Pedreiro foi torturado com choques elétricos e asfixiamento pela polícia, aponta investigação

A resposta para a pergunta que tomou conta do país e ficou estampada em faixas e cartazes país afora, e até mesmo no exterior, continua uma incógnita. Não sabemos onde está Amarildo, mas fica cada vez mais claro o que aconteceu com ele. Inquérito policial sobre o seu desaparecimento dá conta daquilo que todos já imaginavam: Amarildo de Souza foi assassinado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, num dos contêiners em que funciona a unidade. A revelação foi divulgada nesse dia 2 pelo jornal O Globo. Amarildo está desaparecido desde o dia 14 de julho.

A investigação da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, que provocou o indiciamento de 10 policiais incluindo o então comandante da unidade, major Edson Santos, revela ainda que o pedreiro foi morto durante uma sessão de tortura com choques elétricos e asfixia. O fato de o pedreiro ser epilético pode ter ajudado em sua morte. Os policiais foram indiciados por tortura seguido de morte e ocultação de cadáver. A investigação apurou ainda que testemunhas desse crime estavam sendo vítimas de coação e intimidação pela polícia, além de tentativa de suborno.

O major Edson teria desviado R$ 30 mil da UPP para subornar duas testemunhas, mãe e filho, para que confirmassem a versão da polícia de que Amarildo havia sido capturado por traficantes. O policial alugou um apartamento para os dois fora da favela e havia prometido uma mesada de R$ 2 mil, mas as testemunhas voltaram atrás e acabaram confessando o suborno. O inquérito pede a prisão preventiva dos indiciados para evitar ainda mais prejuízos às investigações. O Ministério Público, por sua vez, deve apresentar denúncia contra os policiais até esta sexta-feira.

Assassinato mostra a face da UPP e da PM
O próprio relatório da polícia afirma que a tortura é prática comum na UPP da Rocinha.  O assassinato de Amarildo, cujos detalhes brutais estão sendo revelados agora, evidencia mais uma vez o caráter repressivo das UPP’s. O domínio dos traficantes é trocado pela opressão, o esculacho, a tortura e o assassinato sistemático por parte da polícia contra os moradores pobres dos morros e favelas.

Mostra ainda o papel dessa Polícia Militar, um entulho autoritário dos tempos da ditadura cujo papel se resume a reprimir os movimentos sociais, como vemos agora no Rio, e assassinar a população negra, pobre e marginalizada das periferias. O assassinato de Amarildo de Souza coloca na ordem do dia a exigência do fim da Polícia Militar, por uma única polícia civil, desmilitarizada e controlada pela população para defender seus interesses. 

LEIA MAIS
Violência, manifestações de rua e o papel da polícia

Caso Amarildo: CSP Conlutas lança campanha de solidariedade à família