O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e o imperialismo ianque preparam aceleradamente um ataque militar contra o Iraque. O objetivo, desta vez, seria não só “castigar” o presidente iraquiano Saddam Hussein, senão diretamente derrubar seu governo e seu regime político.
Depois da Invasão do Afeganistão, este ataque seria o segundo passo da “guerra infinita contra os povos” que Bush e o imperialismo ianque lançaram com a desculpa dos atentados às Torres Gêmeas de Nova Iorque e ao Pentágono, no 11 de setembro do ano passado. As vítimas desse atentado (e a defesa da vida dos norte-americanos) são um dos principais estandartes que o governo ianque utiliza para levar adiante esta guerra. Porém, ao se cumprir o primeiro aniversário, os atentados ainda não foram esclarecidos. E é publicamente conhecido que o serviço secreto dos Estados Unidos sabia que se realizariam e que não poderiam ser levados adiante sem a cumplicidade ou, no mínimo, sem as vistas grossas do governo dos Estados Unidos. Bush e o imperialismo ianque não tiveram nenhum problema em deixar que morressem milhares de trabalhadores norte-americanos se isso lhe serviria para justificar sua política de guerra em todo o mundo!
Para atacar o Iraque, transformado agora no principal “eixo do mal”, o governo de Bush apresenta uma longa lista de “razões”: que Saddam Hussein encabeça um regime ditatorial, que oprime e reprime o povo Curdo, que no passado invadiu o Kuwait, etc. A cortina de fumaça dessas supostas “razões” fica clara com uma análise minimamente profunda. Em primeiro lugar, os ianques têm respaldado numerosas ditaduras e impulsionado sangrentos golpes militares em todo o mundo, cuja lista seria demasiada longa para recordar, para defender seus interesses. Em segundo lugar, não somente no Iraque os Curdos são oprimidos: este fato também ocorre na Turquia, país que, entretanto, é um velho aliado dos Estados Unidos na Otan. Finalmente, os principais sócios do imperialismo norte-americano têm invadido e ocupado hoje territórios que não lhes pertencem. A existência do Estado de Israel é uma grande usurpação do território palestino; a Grã-Bretanha ocupa Irlanda do Norte e Gibraltar; e a Espanha, Celta e Melilla. E antes de qualquer coisa, toda a história dos Estados Unidos está recheada de sangrentas invasões a outros países: São Domingos, Vietnã, Granada.
A LIT-QI denuncia Saddam Hussein como um ditador do seu povo e como opressor do povo Curdo. Porém, são estes povos que detêm o direito de lutar contra Saddam Hussein, derrubá-lo e decidir seu destino. Este ataque dos Estados Unidos não tem nada a ver com a defesa dos direitos dos iraquianos e curdos. Pelo Contrário, somente trará mais mortes, miséria e sofrimento para estes povos, para as massas do Oriente Médio e de todo o mundo.
Por isso, esgotados ou debilitados estes argumentos, o imperialismo ianque tem inventado uma nova desculpa “preventiva”: que o Iraque estaria em condições de fabricar “armas de destruição massiva”, quer dizer, bombas atômicas e químicas. Scott Ritter, um dos inspetores das ONU que esteve no Iraque, disse que este país não está em condições de possuir ditas armas. Porém, além disso, é de um cinismo completo dos Estados Unidos, o único país que utilizou bombas atômicas sobre populações indefesas (em Hiroshima e Nagasaki em 1945) e que empregou massivamente o uso de armas químicas no Vietnã, se ache no direito de controlar quem possa fabricá-las e quem não e de, ainda por cima, invadir um país para evitar que o faça.

