Queremos nesse assunto
Mergulhar profundamente
Pra mostrar uma estatística
Que muda diariamente,
A horrenda homofobia
Crescendo mundialmente.

Por isso, nesse cordel
Vamos por em evidência:
Que quem curte o mesmo sexo,
Ou pra isso tem tendência,
Foi sempre desrespeitado
E vítima da violência.

Homossexualidade
Sempre tema especial
Outrora foi esquecido
Mas no momento atual,
É lembrado, pois faz parte
Da história universal.

Nas aldeias primitivas,
Toda a sexualidade
Se vivia livremente
Dentro da comunidade
Com sexo oposto ou não
Naquela sociedade.

O homossexual
Existente no passado
Vivendo em grupo ou em tribo
Tudo muito organizado
Nunca foi por causa disso
Um ser desconsiderado.

Surge a propriedade
E com ela a exploração
Nisso as relações humanas
Sofrem a transformação
Do coletivo ao privado
Gerando a desunião.

Da ordem matriarcal
Chega o patriarcado
O homem cheio de poderes
Implantando o seu reinado
Submetendo as mulheres,
Ao seu insano mandado.
Para contar essa história
Faltou sincera abordagem
E o homossexual
Hoje constrói uma imagem
Perante a comunidade
Com muita luta e coragem.

No decorrer da história:
Homossexualidade
Foi vivida por pessoas
De toda sociedade
Que para expressar prazer
Não temeu atrocidade.

Também deusas e rainhas,
Envolvidas sempre estão
Mulher com outra mulher
Homem com homenzarrão,
Portanto, é coisa antiga,
Não recente invenção.

Dos deuses gregos se fala
Da bissexualidade
Que amavam suas esposas
Mas, tinham intimidade,
Com homens belos dos reinos
Iam além da amizade.

Quando a Russa conseguiu
Por fim ao capitalismo
Aboliu as leis machistas
Impostas por czarismo
Mas ressurgem novamente
Com força no stalinismo.

A polícia em New York
Num ato de puro mal
No Stonewall um bar
Faz um ataque imoral
Persegue quem tá presente
Por questão sexual.

No ano sessenta e nove (1969)
A polícia entra no bar
Travestis tocaram fogo
Pedras, garrafas no ar
Quatro noites de confrontos
Pelo direito de amar.

Nas várias ruas do bairro
Nesse final de semana
Pipocam muitos protestos
Contra ação tão insana
De uma polícia assassina
Cruel, perversa e sacana.

Há muito, a polícia vinha
Perseguindo aquele bar
Freqüentadores cansados
Começaram a se zangar
Enfrentaram a soldadesca
Pra bater ou apanhar.

E como rebelião
Ficou assim conhecida
E essa luta ardorosa
Tem ponto de partida.
Vai o movimento às ruas
Com marca reconhecida.

No Brasil tudo começa
Lá pelos anos setenta
Rio de Janeiro, São Paulo
Onde a ideia se fomenta
Se pregando a tolerância
Por igualdade argumenta.

Organizam a resistência
O Somos e o Lampião
Grupos que juntaram gente
Na rua deram a lição:
Alimentar preconceito
É ter discriminação.

Lesbos, ilha lá na Grécia
Lugar que a Safo nasceu
Uma mulher bem guerreira
Que direitos defendeu
Vem aí o termo lésbica
Onde essa mulher viveu.

As cores do arco-íris
Deu seis faixas a bandeira
Gilbert de São Francisco (EUA)
Teve ideia de primeira
Junto ao triângulo rosa
Simboliza a luta inteira.

Para poder reprimi-los
Numa guerra desastrosa.
A tropa nazi-fascista
Com sua ação perigosa
Castigaram gays e lésbicas
Por relação amorosa.

A sociedade de hoje
Alimenta a opressão
Diz combater injustiça
Mas promove exploração
Atacando com calunia,
Desonra e difamação.

O direito de expressão
Da sua identidade
Jamais deve ser negado
Porque fere a liberdade
E a garantia de tê-la
Como a máxima equidade.

Homossexualidade
É uma orientação
Onde as pessoas do mesmo
Sexo tem a relação
Afetiva e amorosa
De vivência e de paixão.

Qualquer ser humano tem
Direito de controlar
O corpo, alterar o gênero
O que quiser implantar,
E o sexo em que nasceu
Caso queira, até mudar.

Essa parte social
É bastante reprimida
Quase não pode assumir
O que escolheu para vida
Por conta da violência
Que ainda a intimida.

Graças a luta ferrenha
Direitos têm conquistado,
Mas, ainda pelo mundo
É um ser discriminado
E este indiferentismo
Precisa ser rechaçado.

A lei diz que os brasileiros
São iguais na sua frente
Mas, não é isso que vemos
No Brasil infelizmente
A homofobia existe,
O preconceito é crescente…

É preciso uma reforma
No nosso Código Penal
Eivado de distorções
De equívocos, em geral
Que sobre a questão do sexo
Por certo não é igual.

