adiamento da reunião de Puebla não significa o fim da ameaça da recolonização do BrasilA segunda reunião informal do Comitê de Negociações Comerciais da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), encerrada no dia 1º de abril, em Buenos Aires, Argentina, terminou em novo impasse. Os negociadores do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), EUA e mais cinco países do continente não chegaram a um acordo e resolveram adiar, por tempo indeterminado, a reunião prevista para fins de abril em Puebla, México.

Os problemas levantados na reunião continuam sendo os mesmos. Os Estados Unidos continuaram pressionando os países do Mercosul a fazer concessões sobre serviços, propriedade intelectual, compras governamentais e investimentos, sem oferecer em contrapartida, concessões ao seu mercado agrícola. As dificuldades do imperialismo em atender essas exigências são explicadas pela pressão exercida pelos agricultores norte-americanos que pretendem manter seus vultuosos subsídios agrícolas e, principalmente, pela delicada conjuntura eleitoral que atravessa o país. Bush não está disposto a chocar-se com um setor da sua base eleitoral e nem com o crescente descontentamento relacionado ao desemprego causado pelo Nafta (acordo comercial entre México, EUA e Canadá).

Os partidos governistas alardeiam e o PCdoB diz em um artigo publicado em seu site, intitulado “Vitória do Brasil e derrota da Alca”, que a reunião resultou na “vitória da soberania do Brasil, do Mercosul e uma derrota do expansionismo norte-americano”. Nós do PSTU, dizemos que o governo Lula continua comprometido até o pescoço na implementação da Alca. Prova disso, é que apresentou na reunião uma proposta ainda mais submissa. Liderando o bloco do Mercosul, os negociadores brasileiros, estavam dispostos a entregar todos esses temas em troca da obtenção de maior acesso ao mercado agrícola dos EUA, defendendo os interesses de meia dúzia de fazendeiros exportadores, que enxergam na Alca uma oportunidade para aumentar a lucratividade de seus negócios.

Diante das dificuldades nas negociações, o governo brasileiro decidiu se empenhar ao máximo na conclusão de outro acordo comercial com a União Européia (UE). Uma proposta “generosa” definiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Em troca do aumento na oferta de cotas de exportações dos produtos agrícolas, oferece de bandeja acesso às áreas industrial e de serviços. Com isso, o governo brasileiro quer provar que defende o Livre Comércio e não é responsável pelo impasse das negociações. Como diz Amorim: “Dizem com freqüência que Brasil e Mercosul não estão dispostos a abrir o setor de serviços. Não corresponde à verdade, e nossas negociações com a UE vão deixar claro isso”.

O impasse circunstancial nas negociações da Alca não significa o fim da ameaça da recolonização do Brasil. Depois das eleições nos EUA, o imperialismo voltará a forçar a implementação desse projeto. A plenária nacional da campanha contra a Alca deve intensificar as mobilizações retomando a luta no patamar que teve em 2002, durante o plebiscito. É preciso que seus participantes tenham claro contra quem lutar. Quem acha, ainda nos dias de hoje, que o governo Lula (ou seu Ministério das Relações Exteriores) é um aliado, não vai mobilizar, e espera que o governo detone a Alca nas negociações. Este é o caminho da derrota. A alternativa que temos é o da luta contra a Alca e contra o governo Lula que a está negociando, na esteira da luta antiimperialista que cresce no mundo, desde o Iraque ao restante da América Latina.

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