Eles confessaram crimes. Para eles, a lei, ainda que vantajosa, nada lhes vale. Com frieza, não hesitam em atacar a população. Não, não estamos falando da mais recente onda de violência que atingiu São Paulo na última semana. Estamos nos referindo a uma rede criminosa maior, mais complexa, sediada em Brasília e especializada em assaltar os cofres públicos na certeza de que permanecerão impunes.

O início da campanha eleitoral mostra que viveremos nos próximos meses um período de hipocrisia sem igual. Mensaleiros, sanguessugas e corruptos de toda sorte, após passarem por um breve momento de desgaste, disputarão o voto do eleitor como se absolutamente nada tivesse acontecido. Por baixo, a partir de cálculo feito pelo jornal O Globo, cerca de 50 deputados envolvidos em algum escândalo de corrupção tentarão a reeleição em outubro. Com as últimas revelações do caso dos sanguessugas, o número pode praticamente dobrar. Nada menos que 57 parlamentares são suspeitos de atuarem no esquema de superfaturamento de ambulâncias, num escândalo que envolve vários ministérios, tanto na era FHC quanto no atual governo Lula.

Eles vêm e estão mais ricos
Fechada a crise política, os deputados mensaleiros chegaram à conclusão de que o crime vale a pena. E, principalmente, de que é lucrativo. De acordo com reportagem publicada pelo Correio Braziliense, 9 dos 12 parlamentares envolvidos no escândalo e que tentam a reeleição enriqueceram significativamente no último período. Levando em consideração a prestação de contas dos políticos aos TRE’s (Tribunal Regional Eleitoral), houve deputado que fez crescer seu patrimônio em 1.123%. É o caso do petista Paulo Rocha (PT-PA), que renunciou para não ser cassado.

Rocha, ex-sindicalista e, assim como Silvinho “Land Rover”, grande admirador de automóveis esportivos, realizou um verdadeiro milagre da multiplicação de seu patrimônio pessoal. Em 2002, o petista afirmou possuir apenas uma pick-up F-100 no valor de R$11.747. Já em 2006, Paulo Rocha declarou a posse de, entre vultuosas contas bancárias e um consórcio para a compra de uma casa no valor de R$ 42 mil, um automóvel EcoSport cotado por módicos R$ 74 mil. Ele, no entanto, não é o único petista a figurar na lista dos que mais enriqueceram nos últimos anos. Aliás, curiosamente, todos os principais nomes que constam nessa estimativa são de deputados do PT.

José Mentor ampliou seu patrimônio em 190%, segundo ele, através de seu escritório de advocacia. Coincidentemente, tal escritório também foi a justificativa apresentada pelo deputado para o recebimento de R$120 mil do valerioduto. O mensaleiro também absolvido pelo plenário, Professor Luizinho, ao que parece utilizou seus anos de mandato para aprender novas estratégias de investimentos financeiros. Já o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, adquiriu um imóvel em um centro de compras em Barueri. Como o PT é um partido democrático, outros nomes que compunham a base aliada do mensalão também não passaram momentos de seca. O empresário e fazendeiro Romeu Queiroz (PTB-MG) e o empresário Sandro Mabel (PL-GO) precisaram ajustar o bolso de suas calças para comportar o novo ganho.

Tanto o PT quanto o PSDB fecharam alianças com os tradicionais partidos do mensalão (PTB, PP e PL) em diferentes estados. Aliás, o partido do “carismático” Geraldo Alckmin conhece bem o esquema, já que, segundo a própria denúncia do mensalão realizada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, o esquema teria se originado no governo FHC. Chega a causar uma certa curiosidade mórbida saber como tais candidatos se apresentarão nesta eleição.

Escondendo o ouro
Curiosidade que não existe tanto com relação ao presidente Lula. Sua equipe de campanha adiantou como será a campanha e preparou uma espécie de “manual reeleição” com instruções bem precisas sobre como o presidente deve se portar nesse período. Resumindo, o candidato à reeleição deve aparecer o mínimo possível como tal, restringir ao máximo qualquer tipo de debate e evitar entrevistas. O temor da equipe é que, perguntado, Lula se atrapalhe e, sem querer, acabe respondendo.

Vai ser difícil responder a vários temas espinhosos que surgem diariamente, apesar do pouco tempo. Para começar, o próprio tesoureiro da campanha de Lula, o prefeito licenciado de Diadema (SP), José de Filippi Jr. Além de ter contas do município rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado, o petista é investigado pelo Ministério Público sobre a origem do pagamento de uma multa no valor de R$ 183 mil por realizar, junto com a CUT, propaganda eleitoral irregular na cidade.

Outra polêmica que persegue Lula é a nomeação do novo presidente dos Correios. A um ano da crise política que balançou o Planalto, o governo não hesita em nomear para o cargo um diretor indicado pelo PMDB, utilizando a maior estatal do país como moeda de troca para o apoio à reeleição. O fisiologismo parece mais do que nunca entranhado no governo Lula e esquemas como o do mensalão se perpetuam, já que sabemos para que serve a direção dos Correios.

A verdadeira cara dessas eleições
Se pudéssemos sintetizar essas eleições em apenas uma imagem, talvez a mais precisa seja a entrevista concedida pelo ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP) à revista semanal Istoé, deitado em uma rede na varanda de seu apartamento.

Questionado sobre como ganharia as eleições, o ex-deputado disparou: “Faço 100 mil votos sem sair desta rede”. Como? “Eu tenho as prefeituras. Eu consigo dinheiro para elas e os prefeitos trabalham para mim. Hoje eu tenho 12 prefeitos aqui em Pernambuco e mais um monte de vereadores“, revela sem o mínimo constrangimento.

Severino continua sendo a cara, sem maquiagem, da hipocrisia e da roubalheira que guia os grandes partidos.

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