Homossexualidade
Foi vista como doença
É falsidade e mentira
Seja da política ou crença
Tal invenção jamais foi,
Algo além de uma ofensa.

Já colocaram nas mentes,
A patologização:
Relações com o mesmo sexo
É distúrbio e perversão
E se construiu a trilha
Para a discriminação.

A medicina afirmava:
É uma desordem mental
Portanto deverá ser
Tratada no hospital
Pra que tal desequilíbrio
Possa voltar ao normal.

Mulheres, negros e índios,
Três setores oprimidos
Junto ao GLBT
Sempre foram esquecidos
Do convívio social
Completamente excluídos.

Na história sempre foram
Só tratados com desprezo
Foco de muita injustiça
Pra quem já tá indefeso!
E o grupo GLBT
Do ataque não sai ileso.

Gays e lésbicas no Brasil
Há muito são perseguidos
Levam facada e pancada
De verdadeiros bandidos
E quem comete tais crimes,
Raramente são punidos.

Não é só no futebol
Que o Brasil é campeão
Em crime de homofobia
Possui forte seleção
Preconceito, assassinato
O troféu já tá na mão.

Até grupos de extermínio
Surgiram pra lhes matar
Pessoas que não aceitam
Os quiseram eliminar
Tal absurdo a justiça
Tem por dever evitar.

Somente em dois mil e oito
São vários assassinatos
Um crime a cada dois dias
Nos mais horrendos relatos
De mortos selvagemente
Jogados dentro dos matos.

“Brasil sem homofobia”
Governo faz a campanha
Mas o crime só aumenta
E nas ruas o gay apanha
Nas políticas dos governos
Impunidade é quem ganha.

Hoje a visão sobre o gay
Não corresponde a verdade
Cheia de tabus e mitos
Fere a sexualidade
Se não existe respeito,
Em meio a diversidade.

No passado, pra igreja
O “pecador” ia arder
Era lenha na fogueira
É fumaça, vai feder
A inquisição é morte
Pra quem desobedecer.

Para a igreja é desvio
E também muita fraqueza
Mas quem se torna assumido
O faz com toda firmeza
Que jamais acha doença
Muito menos safadeza.

É uma tentação terrena:
Homossexualidade
Dizem assim as igrejas,
Convictas dessa verdade,
As pessoas que praticam
Sofrem uma enfermidade.

A Bíblia para o cristão
Que a segue é mandamento:
“Homem não deite com homem
Pois, não há consentimento,
Pois quem assim proceder,
Tem um mau comportamento.”

Completa ainda avisando:
“Quem faz isso há de morrer
Desviou-se do caminho
De Deus e não vai viver,
Quem age dessa maneira
Ao certo vai perecer.”

Travestis, lésbicas e gays,
Com os transexuais
Todos são discriminados
Tachados como anormais
Daí lutam por direitos
Humanos e sociais.

Grandes são suas paradas
Que tem virado uma festa
Um espaço pra denúncia
E se curar cada aresta
Mas tem ONG interferindo
Demais e assim não presta!

Em pleno capitalismo,
É forte a homofobia
A velada indiferença
Faz parte do dia-a-dia,
Um Brasil igualitário
Ainda é mera utopia!

Se no local de trabalho
Exercendo a profissão
Ou a despeito do sexo
Sofrer discriminação
Exija para o autor
Uma enérgica punição.

A maioria das pessoas
Sabem tão bem condenar.
Aponta o dedo pra o outro
Mas se esquece de lembrar,
Que a sua conduta errada
Leva alguém se machucar.

Há tantos vivendo juntos,
Formando até um casal.
E muita gente achando
Tudo isso bem normal
E diversos julgadores,
Com preconceito mortal.

Sem saber que há países,
Que se casam no civil
E podem adotar filhos
De forma muito sutil
Mas isso não é o caso
Do nosso imenso Brasil.

E os termos ofensivos,
Que tantos gostam de usar:
“Fresco, veado e baitola,
Sapatão, bicha” é vulgar
Sempre se diz com ofensa
Para poder humilhar.

O respeito deve estar,
Em qualquer um coração
Independente do sexo,
Se tem ou não formação,
Filosofia de vida,
Política ou religião!

Trate todo mundo bem,
Jamais seja indiferente
E compreenda enquanto
O tempo for paciente
Pra língua não cobrar caro
Seu veneno de serpente.

Negar a sua existência
Seria leviandade,
Visto o grupo crescer tanto
Em toda a humanidade
Como pessoas normais
Dentro da sociedade.

Tentamos nesse cordel
Falar do tema com jeito.
Mostrando que adianta
Desarmar o “pré” conceito
Pra que todo mundo seja,
Tratado com mais respeito.

Nando Poeta nasceu em Natal (RN), em 5 de novembro de 1962. Filho de Manoel Soares dos Santos e Cleonice Soares dos Santos. Professor e sociólogo, militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado.

Varneci Nascimento é graduado em História, autor de quase 200 folhetos de Cordel sobre as mais variadas temáticas

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