Hugo e Jorge Mansilla, em frente a delegacia onde estavam presas Elsa Orosco e Selva Sánchez

Publicamos abaixo a entrevista de Hugo Iglesias ao jornal Lucha Socialista, da Frente Obrera Socialista (FOS), partido argentino da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT). A conversa aconteceu poucas horas depois de Hugo deixar a 3ª delegacia de Caleta Olivia, onde, com Jorge Mansilla e Mauricio Perancho, passou os últimos oito meses de sua vida. Ele estava um pouco mais calmo, depois de ter festejado com suas companheiras que passaram esse tempo na 4ª delegacia, de ter reencontrado os amigos, os companheiros do partido e de outras organizações que durante todo o dia o visitaram ou falaram com ele pelo telefone.

Lucha Socialista – Por quais razões políticas vocês foram libertados?
Hugo Iglesias –
Essa pergunta é fácil de responder. Saímos porque há uma mudança na situação nacional. Saímos porque as recentes lutas dos trabalhadores fizeram com que se fortalecesse e tivesse maior repercussão a extraordinária campanha nacional e internacional que foi feita por nossa libertação. Tanto que, no final, até a Igreja teve de pedir por nossa liberdade. Por isso, saimos, pela campanha e pelas lutas dos trabalhadores.

Como vocês se sentiam quando ficavam sabendo da campanha por sua libertação?
Hugo –
Era muito emocionante. Imagina, saber que nossa situação era discutida no congreso da Suteba (sindicato dos professores), na greve do metrô, nos frigoríficos, nas escolas, até no Instituto 50, onde estudei. Receber a colaboração de nossos companheiros com os quais conseguimos trabalho, lutando juntos. Saber que eram feitos atos por nós em Moscou, em Kiev, em Madri, em Barcelona, em Assunção, em Lima, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Londres. Receber cartas de trabalhadores de diversas partes do mundo, de crianças de escolas primárias. Saber que parlamentares de nosso país, do México, da França, do Brasil, pediam por nós. Saber que nossos companheiros do FOS passaram todos os dias do Fórum Social Mundial divulgando a nossa causa e recolhendo dinheiro para ajudar nossas famílias. Saber que, em todas as marchas ou atos, os trabalhadores, desempregados, estudantes davam sua colaboração para que nossas famílias não passassem necessidades. Receber ajuda econômica de sindicatos do Brasil, da Espanha, de outros países.

Isso foi assim até o último momento, ainda ontem lemos um pedido por nossa libertação, enviado diretamente por Jaime Solares, o máximo dirigente da COB boliviana. Saber que tudo isso estava acontecendo do lado de fora era muito importante para manter a moral alta e a confiança de que mais cedo ou mais tarde os trabalhadores nos tirariam da prisão.

Eu quero agradecer a todos os que nos ajudaram, a todos os que assinaram pedidos por nossa liberdade, nos escreveram cartas, deram sua colaboração econômica para nossas famílias. Mas quero fazer um agradecimento especial. Não quero que me vejam como um sectário, mas quero agradecer especialmente a meus companheiros do FOS e da LIT-QI. Eles impulsionaram e dirigiram esta grande campanha. Eu me sinto muito orgulhoso de meus companheiros e de meu partido.

E agora Hugo, quais são seus planos?
Hugo –
Neste momento, vou dar uma volta pelas ruas de Caleta com Maria e meus filhos. Quero sentir o prazer de caminhar ao ar livre. Depois, é preciso continuar lutando. Contra o saque imperialista, por trabalho, por salário e por um mundo novo, dirigido pelos trabalhadores. E uma das coisas que temos que fazer agora é aproveitar a vitória que foi nossa libertação para fortalecer a campanha pela liberdade de todos os presos políticos.

O governo errou conosco. Quis nos usar como exemplo pra ver se nos quebrava e criava medo, para acabar com as lutas. Se deu mal. As lutas não pararam, nem em Caleta. Ao contrário, se aprofundaram e nós estamos mais abnegados e fortes do que nunca!

Nossa liberdade foi uma grande vitória. Agora temos de seguir adiante, pela liberdade e pelo fim do processo contra os presos daqui e de todos os lutadores. Que não fique um único preso por lutar neste país.

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