Boneco de Tony Blair, em protesto no dia 19 de fevereiro
Foto Indymedia

Após a intensa polarização que marcou a reeleição de Bush, outros responsáveis pelos milhares de mortos no Iraque finalmente estão sendo avaliados. Mesmo com os limites das eleições promovidas pela democracia burguesa, os processos eleitorais em curso na Itália e na Grã-Bretanha têm evidenciado o enorme desgaste de Tony Blair e de Silvio Berlusconi perante a opinião pública de seus países.

Os governos italianos e britânicos estão entre os mais importantes colaboradores de Bush na ocupação do Iraque. Trata-se de uma troca bastante vantajosa e com interesses pouco humanitários ou democráticos. Blair e Berlusconi disponibilizam suas tropas para tentar legitimar a iniciativa do imperialismo americano, dando à ofensiva uma aparência de “coalizão” de inúmeros países. Em troca, Bush oferece algumas migalhas resultantes da bilionária ‘reconstrução’ do Iraque.

Nos dias 3 e 4 de abril, foram realizadas eleições regionais em 13 das 20 províncias da Itália, que contam com cerca de 41 milhões de eleitores (80% da população do país). Por conta da comoção com a morte do papa João Paulo II, os comícios de encerramento da campanha chegaram a ser cancelados. Mesmo tentando não se envolver publicamente, a coalizão de direita liderada por Berlusconi saiu derrotada, perdendo em 9 das 13 regiões onde houve votação. A esquerda vai governar de 13 a 15 das 20 províncias do país. Essas eleições regionais mostram que a reeleição do premiê em 2006 está em risco. Por conta disso, Berlusconi admitiu, em declaração no dia 7, a hipótese de antecipar a eleição legislativa, para outubro.

Os italianos estão insatisfeitos com a política econômica – os indicadores sociais e econômicos do país não andam nada bem -, o que se soma ao desgaste do governo com os últimos episódios envolvendo a participação do país na ocupação do Iraque. O seqüestro da jornalista Giuliana Sgrena e o assassinato de um agente secreto da polícia italiana em território iraquiano foram a gota d’água. Berlusconi viu-se tão pressionado que chegou a anunciar na TV que daria início à retirada de suas tropas (3 mil soldados) em setembro, mas recuou assim que Bush interveio e lembrou ao premiê italiano quem realmente manda.

Enquanto isso, na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro Tony Blair pediu à rainha a dissolução do Parlamento e, em seguida, convocou eleições gerais para 5 de maio. Os trabalhistas estão no poder há oito anos e, nesse período, utilizaram o medo do terrorismo para reprimir a população, discriminar os imigrantes e tentar reviver o neoliberalismo dos conservadores dos tempos de Margaret Tatcher, privatizando serviços públicos e retirando direitos trabalhistas. Apesar disso, a economia interna passa por um bom momento, o que pode ajudar Blair na disputa por em terceiro mandato. Mas, ainda que isso aconteça, não será tão fácil. Importantes jornais como The Guardian, The Times e Financial Times apontam em suas pesquisas estreita vantagem de Blair sobre os conservadores.

Nesse país, a questão do Iraque é ainda mais polêmica que na Itália, uma vez que Blair é o principal aliado dos americanos, seu “cão fiel” desde a invasão. A manipulação operada pelo governo britânico para convencer a população da existência de armas químicas no Iraque gerou dúvidas e abalou a credibilidade de Blair. A revelação de imagens chocantes de torturas por parte de soldados britânicos, os cerca de 80 mortos e a crescente dificuldade para derrotar a resistência iraquiana contribuem enormemente para, no mínimo, colocar em dúvida a reeleição dos trabalhistas. Ainda que Blair esteja tratando apenas de temas internos na campanha, os britânicos não esquecem o genocídio no Iraque.

A pressão da opinião pública já derrotou o ex-líder espanhol José Maria Aznar, que apoiava a guerra preventiva de Bush. Como resposta à sua política belicista, as massas espanholas optaram por eleger Zapatero, e este foi obrigado a retirar as tropas do país que estavam no Iraque. Holanda e Ucrânia também já retiraram seus soldados e a Bulgária está em vias de fazê-lo.

Os trabalhadores europeus não engoliram as mentiras e arbitrariedades dos governos servis ao imperialismo americano. Ao contrário, foram às ruas em expressivas manifestações contra a ocupação que obrigaram os governantes a recuar. Compreendem e repudiam o genocídio nas ruas e nas urnas. Blair e Berlusconi que se cuidem.