Estudantes que lutam pela democratização da moradia enfrentam violênciaNa Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) a moradia estudantil é um dos graves problemas que os estudantes enfrentam. A UFOP possui um patrimônio de 53 imóveis, cedido aos estudantes sem regulamentação dos critérios de entrada e permanência nestas casas: são as chamadas repúblicas federais. O que parece ser um sistema bem sucedido de autogestão mascara o pouco caso das reitorias, que não mantêm a estrutura física das casas e sustentam um critério de admissão arbitrário que inclui trotes, preconceitos e o pagamento de uma quantia mensal.

A questão da moradia na UFOP tem, portanto, dois problemas principais: um, de caráter nacional, o sucateamento da universidade pública, o corte das verbas para educação e conseqüentemente para a assistência estudantil; outro, de caráter local, que é a utilização de critérios absurdos na admissão e permanência dos estudantes nas repúblicas federais.

Há alguns meses os estudantes se organizaram em um Movimento pela Democratização da Moradia Estudantil, cujas principais pautas são: contra os trotes, a homofobia, o machismo e a cobrança de qualquer quantia financeira que vincule a permanência do estudante no espaço que é de todos. Pelo acesso às repúblicas federais através do critério sócio-econômico.

Inúmeras foram as ações violentas contra os estudantes que se engajaram nesta luta: folhas do abaixo-assinado feito pelo movimento foram arrancadas das mãos de um estudante, ocorreram ameaças de agressão física e de morte. Uma manifestação ofensiva e preconceituosa ocorreu no restaurante da universidade, na qual um grupo de moradores das repúblicas federais abordou estudantes que participam ou apóiam o movimento, numa clara tentativa de intimidá-los. “Uma aluna do curso de Artes Cênicas estava sendo humilhada por um grupo de estudantes na hora do almoço. Injúrias absurdas como prostituta, piranha, vagabunda, etc.” (Trecho do texto sobre o ocorrido de autoria do Professor do Curso de Artes Cênicas Luciano Flávio de Oliveira).

Luciano Flávio também foi insultado, por tentar defender uma aluna. “Um aluno trajando uma camisa da República FG (Fundação Gorceix) retribuiu chamando-me de “veado”, “gay de Artes Cênicas”, escreveu o professor.

No dia 14 de abril, sexta-feira da Paixão, o som em volume alto na república PIF PAF inviabilizou a procissão religiosa, num ato de intolerância e desrespeito à cultura da cidade. Moradores desta república mantiveram os fiscais, que mediam o volume do som, presos sob ameaças de agressões. Esse fato só veio a somar o rol de violências e agressões que a reitoria da UFOP propicia, ao tratar os bens públicos com pouco caso.