Hillary Clinton
Reprodução

A candidatura da senadora de Nova Iorque Hillary Clinton, uma das favoritas na disputa presidencial norte-americana, como a candidatura de Barak Obama, também vem suscitando intensos debates nos Estados Unidos. Afinal, a eleição da ex-primeira dama pode representar um fato histórico no país: seria a primeira mulher a assumir a presidência dos Estados Unidos. Algo que vem entusiasmando amplos setores do movimento feminista norte-americano.

“Eu de fato quero que Hillary Rodham Clinton assuma a Casa Branca, mas até a sua derrota em Iowa eu não tinha percebido o quanto desejava isso, ou até que ponto isso estava vinculado ao fato de ela ser mulher”, declarou ao um jornal do país Allison Smith-Estelle, diretora do programa contra violência doméstica em Montana. Como ela, muitas outras mulheres vêm se incorporando à campanha Clinton.

Hillary, evidentemente, tenta capitalizar esse apoio. Por isso, ela se apresenta com uma candidata favorável à manutenção do direito ao aborto, mesmo que muitas vezes tenha se posicionado contra diante de platéias mais conservadoras.

Por outro lado, Hillary Clinton vende a imagem se ser a candidata que tenta romper, como ela mesmo disse, “o mais elevado e duro teto para o avanço profissional” nos EUA.

Esse discurso de Hillary, porém, apóia-se numa ampla campanha ideológica realizada pela burguesia nas últimas décadas. De que, sob o capitalismo, a opressão machista vem diminuindo em função da maior “integração das mulheres ao mercado de trabalho”. Contudo, como toda ideologia, isso é uma completa inversão da realidade. O fato de existir uma maior integração da mulher ao mercado de trabalho não significa uma progressão que a levará ao fim da opressão machista.

Sob o capitalismo, a dita “integração” significa um aumento da exploração das mulheres, que são submetidas a baixos salários, trabalhos precarizados, muitas vezes acompanhados da mais completa falta de direitos, além das segunda e terceira jornadas que são obrigadas a fazer em suas casas.

Muitas pesquisas mostram com bastante clareza os resultados da opressão machista. O salário médio das mulheres trabalhadoras tem sido pelo menos 50% inferior ao dos homens. Por isso, o discurso da “integração” é uma mascara ideológica para esconder a manutenção da superexploração sobre as mulheres trabalhadoras. Uma exploração que é garantida por gente como Hillary Clinton e seu Partido Democrata.

Além disso, o fato de ser mulher não iguala Hillary às milhões de trabalhadoras norte-americanas exploradas. Hillary não precisa lavar louça e roupa, limpar a casa, cozinhar e cuidar de filhos depois de uma jornada árdua de trabalho. Pelo contrário, Hillary ajuda a manter esta situação entre as mulheres.

Camaleão
Representando o establishment do Partido Democrata (além de ser apoiada por uma enorme máquina eleitoral), Hillary é um verdadeiro camaleão político, mudando de posição conforme as conveniências.

Um dos maiores exemplos se deu com a guerra do Iraque. Em 2002, a bancada dos democratas no Congresso votou a favor da resolução que autorizou o presidente George W. Bush a invadir o Iraque. A senadora Hillary votou a favor da guerra. Na ocasião, ela aproximou sua retórica do conservadorismo, mostrando que poderia ser tão dura quanto os republicanos com os inimigos externos.

Mas, na medida em que a guerra se tornou cada vez mais impopular entre os norte-americanos, Hillary mudou de discurso e, de forma oportunista, diz ser hoje contra a guerra! Dessa forma, a senadora tenta aliviar as pressões que sofre da base democrata (que nunca engoliu seu apoio à guerra), ao mesmo tempo em que tenta se apresentar com alguém que é “capaz de resgatar a falida ocupação do Iraque”.

Por outro lado, no terreno da economia Hillary defende o receituário neoliberal para combater a recessão da economia norte-americana. Tal como o ex-presidente democrata Bill Clinton, a pré-candidata é uma grande defensora das novas ferramentas de saque imperialista na América Latina, como o Nafta e a Alca. Vale lembrar que foi justamente na gestão Bill Clinton que os tratados de livre comércio foram impulsionados.

Em relação à política interna, apesar de ter de diferenciar-se em alguns temas, como os impostos, ela defende o aprofundamento da mercantilização dos serviços públicos.

Saúde de 3° mundo
Por incrível que parece os EUA sofrem de uma grande crise na aérea da saúde. Atualmente, mais de 80 milhões de pessoas carecem de seguro de saúde no país. O país mais rico do mundo apenas possui 135 hospitais públicos.

A crise na saúde pública fez prevalecer nos EUA o modelo de assistência privada. A senadora Clinton defende esse modelo e disse que todas as pessoas devem ter algum seguro privado. Detalhe: o seguro privado será subsidiado pelo Estado. Não é à toa que as seguradoras de saúde figuram como os mais importantes doadores de campanha Clinton.

Mas o problema para muitas famílias não é a falta de seguro de saúde, mas o seguro que eles já têm. Os planos limitam o atendimento dos usuários. Há várias histórias dos horrores praticados pelas seguradoras, que negam cuidados necessários, acesso a especialistas, diagnósticos, etc., a pessoas que não tem condições de pagar mais. A maioria que sofre com esse quadro são negros e latinos.

A mercantilização da saúde levou inclusive o cineasta Michael Moore a fazer o documentário “SiCKO”, que trata das carências do sistema de saúde nos EUA.

Como ele mesmo explica: “o setor de seguros pratica uma fraude sistemática para otimizar os lucros de seus acionistas, negando cobertura aos pacientes, a pesar de que eles não têm alternativas”.

Fachada progressista
Historicamente o Partido Democrata conserva uma fachada “progressiva”, do tipo o imperialismo com “rosto humano”, que é alimentada, inclusive com a participação das minorias negra e hispânica, dos homossexuais, feministas e dos sindicatos.

Mas o Partido Democrata é tão imperialista quanto o Republicano, por isso, defende e defendeu o sistema imperialista com toda a sua força.

Na longa lista de crimes contra humanidade dos democratas estão a guerra do Vietnã, o patrocínio de golpes militares pela América Latina nos anos 60 e até a utilização pela primeira vez na história da bomba atômica, sob a presidência de Henry Truman em 1945.

Com Hillary muda-se a mascara, mas a opressão e a dominação imperial continuarão a mesma.