Museu Nacional é consumido por incêndio. Foto Erick Dau

A história, cultura e ciência do país sofreram uma grande derrota nesta última noite de domingo. Não se sabe ainda exatamente o tamanho do estrago, mas sem dúvida a maior parte do acervo de mais de 20 milhões de itens do Museu Nacional virou cinza.

O Museu Nacional, que fica na Quinta da Boa Vista, parque da Zona Norte do Rio de Janeiro, possui 200 anos e é considerado a mais antiga instituição científica do país e um dos maiores museus de história natural e antropologia das Américas, sendo referência internacional em produção de ciência. Em um país semicolonial como o nosso, tão subordinado ao imperialismo, a perda de uma ilha de excelência como essa é, portanto, um ataque também a nossa soberania nacional.

Não está noticiado até o momento o motivo técnico do incêndio. Mas não é necessário ser perito para saber que se trata de uma consequência devastadora e histórica de anos de sucateamento e precarização da educação pública do nosso país. Não é de hoje que o museu apresentava diversos problemas como infiltrações, infestações de cupim e telhados quebrados. Em maio deste ano, o diretor do museu afirmou que seriam necessários mais de 300 milhões de reais para a restauração do Palácio e disse que não havia verba para as obras. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, desde 2014, a instituição não vinha recebendo a verba de R$ 520 mil anuais que bancam sua manutenção.

A culpa é do descaso com a cultura e a educação no país
Não se trata de um mero acidente. O incêndio é de responsabilidade direta dos governos que deixaram a instituição em um nível alarmante de precarização. É culpa do Temer, junto com o vergonhoso Congresso Nacional, que aprovou a Emenda Constitucional do teto dos gastos (EC 95), que congela por 20 anos os investimentos nas áreas sociais. É culpa de todos os parlamentares que votaram a favor dessa medida (e de tantos outros ataques à classe trabalhadora), como o racista, machista e LGBTfóbico Bolsonaro. É culpa também dos governos anteriores, do PT, que privilegiaram a educação privada no país a partir das isenções fiscais em detrimento da pública, favorecendo os chamados tubarões do ensino no país e deixando à míngua as universidades federais.

O museu é parte integrante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Portanto, também a reitoria da UFRJ tem responsabilidade no caso. Achamos lamentável que o reitor dê declarações culpando o Corpo de Bombeiros pelo ocorrido. Sabemos de toda a dificuldade de funcionamento da corporação, por ataques sistemáticos dos governos estaduais. Inclusive, houve atraso no combate ao incêndio pelo fato de que não havia água nos hidrantes próximos ao prédio. Uma vergonha. Mas é um tremendo equívoco culpar os bombeiros pela tragédia, quando são os anos e anos de sucateamento da educação e da cultura que a explicam. E a reitoria sabe disso.

Roberto Leher foi eleito com a imensa maioria dos votos dos estudantes e com o apoio dos movimentos sociais. A reitoria deve, portanto, organizar uma campanha efetiva para lutar pela educação pública. Paralisar as atividades acadêmicas e exigir a revogação imediata da EC 95, o aumento efetivo das verbas para a Universidade e a saída imediata do Temer da presidência. Não se pode mais aceitar a situação do jeito que está e se limitar a fazer denúncias, mas aceitando gerir o caos.

O museu sempre foi uma excelente opção de lazer, educação e cultura para os filhos da classe trabalhadora, que enchem a Quinta da Boa Vista aos fins de semana. Com o incêndio, essas crianças e jovens, a quem os governos só oferecem as prisões e a opressão, perdem mais uma possibilidade de aprendizado, de tão poucas que elas já têm.

Só uma rebelião pode evitar novas tragédias como essa
Em um momento eleitoral como esse que estamos passando, os políticos tradicionais vão soltar declarações lamentando o ocorrido e prometendo que “em meu governo” isso não acontecerá. Ou até farão notas esdrúxulas como o prefeito Marcelo Crivella, que além de demonstrar total ignorância ao afirmar que é necessário recuperar o acervo (como se fosse possível recompor peças históricas), faz uma homenagem ao papel que a família real teria cumprido no país.

O que ninguém diz é que para evitar esse tipo de acontecimento é necessário inverter toda a lógica da forma de governar. É necessário um investimento massivo para a educação, cultura e lazer. As universidades públicas devem ter verba para garantirem excelência em ensino, pesquisa e extensão. Seus trabalhadores devem ser valorizados e seus estudantes respeitados. Em primeiro lugar, deve ser revogada imediatamente a medida que congela o investimento nas áreas sociais por 20 anos e demais ataques à classe trabalhadora, como a reforma trabalhista. E, para garantir a verba, é necessário parar de pagar a dívida aos banqueiros e acabar com qualquer isenção fiscal para os empresários, que retira bilhões dos trabalhadores, e investir esse dinheiro em saúde, educação e demais necessidades sociais.

Sabemos que não será através das eleições que teremos essas mudanças necessárias, para que se evitem novos lamentáveis episódios como esse. Apenas a classe trabalhadora organizada pode garantir que a prioridade do governo deixe de ser o enriquecimento de meia dúzia de banqueiros e empresários para que seja o atendimento às necessidades da população. Por isso, o PSTU faz um chamado à rebelião! Os de baixo precisam derrubar os de cima, para que nossa história nunca mais corra o risco de virar cinza e que garantamos o nosso futuro. Sigamos mobilizados!