Após a nova crise envolvendo a atuação da Petrobras na Bolívia, a burguesia, a grande mídia e a oposição burguesa deram as mãos para exigir medidas de retaliação contra o país vizinho, alegando a defesa dos “interesses nacionais”.

O que surpreendeu, entretanto, foram as declarações de Heloísa Helena, candidata da Frente de Esquerda: “faltou firmeza (…) o presidente tinha a obrigação de, na primeira semana de governo Evo Morales, ir ao seu encontro (…) para discutir todo esse problema e a compensação que seria dada à indústria nacional”.

Achamos que Heloísa comete um equívoco nessa questão. Em primeiro lugar, não são os “interesses nacionais” que estão em jogo na Bolívia, mas sim dos acionistas privados da Petrobras.

Atualmente, a maioria do capital da empresa petroleira está nas mãos de investidores privados, entre eles estrangeiros. O Estado brasileiro tem apenas a maioria do capital votante. Segundo o relatório anual da Petrobras de 2004, mais de 60% do capital social da empresa é privado. A maior parte dos lucros fica com esses investidores e uma boa parcela é remetida ao exterior.

Em segundo lugar, quem deve ter alguma “compensação” não é a Petrobras, mas sim o povo boliviano, que teve suas riquezas saqueadas pelas multinacionais.

A Petrobras é a principal petroleira em atividade na Bolívia, representando 15% do PIB do país. Ela atua como uma multinacional, explorando as riquezas bolivianas e ganhando lucros fabulosos para seus acionistas. Nas manifestações pela nacionalização dos hidrocarbonetos, a estatal foi um dos principais alvos da luta do povo boliviano.

Os trabalhadores brasileiros não devem cair na farsa do “interesse nacional”. Se nós lutamos para alcançar nossa soberania, devemos impedir que o Brasil oprima outro país menor e mais pobre.
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