As verdadeiras razões

Por isso, devemos buscar as verdadeiras razões deste ataque do outro lado. Em primeiro lugar, Bush necessita manter viva a “guerra infinita” como uma política para derrotar as lutas dos trabalhadores e dos povos em todo o mundo. Depois de um primeiro triunfo no Afeganistão, esta guerra atolou-se no Oriente Médio, aonde Sharon e Israel não conseguiram derrotar a resistência do povo palestino, o que tem provocado uma profunda crise. Também fracassou na Venezuela, quando o povo deste país derrotou o golpe militar contra o governo de Chávez. E surgem novos incêndios, como o processo revolucionário que vive a Argentina e que começa a se estender pelo resto da América Latina.
Em segundo lugar, será uma agressão militar com “cheiro de petróleo”. O Iraque possui uma das mais importantes reservas petrolíferas do mundo. E atualmente canaliza sua produção por fora das grandes companhias norte-americanas. Começa então a ser um importante provedor alternativo desta fonte de energia, inclusive para as potências européias, que até agora compram quase todo o petróleo que consomem das empresas ianques. Porém, estas companhias (ligadas estreitamente ao governo Bush) querem eliminar esta competição e assegurar o controle absoluto do mercado mundial.
Em terceiro lugar, estão as mudanças na situação interna dos Estados Unidos. A partir dos escândalos da Enron e da WordCom (que apoiaram com grandes somas a campanha de Bush), o início de uma situação econômica recessiva e o aumento do desemprego, o estado de ânimo do povo norte-americano é cada vez mais irritado e indignado. A popularidade do governo cai aceleradamente e se pré-anuncia uma onda de lutas operárias. Também se questiona cada vez mais a política internacional do governo: em abril, mais de 100 mil pessoas marcharam sobre Washington em rechaço, dentre outras coisas, ao apoio dado à política de agressão do Estado de Israel contra povo palestino. Bush necessita desta guerra para tentar mudar o eixo da situação interna, recuperar apoio da população e antecipar-se a esta possível onda de lutas.

Os Cúmplices

Bush não conseguiu até agora formar uma coalizão internacional como a que respaldou seu pai (no ataque ao Iraque em 1991), ou Clinton mais tarde, ou a que permitiu em 2001 a invasão ao Afeganistão. Tem recebido o apoio de seus aliados incondicionais – Israel; o primeiro ministro britânico, Tony Blair; e o chefe do Estado Espanhol, José María Aznar – e de um ou outro governo fantoche, como o argentino encabeçado por Eduardo Duhalde.
Porém não conseguiu que a ONU votasse uma resolução respaldando o ataque, as outras potências européias têm levantado fortes dúvidas – dúvidas que também tem “cheiro de petróleo – e também têm se demonstrado renitentes alguns tradicionais aliados do imperialismo ianque no Oriente Médio, como a reacionária monarquia da Arábia Saudita, que teme que a invasão gere uma onda de reação em toda a zona e que o remédio seja pior que a doença.
Porém, não nos enganemos com esta falta de respaldo. Logo depois do arrogante discurso de Bush na ONU já começaram a dizer que “se a ONU vota e Saddam não cumpre…”.
Além disso, o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, tem falado que seu país realizará a invasão sob quaisquer condições. E, nesse caso, tanto a ONU, como os governos europeus e os governos árabes reacionários serão, seguramente, seus cúmplices, tal como no passado.

Organizemos uma grande mobilização internacional

Para impedir esta nova agressão do imperialismo ianque a uma pequena nação é necessário organizar desde já um grande processo mundial de mobilização e repúdio. A LIT-QI chama a todos os partidos e organizações que se reivindicam da esquerda, democráticos, defensores dos direitos humanos ou anti-imperialistas a lançarmos de imediato esta campanha.
O movimento contra a guerra já começou dentro dos próprios Estados Unidos. A coalizão ANSWER (sigla em inglês de “Atuar Agora para deter a Guerra e o Racismo”, composta por várias organizações antiarmamentistas e de defesa dos direitos civis) convoca a realização de uma mobilização de massas internacional em oposição a uma nova guerra contra o povo iraquiano para 26 de outubro. Mais além desta data, que requer seguramente uma maior urgência, é um fato de grande significado que seja a primeira vez que uma agressão militar ianque receba um repúdio em seu próprio país antes de produzir-se. O rechaço à guerra do Vietnã tardou vários anos para manifestar-se e quase não houve manifestações nos EUA de repúdio à invasão do Afeganistão.
Porém, as coisas começam a mudar. Hoje é possível levantar a derrota militar da ofensiva de Bush porque a luta dos trabalhadores e dos povos do mundo começa a somar-se à luta e o repúdio dos trabalhadores e do povo dos Estados Unidos. Foi esta combinação que provocou a derrota militar do imperialismo ianque no Vietnã, em 1975.
Hoje o primeiro passo concreto é nos mobilizarmos para impedir a invasão do Iraque. E, no caso desta acontecer, cercar de solidariedade e apoio efetivo o povo iraquiano .
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