José Luís Sundermann
Arquivo PSTU

Estado brasileiro é considerado responsável pela não investigação do casoOs advogados do Instituto José Luís e Rosa Sundermann denunciaram o Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por negligência e omissão na investigação do assassinato dos dois militantes do PSTU. A denúncia foi encaminhada para a comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) no dia 14 de março, e está sob análise. Se acatada, terá início uma investigação, que poderia declarar o Estado brasileiro culpado pela impunidade. Os advogados do Instituto representam a filha caçula do casal, Raquel Sundermann, o Sindicato dos Trabalhadores da UFSCAR e a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra), dos quais José Luís era diretor.

O principal objetivo da iniciativa é chamar a atenção da opinião pública para o caso e para a omissão das autoridades e do governo. José Luís e Rosa foram assassinados no dia 12 de junho de 1994, em São Carlos (SP), e, passados onze anos, as autoridades policiais não apontaram um só suspeito pelo crime.

Os dois militantes do recém criado PSTU atuavam nas lutas na região, enfrentando grupos políticos e oligarquias, como a dos usineiros. Em 1990 e em 1993, os dois haviam dirigido as greves dos cortadores de cana da região. No documento enviado à OEA, os advogados do Instituto, reiteram que todas as evidências apontam para um crime político: “Nada foi roubado ou foi tocado na casa, nem cartões de crédito, nem qualquer outra coisa. O assassino disparou quatro tiros, dos quais três foram disparos certeiros nas cabeças das vítimas, com total precisão. As circunstâncias deixam claro tratar-se de uma execução fria e calculada, definitivamente obra de profissionais”.

A atuação da polícia é marcada por uma investigação inconsistente e esquiva e pela negativa em tratar o caso como um crime político. Apesar dos inúmeros pedidos de acareações, audiências para ouvir testemunhas e diligências (investigações com deslocamento policial) feitos pelos advogados que acompanhavam o caso, a investigação nunca ocorreu de forma incisiva, permitindo que a impunidade perdure até hoje. Outro exemplo do descaso é que as fotos da cena do crime foram queimadas misteriosamente. Até mesmo o pedido de participação da polícia da capital nas investigações foi negado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública.

Todas as suspeitas levam aos usineiros da região, em especial aos donos da Usina Ipiranga, cujos trabalhadores participaram da greve dirigida por Rosa e José Luis. Denúncias anônimas e um pedido formal de investigação dos usineiros, feito pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, foram solenemente ignorados. Apesar de ainda não se ter evidências de quem foi o autor do crime, há suspeitas plausíveis de quem foram os mandantes.

No dia 24 de fevereiro deste ano, Alexandre Titoto, de 41 anos, um dos donos da Usina Ipiranga, foi preso, acusado de matar seu amigo de infância Carlos Alberto de Souza Araújo, de 41 anos, vice-presidente do Banco Nacional de Paris no Brasil. Além da mesma idade, os dois também compartilhariam de negócios no mínimo obscuros, como que teria motivado o crime. Carlos Alberto possuia uma BMW. Ele deu um golpe no seguro, dizendo que esta teria sido roubada. Assim, recebeu a indenização e vendeu o carro, mais barato, ao seu amigo. Como Titoto não o pagou, Carlos foi ao seu escritório e acabou morto. Vestígios de terra no pulmão indicam que ele pode ter sido enterrada vivo.

Estas são as pessoas que a polícia e o Estado brasileiro têm se recusado terminantemente a investigar por onze anos. Poderosos, como os que mandaram assassinar líderes sem-terra e a missionária Dorothy Stang, e que acreditam que podem continuar contando com a certeza da impunidade.

MEMÓRIA

  • Punição aos assassinos de Gildo Rocha