Foto Romerito Pontes

Com o falso pretexto de negociar a colheita da soja na área da fazenda Brasília do Sul, município de Juti (MS), os indígenas em luta na retomada da terra da Aldeia Takuara receberam intimação de reintegração de posse, datada em 25 de janeiro, com o prazo de execução para acontecer em no máximo 15 dias. Ou seja, nos dias de feriado deste carnaval, entre 8 e 9 de fevereiro, ou até mesmo antes disso, os indígenas correm sério risco de sofrerem violentamente com mais um despejo autorizado pelo Estado em defesa dos fazendeiros e do agronegócio.

Segundo informações obtidas nesta segunda-feira (2), o juiz federal substituto Ney Gustavo Paes de Andrade, da 1ª Vara de Naviraí, atraiu as lideranças indígenas para uma reunião que supostamente trataria os termos de permanência definitiva do povo Guarani-Kaiowá na Takuara e da colheita de soja cultivada na região. A verdade é que o encontro se deu apenas para a entrega de intimação da reintegração de posse, que pode ocorrer a qualquer momento, estando também autorizado o cumprimento aos domingos e feriados.  Esta reunião foi uma verdadeira armadilha criada em parceria com o fazendeiro Jacinto Honório.

Na ocasião, segundo as lideranças indígenas, o advogado de Jacinto Honório chegou a dizer que se eles não saíssem da área “iam tomar tiro”! Ao retornarem à aldeia Takuara, os indígenas foram surpreendidos com a presença do administrador da Fazenda, Ramón Evangelista que, acompanhado de agentes da Polícia Federal e do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), percorreu pela área retomada em tom de ameaça procurando pelas principais lideranças.

Resistir até o fim
A Matriarca Nhandesy Julia Cavalheira Veron, viúva do Cacique Marcos Veron, decidiu, junto ao Conselho da Grande Assembleia do Povo Guarani-Kaiowá – Aty Guasu, resistir contra qualquer tentativa violenta de despejo da Takuara, mesmo que isso custe a vida dos indígenas em luta.

Em vídeo enviado à CSP-Conlutas nesta manhã, as lideranças pedem apoio urgente e afirmam a intenção de manter a retomada da terra. A matriarca Júlia Veron, diz que “do jeito que meu marido morreu, eu também posso morrer aqui. Eu não vou sair daqui não”, e Ládio Veron, filho do cacique assassinado Marcos Veron, conta que receberam “a ordem de despejo, mas não vamos sair daqui, vamos morrer todos aqui. Aqui é onde meu pai Cacique Veron morreu, vamos morrer todos juntos, mas não sairemos daqui do mato!”. Confira e compartilhe!

Ataques na Kurussu Ambá
Lideranças Guarani-Kaiowá relatam ter sofrido ataques a tiros neste domingo (31), na TI Kurusu Ambá, município de Coronel Sapucaia (MS), fronteira com o Paraguai.

Segundo os indígenas, as agressões aconteceram após o processo de retomada da sede da fazenda Madama, uma das propriedades parte do território reivindicado como tradicional pelos Kaiowá. Hoje (2), Inocêncio, filho de Xurite Lopes – rezadora assassinada há 9 anos, em 2007, com 70 anos, nessa mesma terra – informou que Kurussu Ambá está arrasada. Incendiaram os locais de reza e derrubaram a escola. Tudo foi perdido. Pertences, alimentos, casas, deixando crianças e idosos desamparados.

Os indígenas estão refugiados no mato e a maioria dos caciques foi ferida a bala, sem ter como buscar atendimento, porque estão cercados e seguem sendo perseguidos!

Segundo informações do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), a comunidade aguarda a chegada da Polícia Federal e, a Funai (Fundação Nacional do Índio) já foi informada e está preparando uma equipe, juntamente com a polícia, para ir ao local.

Histórico de assassinatos
Desde 2007, quatro indígenas foram assassinados no local – uma delas, a rezadora Xurite Lopes, de 70 anos, na mesma fazenda Madama. Nenhum inquérito sobre os assassinatos foi concluído. Os assassinos nunca foram levados a julgamento.

O contexto conflituoso com fazendeiros dificulta, também, o acesso à saúde dos indígenas. Em janeiro deste ano, uma criança faleceu por falta de atendimento médico, segundo os indígenas. A comunidade também sofre uma grave insegurança alimentar, passando fome e bebendo água contaminada.

É preciso denunciar! Ocorre um genocídio contra os Guarani Kaiowá neste país!

É preciso que o governo faça a demarcação imediata de suas terras originárias!

Enquanto não houver demarcação que garanta o direito dos indígenas aos seus territórios originários, a cada retomada haverá tentativa de despejo, e a cada despejo haverá conflito e violência, porque os Guarani-Kaiowá estão dispostos a perder a vida, mas não perder suas terras.

Com informações atualizadas do CIMI (Conselho Indigenista Missionário)