Corpos na Rocinha no dia 24. Foto Rocinha em Foco
Redação

Em apenas um final de semana, o Rio de Janeiro assistiu a duas chacinas. Uma delas ocorreu na Rocinha no sábado de manhã, dia 24, e deixou nove mortos. O autor da atrocidade foi a Polícia Militar do Rio de Janeiro, mas especificamente o Batalhão de Choque (BPChoque). A segunda chacina ocorreu na madrugada de segunda-feira, 26, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, e vitimou cinco jovens negros. Os autores: milicianos que atuam na região.

De acordo com moradores da Rocinha, a chacina ocorreu quando policiais do Batalhão de Choque chegaram atirando em um baile funk que acontecia na localidade. Pelos menos três das vítimas não tinham passagens pela polícia.

Um dele era o dançarino Matheus Duarte de Oliveira, 19 anos. Ele era integrante do projeto social Valsa Noite de Encanto, e dançava em festas de debutantes. Na sexta-feira, ele saiu de casa por volta das 19h, e dançou vestido de cadete da Marinha numa festa de 15 anos em São Gonçalo. Na volta, foi para um baile funk, onde foi assassinado.

Mais um negro e favelado nas estatísticas dessa cidade. É muito fácil dizer, sem provar, que o Matheus era bandido. Não era! Ele dançava em troca de um cachê, enquanto não arranjava um emprego fixo. Tinha acabado de tirar a carteira de trabalho. Antes de ser assassinado, tinha se apresentado. Para mostrarmos que ele não era bandido, vamos levar todos os seus colegas do projeto ao sepultamento vestidos a rigor ”, disse um professor de Matheus ao Jornal do Brasil.

A motivação para a chacina pode ser uma represália contra a morte do policial Felipe Santos de Mesquita, morto na semana passada em confronto com traficantes. Na ocasião, um antigo morador da Rocinha, conhecido como Marechal, de 70 anos, também foi assassinado. A suspeita é que ele tenha sido executado pelo tráfico quando tentou ajudar o policial baleado.

Eles (PMs) foram à Rocinha para fazer uma chacina. Agora eu quero respostas do secretário de segurança. Meu filho está aqui. Dezenove anos. Eu o criei com o maior amor do mundo. Foi meu primeiro filho. Quero só que o Estado me dê uma resposta sobre quem matou meu filho”, desabafou o pai de Matheus durante seu enterro.

Na manhã dessa segunda-feira, 26, ocorreu uma nova ação da polícia na Rocinha. A moradora Ana Letícia tentou filmar a agressão de policiais contra um jovem, mas também foi agredida pelos agentes e teve seu celular “confiscado” à força. Na sequencia, Ana Letícia foi algemada e levada para a delegacia.

“Estou toda machucada. Me bateram, bateram nele (jovem também agredido pela PM). Cheguei algemada. Quebraram ainda meu celular. O outro celular, ele (policial) roubou, porque filmei tudo o que fez: o tiro que deu, a agressão com o rapaz… Tudo o que você pode imaginar, eu gravei”, disse a moradora.

Também viralizou na internet um vídeo gravado por uma professora da Rocinha no momento da ação policial. O vídeo mostra os alunos do Ciep Bento Rubião agachados no corredor durante o intenso tiroteio que podem ser ouvidos durante o vídeo. Agitadas, as crianças ficam encostadas nas paredes do corredor.

A segunda chacina, ocorrida em um condomínio do “Minha casa, minha vida” em Itaipuaçu, bairro na orla de Maricá, vitimou cinco jovens com idades entre 16 e 19 anos. Segundo testemunhas, as vítimas estavam na área de convivência do condomínio, quando dois homens teriam chegado num carro e um deles efetuou os disparos. Os jovens não tinham registro criminal. As investigações indicam que o crime foi executado por milicianos que controlam a região.

As duas chacinas ocorridas no Rio durante o final de semana é demonstração cabal do genocídio contra a juventude pobre e negra.  Também evidencia o fracasso e a tragédia da intervenção do Exército promovida pelo governo Temer.

A intervenção federal está longe de resolver o problema da violência. Ao contrário, vai aprofundar e provocar mais mortes para o povo pobre e negro. A Polícia Militar é sustentáculo do atual modelo de segurança pública e das milícias. Serve apenas aos interesses dos grandes capitalistas para manter sua dominação sobre os trabalhadores pobres e assim impedir uma explosão social. Por isso a PM precisa acabar e ser desmilitarizada.

A “guerra contra as drogas” não passa de uma farsa. Nenhum dos jovens assassinados nas duas chacinas são os verdadeiros chefes do tráfico que, aliás, nem moram nas favelas cariocas. São burgueses, banqueiros, megaempresários e setores do alto escalão do poder executivo, legislativo e judiciário. Políticos e funcionários corruptos que enriquecem com o tráfico. Basta lembrar do famoso “helicoca”, o famoso caso do helicóptero da família do senador mineiro Zezé Perrella, amigo de Aécio Neves, apreendido com 445 quilos de pasta base de cocaína. Naquela ocasião só o piloto foi preso.

Para realmente derrotar o tráfico é preciso legalizar as drogas, com a estatização da produção sob controle dos trabalhadores. Assim é possível acabar com esta fonte de lucro da burguesia. Isto não tem nada a ver com apologia com as drogas ou do tráfico. Em todos os lugares em que essa medida foi adotada não houve explosão da violência ou do consumo. São os casos das experiências realizadas em Portugal e no Uruguai, por exemplo, onde houve redução da violência e mesmo do consumo. Quem ficou no prejuízo foram os cartéis de drogas.