Se há algo que deve avançar na reunião do G-20, no dia 2 de abril, em Londres, é a percepção cada vez maior da impotência das principais economias do planeta para dar uma resposta coordenada à crise. Além de não criarem ações comuns, fica cada vez mais evidente o aumento das tensões entre os países, como os Estados Unidos e a União Europeia.

O encontro do G-20 ocorre quatro meses após a última reunião que reuniu chefes de Estado dos países ricos do G-7, além das outras principais economias do mundo, em Washington. Nesse meio tempo, embora tenha persistido o discurso da necessidade de encontrar uma resposta unificada à crise, nada mudou. Pelo contrário, o que avançou foram as medidas protecionistas dos países, apesar do discurso unânime contra as barreiras comerciais.

Segundo o Banco Mundial, desde o último encontro do G-7, os países do grupo adotaram nada menos que 47 novas restrições comerciais. Os EUA, por exemplo, apesar do discurso multilateral, adotaram o “buy american” em seu plano de estímulo à economia. A medida prevê a compra apenas de produtos norte-americanos para obras públicas no país. Na Europa, avança o discurso nacionalista.

Já os EUA, ao mesmo tempo em que despejam trilhões em ajuda financeira aos mercados, cobram da Europa para que faça o mesmo. Países europeus como França e Alemanha, no entanto, avaliam que já gastaram demais e relutam em novas medidas que ampliem ainda mais os gastos públicos e os déficits. O primeiro-ministro da República Tcheca, Mirek Topolanek, atual presidente da União Europeia, chegou a afirmar que a política de Obama é uma saída que levará “o mundo ao inferno”.

No discurso, a Europa aposta em uma maior regulamentação do sistema financeiro. No entanto, mesmo dentro da União Europeia, há inúmeras diferenças. O bloco enfrenta hoje uma grave crise e corre o risco de se estilhaçar diante do aprofundamento da crise.

O Brasil, por sua vez, pede a retomada da finada Rodada Doha, o fracassado processo de negociação de abertura comercial realizado na OMC (Organização Mundial do Comércio). Defende os interesses do setor agroindustrial de exportação, como os produtores de etanol. Se, porém, Doha fracassou quando a crise nem tinha começado, agora é que não vai para frente mesmo.

A utopia do multilateralismo
A principal diferença dessa reunião do G-20 e a realizada em novembro é a participação de Barack Obama como presidente eleito dos EUA. Há a expectativa de que o novo líder norte-americano conduza o mundo a uma nova situação multipolar, abrindo mão da atual posição hegemônica do país.

Obama, porém, já mostrou para que veio. Anunciou seu novo plano militar de ampliação da ocupação do Afeganistão e deve utilizar a reunião do G-20, assim como sua “turnê” pelo mundo, para garantir apoio a essa política. Para os EUA, desta forma, não se trata de inaugurar um novo multilateralismo, mas de reforçar sua posição hegemônica num mundo em crise.

A imposição de um sistema internacional de regulação financeira, o fim do dólar como moeda de reserva e até mesmo um novo Breton Woods são medidas consideradas para diminuir os efeitos da crise. Mas o aumento da tensão entre os países impede que até mesmo essas medidas avancem. Enquanto os chefes de Estado batem cabeça à procura de uma resposta à crise, ela se aprofunda em todo o planeta.

A resposta das ruas
A única resposta à crise veio das ruas, e fez bastante barulho. Às vésperas da reunião do G-20, no dia 28 de março, milhares de pessoas tomaram as ruas de Londres em protesto contra os efeitos da crise. Batizada de “Put People First” (primeiro as pessoas), a manifestação foi organizada por 150 entidades e reuniu, segundo a imprensa, 40 mil pessoas. A organização previa 20 mil.

Também ocorreram manifestações na Alemanha, França e Itália. Dez mil pessoas protestaram em Berlim. Outras 9 mil foram às ruas em Frankfurt. Já na capital italiana, 50 mil pessoas se manifestaram contra a crise, enquanto centenas protestaram em Paris. Os trabalhadores de uma Europa em convulsão não aceitam pagar a conta da crise e saem às ruas.

A onda de protestos faz, assim, ressurgir no velho continente o movimento antiglobalização que contestou os efeitos do neo-liberalismo no final da década de 1990. Isso num momento em que fortes greves balançam o continente, como as duas paralisações gerais na França.

O efeito pode ser ainda maior nesse contexto, fortalecendo as lutas operárias concretas na Europa sem se dissolver à espera de um novo dia de mobilizações em outro país.

Em meio a toda a confusão ideológica que ainda predomina nesses movimentos, vai surgindo um perfil anticapitalista cada vez mais claro. Faixas e bandeiras contestando não só a globalização mas o próprio capitalismo davam o tom no ato de Londres. Uma delas resumia bem o impasse diante da crise do sistema: “O capitalismo não está funcionando”.
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