolver a economia da região e gerar novos empregos, trará consigo empregos precarizados, ritmo intenso de trabalho, jornada extensiva e ataques aos direitos trabalhistas. E os ataques já começaram e já podem ser observados.

Na Imbel está ocorrendo várias demissões como parte do processo de reestruturação, os trabalhadores têm baixos salários, situação que não condiz com a postura de uma estatal e de um ramo que exige bastante segurança de informações. E dentro disso o papel que cumpre o Governo Dilma ao anunciar uma política de ajuste fiscal que tem sua expressão máxima nos ataque aos direitos dos trabalhadores e o arrocho salarial, o que dificultaria a implementação do PCS (Plano de Cargos e Salários), ou na aprovação de um plano que contemple as exigências dos trabalhadores.

A Helibrás é o local em que teremos uma grande expansão, e por isso queremos alertar aos trabalhadores sobre quais serão as verdadeiras conseqüências dessa expansão, bem diferente do que a empresa vem dizendo. A empresa já pretende criar um novo turno com aumento de ritmo de trabalho e das horas extras. Os trabalhadores já estão trabalhando de domingo a domingo sem parar, e devemos ter pela frente uma redução dos salários dos novos contratados, e uma quantidade de trabalhadores terceirizados cinco vezes maior que os efetivos, dentre outros ataques. A tendência é que a situação seja semelhante ao que aconteceu na Embraer em São José dos Campos (SP).

A Mahle é a maior empresa da região e, em relação às condições de trabalho, é uma das piores, com jornadas de trabalho extensivas, chegando a jornadas de domingo a domingo, com baixos salários que faz com que os funcionários se sujeitem a horas extras cotidianas para complementá-lo. Com a expansão, com certeza novas propostas de ataques virão como a proposta de mudança para turnos tipo, 6×1, 6×2 e 6×3, e tendo como justificativa a necessidade de se adaptar às novas mudanças, condicionando os investimentos de R$ 23 milhões e a geração de 150 novos empregos a essas mudanças, e pressionando os trabalhadores com a qualificação de mão de obra de desempregados.

Além disso, para além das fábricas já podemos sentir no dia-dia os prejuízos, pois esta expansão tem gerado um inchaço na cidade, que não tem atualmente estrutura e nem condições para acompanhar o seu crescimento. Isso porque, a prefeitura prioriza a utilização da sua verba para isenções fiscais às empresas e segue a risca a Lei de Responsabilidade Fiscal, enquanto a saúde sofre com a falta de leitos públicos, de médicos, materiais e de remédios, além de contar com funcionários trabalhando em condições precárias, em uma estrutura privada em sua maioria. A educação vem piorando cada vez mais com prédios mal conservados falta de vagas e de professores.

O trânsito é um caos e já tem constantes engarrafamentos. O transporte é muito ruim, com poucas linhas e poucos ônibus, fazendo com que a espera chegue a cerca de 40 minutos no mínimo na maior parte das linhas e ainda custa muito caro (R$ 2,20). Enquanto as empresas têm isenção de IPTU e terrenos doados pela prefeitura, o déficit habitacional cresce e já chega a aproximadamente 4.000 moradias, sem contar no alto valor dos alugueis, o que tem levado ao surgimento de favelas e de construção de casas em locais de risco. O saneamento básico é precário com problemas em vários bairros e basta chover para que diversas ruas alaguem como aconteceu no inicio do ano trazendo inúmeros prejuízos para população. A violência tem crescido cada vez mais na cidade, crimes antes incomuns tem se tornado cada vez mais freqüentes e o tráfico de drogas não para de crescer.

E a tendência é que a situação piore ainda mais por conta do crescimento populacional impulsionado pelo desenvolvimento econômico e industrial. O crescimento populacional gerado pela oferta de emprego acaba por gerar uma mão de obra superior ao ofertado pelas empresas, causando assim um aumento do percentual de desemprego. Gera também uma queda na qualidade de vida, pois traz consigo aumento dos preços dos alimentos e serviços, problemas com saúde, educação, transporte, moradia e aumento da violência, isso porque, a riqueza produzida não é revertida em benefícios para os trabalhadores e em investimentos sociais, pois vão parar nas matrizes das multinacionais.

Por todos estes motivos, achamos que quem irá sair ganhando com esse crescimento são as empresas que terão seus lucros aumentados, enquanto que os trabalhadores que produziram toda riqueza irão ver suas vidas ficarem cada vez pior.

O que devemos fazer?
Nós trabalhadores não podemos aceitar esses ataques, pelo contrário, temos que lutar pela melhoria das nossas condições de trabalho e de vida, ainda mais quando sabemos que estamos produzindo cada vez mais riquezas e ficando com uma fatia cada vez menor desta riqueza.

Por isso, temos que nos organizar, nos sindicatos, nas associações de bairros e onde for possível para debatermos essa situação e nos prepararmos para defendermos os nossos direitos e lutarmos pela melhoria de nossas vidas.

É preciso exigir da prefeitura que deixe de obedecer a Lei de Responsabilidade Fiscal, que faz com que a prefeitura deixe de investir nas áreas sociais para pagar os juros da dívida pública. Junto com isso, que se deixe de dar isenção fiscal às empresas para usar o dinheiro de impostos para aumentar os investimentos em saúde, educação, saneamento básico, cultura, etc.

É preciso que a prefeitura cobre pela utilização dos terrenos pelas empresas em vez de cedê-los, e que esse dinheiro seja revertido para construção de casas populares para acabar com o déficit habitacional.

Temos que resistir aos ataques aos direitos trabalhistas e exigir das empresas a redução da jornada de trabalho para 36 horas, sem redução de salários. Para, desta forma, ter um aumento verdadeiro na oferta de empregos.

Lutar pela estatização da Helibrás e pela criação de uma empresa bélica nacional unificada. Estas são apenas algumas das bandeiras que os trabalhadores de Itajubá, e principalmente os metalúrgicos terão que lutar mo próximo período. Mas temos que ir além e trazer para o nosso cotidiano a luta por uma transformação maior da sociedade, pois com o capitalismo só vemos as nossas vidas piorarem, mostrando que este sistema só visa a riqueza de poucos às custas da pobreza e do sofrimento de muitos.

Quanto mais se desenvolve tecnologias, mais se aumenta o ritmo de trabalho. Quanto mais se produz, mais pessoas passam fome. Quanto mais se desenvolve a economia, mais a vida dos trabalhadores piora. Por isso, é preciso desde já discutir e colocar na ordem do dia a derrubada do capitalismo e construção do socialismo, pois só quando os trabalhadores perceberem que são maioria e tomarem o poder para si é que se poderá colocar toda a riqueza e todo o desenvolvimento a serviço de todos e não de um punhado de privilegiados e assim melhorar de fato as nossas vidas.

Tudo isso, parece muito difícil e um horizonte distante, mais se levarmos em consideração a miséria que vive a maior parte da população e o exemplo como o do Egito percebemos que temos condições e força para mudar toda essa situação.