Os números confirmam o que todo trabalhador já percebe. A inflação voltou e está corroendo os salários. A alta nos preços é generalizada e atinge alimentos, transporte e moradia. No ano passado, o índice IPCA fechou em quase 6%, contra 4,3% em 2009. Mas trata-se apenas de uma média. Qualquer trabalhador e trabalhadora nota nas compras do supermercado que os preços subiram muito mais.

Os alimentos atingiram a maior alta, como é o caso do feijão, que subiu 66%. A carne e seus diversos gêneros aumentaram até 50%. Já o açúcar teve alta de 19,5%, o leite registrou 18,5%, o frango 16% e, finalmente, o pão, com 8% (dados IBGE/FGV). A inflação dos alimentos também encareceu os produtos da cesta básica. Em São Paulo, a cesta aumentou 17% no ano passado.

Outro aumento bastante sentido pela classe trabalhadora foi o das tarifas públicas, como as de ônibus urbanos, e o preço dos combustíveis. Em quase todas as grandes cidades e capitais do país foram registrados “tarifaços”, muitas vezes acima da inflação. Em São Paulo, o preço da tarifa do metrô de São Paulo subiu 263% desde 1996, considerando o recente aumento da passagem para R$ 2,90. O reajuste é mais do que o dobro da inflação registrada no período. Nos últimos 15 anos, a inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) foi de 131%. Uma pessoa que usa o metrô duas vezes por dia útil durante 22 dias no mês gasta R$ 127,60, um valor bem salgado para quem recebe um salário mínimo. Em Porto Alegre (RS), a nova tarifa de R$ 2,70 para os ônibus representou um reajuste de 10,20%, bem acima da inflação.

A conta de energia que o brasileiro paga também vai ficar mais cara este ano.
Estimativas apontam que o aumento ficará entre 9% e 11%, números que representam o dobro do previsto para a inflação, que deve ser de 4,5% em 2011. Segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), o valor da energia estará até 30% mais caro até a Copa do Mundo de 2014.

Os preços dos aluguéis também explodiram. Nos últimos 12 meses, o índice usado como referência para o reajuste, o IGP-M, acumulou alta de 11,3%. No entanto, o valor em algumas regiões é bem mais alto. De acordo com o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), nos últimos 12 meses os aluguéis subiram entre 14,6% e 20%.

Outro produto que poderá aumentar nos próximos dias é a gasolina. No último dia 28, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) admitiu a possibilidade de um ajuste nos preços dos combustíveis. O preço do barril petróleo vem subindo nos últimos dias devido a crise política vivida nos países árabes. O aumento dos combustíveis terá efeito imediato, jogado para o alto a inflação.

Vai aumentar mais
O pior é que a inflação vai aumentar ainda mais. Na avaliação oficial do governo, a previsão é de 4,5%. Mas qualquer analista sério já considera algo acima de 6,5%.
Dois fatores motivaram a inflação. O primeiro deles foi a alta valorização dos preços dos produtos primários voltados para exportação, as chamadas “commodities agrícolas”. O Brasil é um grande exportador de commodities agrícolas (especialmente cereais, grãos, carnes e açúcar), responsáveis por grande parte do superávit da balança comercial do país. Portanto, qualquer oscilação nos preços dos alimentos em nível internacional influencia diretamente na mesa do trabalhador brasileiro. O segundo fator é a especulação financeira, que cresce na esteira da valorização das commodities agrícolas. O dinheiro liberado pelo governo dos EUA para salvar o sistema financeiro fez explodir a especulação (leia nas páginas 10 e 11).

Ajuste fiscal não é a solução
Enquanto isso, os trabalhadores sentem que os meses estão mais longos e os salários, mais baixos. Além de amargarem o ridículo reajuste de R$ 35 no salário mínimo – enquanto deputados tiveram aumento de 65% em seus salários –, ouvem agora do governo que são necessários “alguns ajustes fiscais” para o país “não quebrar”.

A primeira medida do governo foi o corte de R$ 50 bilhões no orçamento. Os cortes de verbas diminuíram drasticamente as verbas para os serviços públicos. Nem o programa Minha Casa Minha Vida escapou. Foram cortados mais de R$ 5 bilhões da verba do programa (40% do total). A educação pública sofreu um corte de R$ 3,10 bilhões. Já os ministérios de Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento Agrário tiveram um corte de quase dois bilhões de reais juntos.

Esses cortes de verbas (o maior da história) significam que, na verdade, vai haver um verdadeiro retrocesso do país no que se refere à educação, saúde, moradia e reforma agrária.

O governo diz que esse ajuste é a única solução para combater a inflação. Também já anunciou elevação na taxa de juros para combater a alta dos preços. Os juros já estão aumentando neste início de ano para satisfazer os já bastante ricos rentistas.
Na verdade, o governo não aumenta mais o salário mínimo porque isso significaria aumentar os gastos do governo e, portanto, diminuir sua capacidade de pagar mais juros. Ou seja, diminuir sua capacidade de transferir recursos públicos para os capitalistas.

É isso que está por trás do ajuste fiscal que está sendo vendido como a única solução para conter a inflação. Ou seja, enquanto banqueiros faturam alto, quem paga a conta pelo aumento de preço são os trabalhadores.
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