Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

“Já tem casos de COVID-19 nas sondas. Sinto que a empresa vem tomando pouquíssimas medidas para garantir nossa integridade aqui no campo de extração de petróleo. Já exigimos testes, mas a Petrobras afirma que não tem condições para tal. Até dez dias atrás, não tinha álcool em gel nem máscara aqui na sonda. Então estamos aqui jogados à própria sorte e aos nossos próprios cuidados.”

O relato é do petroleiro Antônio* ao Opinião Socialista. Ele atua numa sonda de extração de petróleo no campo terrestre de Carmópolis (SE). O depoimento é o retrato da condição de milhões de operários brasileiros que estão trabalhando em meio à pandemia.

As condições dos petroleiros terceirizados são ainda piores. José, que é operador de uma sonda da Braserv, também em Carmópolis, informou que a maioria está trabalhando sem máscara. “A maioria está trabalhando sem o uso das máscaras. Estamos numa situação crítica. A empresa não está preocupada com isso, pois 80% dos trabalhadores estão com aviso prévio. E a Petrobras faz vista grossa diante dessa situação, não liga para nossa segurança”, relatou.

Essa situação se repete em outras unidades da Petrobras. Entre os dias 27 e 29 de maio, 22 petroleiros (diretos e terceirizados) desembarcaram de plataformas na Bacia de Campos (RJ) com suspeita de COVID-19. No dia 30, o petroleiro João Batista dos Santos Rangel, 55 anos, faleceu em Campos dos Goytacazes, vítima da COVID-19. Ele era empregado na terceirizada CSE Aker Solutions e há 22 anos trabalhava embarcado na Bacia de Campos.

A Petrobras não repassa os dados oficiais dos trabalhadores infectados e dos óbitos. Segundo a Agência Estado, até o dia 19 de maio, 573 trabalhadores haviam sido infectados pelo vírus. O Ministério de Minas e Energia e a Agência Nacional de Petróleo comunicaram que deixariam de contar casos de terceirizados com COVID-19.

“A empresa nos nega o acesso aos dados oficiais. Negligencia e não atende reivindicações básicas como a testagem dos trabalhadores, desinfecção dos ambientes de trabalho, fornecimento de máscaras e álcool em gel”, pontua Gilvani Alves, do Sindipetro-AL/SE e militante do PSTU. “Já entramos na Justiça, via Federação Nacional dos Petroleiros [FNP], para que a Petrobras repasse os dados aos Sindicatos”, explica.

Gilvani informa que a empresa aproveitou a pandemia para reduzir contratos e avançar as demissões de petroleiros diretos e terceirizados.

Frigoríficos

Os trabalhadores dos frigoríficos também estão sendo contaminados em alta escala pelo novo coronavírus. A situação exigiu uma investigação do Ministério Público do Trabalho em 61 estabelecimentos do setor em 11 estados.

Pelo menos 17 frigoríficos apresentaram casos de trabalhadores infectados. A situação é crítica em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul. As empresas BRF e JBS, gigantes do setor de alimentação, são as que têm mais infectados.

No Rio Grande do Sul, cidades com estabelecimentos do setor estão entre as mais atingidas pelo vírus. Em Caxias do Sul, 12 funcionários de um frigorífico da JBS testaram positivo no dia 29. Em Nova Araçá, registrou-se um surto de coronavírus entre os trabalhadores do Frigorífico AgroAraçá. Segundo boletim epidemiológico estadual, são 158 funcionários diagnosticados com a doença, e uma morte pela COVID-19. Em Lajeado, 501 funcionários de frigoríficos contraíram coronavírus, 296 em um frigorífico da BRF.

A irresponsabilidade das empresas é apontada como o fator principal também pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Concórdia e Região (Sintral), Jair Baller. “A fábrica da JBS, em Ipumirim, foi fechada pelo MPT no dia 18 de maio. A empresa não cumpriu os critérios de segurança determinados. No dia do fechamento, 86 trabalhadores já tinham testado positivo para COVID-19”, disse ao Opinião Socialista.

Os auditores fiscais encontraram alguns funcionários trabalhando mesmo depois do diagnóstico da doença. O relatório do MPT culpa as empresas por surto de coronavírus na região. Na fábrica da BRF em Concórdia, 338 funcionários testaram positivo.

“O surto se deu por não aplicar as medidas apontadas pelo MPT e pela Vigilância Sanitária. Sem contar que teve uma campanha em todo o Estado pela reabertura do comércio, o que ajudou para este caos”, destacou o presidente do Sintral.

Em defesa da vida

Tudo isso é responsabilidade da política genocida do presidente Bolsonaro, que tem feito tudo para manter os lucros dos patrões, mesmo à custa das vidas dos trabalhadores.

A CSP Conlutas está realizando uma campanha de forma unitária com as outras centrais em defesa da vida e dos empregos.

“A principal medida a ser adotada para salvar vidas é a quarentena total. É preciso parar tudo, não só o comércio, mas também e principalmente as grandes fábricas, que vêm tornando-se foco de contaminação nos estados. Exigir política de renda e estabilidade no emprego, para que os trabalhadores possam ficar em casa. Já nos serviços essenciais, é preciso garantir medidas de segurança aos trabalhadores”, ressalta Atnágoras Lopes, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, membro da secretaria executiva da CSP-Conlutas.

*por segurança, o nome dos operários foram alterados