Para evitar grandes manifestações e novos ataques aos soldados americanos, o governo Bush, na calada da noite, repassou o controle do Iraque, dele para ele mesmo`IyadMarcada inicialmente para 30 de junho, a “transferência da soberania” do governo provisório iraquiano foi antecipada para o dia 28 pelo governo Bush. O Iraque já não é governado pelo americano Paul Bremer, e sim pelo novo governo fantoche do agente da CIA Iyad Allawi.

Mas nenhuma medida feita às pressas pela administração Bush pode esconder a derrota da ocupação norte-americana e dos planos do imperialismo para o Oriente Médio. Nestas duas últimas semanas, o governo Bush está diante de dois fatos que tornaram patente a crise da ocupação norte-americana: a queda de sua popularidade nas pesquisas eleitorais e o fato de 54% dos americanos considerarem a guerra um “erro” e afirmarem que os EUA não estão mais seguros depois da ocupação.

Essa notícia, às vésperas das eleições presidenciais, é uma bomba, pois desautoriza o governo diante de sua escalada genocida no Iraque e questiona os planos de recolonização em outros países da região.

Crescimento da resistência

Mas o elemento decisivo para a derrota da ocupação, começando com a perda completa da “legitimidade” da ação, foi o crescimento da resistência no Iraque, expresso tanto nas grandes mobilizações como na crescente ação guerrilheira, nas últimas semanas.

Todos os dias o mundo tem tido notícias das ações de rebeldes iraquianos. O que mais aparece na mídia, no entanto, são os estrangeiros seqüestrados e, posteriormente decapitados, e dezenas de civis morrendo em ataques a bombas. A maioria das ações da resistência tem sido vinculada ao grupo do jordaniano Al-Zarqawi, que estaria ligado à Al-Qaeda.

Sob o pretexto da caça ao terrorista jordaniano, a cidade de Falujah foi bombardeada pela força aérea três vezes no mesmo dia. No momento em que ocorria o bombardeio, a resistência iraquiana, diante das câmaras de TV da agência Reuters, negava que o jordaniano estivesse na cidade.

De acordo com o líder sunita, Abd Al-Hamid Al-Jumali, “o mito de Zarqawi é similar ao das armas de destruição em massa”, ou seja, tem sido utilizado pelos EUA como pretexto para atacar com mais violência a população e manter a ocupação no país. Mas é impossível negar a crise.

Recentemente, o correspondente do Washington Post, Scott Wilson, relatava os combates entre os soldados norte-americanos e a resistência: “Os soldados da primeira divisão de infantaria que estiveram na batalha desta quinta (24 de junho) na cidade de Baqubah, exaustos pelo furioso ritmo de combate e o abrasador sol do verão, não viram nada igual a isto nos três meses que estão aqui”.

O artigo, citando um tenente que esteve em combate, descreve que apesar de contar com o apoio aéreo, a avaliação é de que, “definitivamente (a resistência) está melhor preparada do que estávamos acostumados a ver”.

Rechaço mundial

Além do fortalecimento da resistência e da crise dentro dos EUA, Bush tem sentido na pele o enorme rechaço da população mundial à ocupação. Nem a portas fechadas, dentro de um castelo no interior da Irlanda, ele escapou das manifestações contra a guerra que levantavam cartazes escritos “Stop Bush” (Pare Bush).

Nos dias 28 e 29 de junho, Bush esteve em Istambul (capital turca) para a reunião da OTAN. O presidente americano precisou de 23 mil homens para fazer sua segurança, depois que ocorreram atentados perto do hotel onde se hospedaria. Cerca de 40 mil pessoas se manifestaram contra ele.

Ou seja, o presidente norte-americano está vivendo uma de suas piores crises desde que assumiu a presidência dos EUA. Seu plano de recolonização do Oriente Médio está profundamente abalado após a sucessão de fracassos que vem sofrendo. A França e a Alemanha, que votaram a favor da resolução da ONU, não aceitaram, no último dia 28, o envio de tropas da OTAN para o Iraque para treinar as Forças Armadas iraquianas. Apesar de estarem do lado de Bush na manutenção da ocupação, não querem estar em seu lugar neste momento, tendo que justificar a morte de seus soldados numa guerra insana.

Post author Yuri Fujita, de São Paulo (SP)
Publication Date