Banqueiros e governo não apresentam nenhuma proposta nas mesas de negociações; é preciso construir um calendário de mobilizações rumo à greve unificadaA campanha salarial dos bancários encontra-se diante de um impasse. A Conferência Nacional da categoria aprovou a unificação das campanhas dos bancos públicos e privados com a reivindicação de um índice comum: 25% de reajuste. Esse índice equivale às perdas acumuladas nos bancos privados, desde setembro de 1994, logo após a implantação do Plano Real. A Conferência aprovou ainda a apresentação das reivindicações específicas dos bancários dos bancos públicos diretamente às diretorias desses bancos, principalmente no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. A principal reivindicação específica dos empregados dos bancos federais é a recomposição das perdas salariais acumuladas, que são muito superiores às perdas nos bancos privados.

Durante os encontros específicos dos empregados do BB e da Caixa, a Articulação Sindical impediu que fosse aprovada a reivindicação de reposição integral dessas perdas. A formulação aprovada no BB foi de reivindicar a “criação de um mecanismo para recompor o poder de compra” sem indicar quais são as perdas. A tônica é o rebaixamento das reivindicações, para não gerar problemas com o governo Lula, que será o responsável direto pelas negociações nos bancos públicos.

A Articulação está fazendo uma campanha junto à categoria tentando demonstrar que o índice de 25% garante não só a reposição das perdas, mas também “aumento real de salário” até nos bancos públicos. Ou seja, as perdas do período FHC estão sendo esquecidas, para não constranger o governo a discutir a remoção de mais essa “herança maldita” do governo anterior.

Junto com isso, os boletins dos sindicatos dirigidos pela Articulação estamparam, em todo o país, que a perspectiva para este ano é de uma negociação rápida. Baseados em que, não sabemos, pois até agora nas mesas de negociações os banqueiros não apresentaram nenhuma proposta.

As diretorias do BB e da Caixa compareceram à reunião para o recebimento da pauta dos bancários junto com os banqueiros da Fenaban. A presença das diretorias do BB e da Caixa numa possível negociação unificada não é nenhum sinal de mais facilidade. Ao contrário, o governo federal tem jogado duro nas negociações com o funcionalismo público.

O bloco nacional de “Oposição Bancária” está diante de um grande desafio: garantir o debate nas bases sobre todas as reivindicações e sobre a necessidade da categoria construir um calendário de mobilizações rumo a uma greve unificada dos bancários.

Para isso, é preciso enfrentar a postura recuada e pró-governo da Articulação e aliados, que não têm nenhum interesse em detonar uma mobilização forte e que possa questionar o arrocho salarial dos banqueiros e do governo Lula.

Post author Sebastião Carlos ‘Cacau’, diretor da Confederação Nacional dos Bancários
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