Debate no centro do Rio
Sadraque Santos/Raízes em movimento

Evento debateu o tema sob uma perspectiva classista e contou com a presença de moradores do complexo do AlemãoNa última terça-feira (24 de julho), no Rio de Janeiro, teve lugar no auditório do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (Sind Justiça-RJ) o debate Estado, classe e violência no Rio de Janeiro, promovido pelo Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos (ILAESE). Mediado pelo coordenador do ILAESE-Rio, Felipe Demier, o debate contou com a participação de Alan Brum (Raízes em Movimento – Complexo do Alemão), Felipe Brito (doutorando em Serviço Social na UFRJ), Eduardo Alves (mandato do Dep. Estadual Marcelo Freixo – PSOL) e Roberto Mosca Jr. (ILAESE/ PSTU).

Buscando contrapor-se ao modo como a violência é tratada pelos meios de comunicação assim como pelos “especialistas“ burgueses na questão (cientistas políticos, sociólogos, antropólogos etc. que só fazem invocar uma polícia “inteligente“ e “cidadã“), os palestrantes, de um modo geral, expuseram como as chacinas de Vigário Geral (1993) e do Complexo do Alemão (2007), entre outras, não podem ser pensadas fora da dinâmica bárbara do capitalismo, que impõe aos trabalhadores das comunidades carentes, em especial aos jovens negros, uma política fascista e genocida. Brum, morador do Alemão, explicitou a diferença de tratamento por parte da polícia em relação à juventude trabalhadora e aos jovens de classe média alta.

Felipe Brito, estudioso da temática da violência, afirmou ser o extermínio promovido pelos órgãos de segurança frente aos setores populares a única forma de garantir ao capital sua reprodução numa fase de crise do sistema capitalista e do esgotamento completo de políticas keynesianas. Segundo Brito, estaríamos revivendo, em outros termos, a brutal violência a partir da qual se erigiu o próprio sistema capitalista em sua fase de “acumulação primitiva“. Eduardo Alves apontou a necessidade da esquerda de voltar para o trabalho nas comunidades carentes e refletir sobre os sujeitos sociais lá presentes, ultrapassando visões estreitas sobre o que seria a classe trabalhadora.

Roberto Mosca jr., por sua vez, fez alusões às práticas das tropas brasileiras no Haiti e expôs como o descaso do Estado no que diz respeito às suas funções educativas, sanitárias, culturais e esportivas nas favelas encontra-se diretamente vinculada à aplicação por parte do mesmo de uma política econômica que favorece a burguesia e o imperialismo. Mosca defendeu também a legalização das drogas como forma de combater o tráfico (um dos mais lucrativos negócios capitalistas), chamando à atenção para o fato de que a dependência dos consumidores de entorpecentes deve ser encarada como uma questão de saúde publica, e não uma “questão de polícia“.

Da platéia, na qual se encontravam ativistas de diversas entidades, partidos de esquerda e movimentos sociais, além de moradores do Alemão, também surgiram colocações muito interessantes e diversificadas. O debate ocorrido foi o primeiro de uma série de outros sobre o tema que o ILAESE pretende promover no próximo período.