Uma das mais instigantes escritoras brasileiras (e menos reconhecida, apesar de ter sido traduzida para o francês, o inglês, o italiano e o alemão), morreu no dia 4 de fevereiro, aos 73 anos. Autora de 38 livros (incluindo contos, romances, poesia e peças de teatro), Hilda Hilst teve uma trajetória única na história de nossa literatura.

Sua carreira começou aos 20 anos, em 1951, quando era estudante de Direito, em São Paulo, com os livros de poesias Presságios e Balada de Alzira. Dezesseis anos depois, decidiu trocar o excesso de urbanidade de São Paulo por um sítio no interior do estado, onde viveu até a sua morte cercada por dezenas de cães e envolta num clima de misticismo, crenças “exóticas” e um fascínio pela existência de vida extra-terrestre.

Em 1990, cansada da pouca atenção recebida para sua obra, ela enveredou por aquilo que chamava de “escrita erótica” (pornográfica, aos olhos dos mais conservadores), escrevendo uma trilogia de romances — O caderno rosa de Lory Lambi, Contos d’escárnio/textos grotescos e Cartas de um sedutor — que causou escândalo ao abordar toda e qualquer variedade da sexualidade que se possa ter notícia.
Depois vieram os não menos escandalosos Do desejo e Bufólicas, com poesias eróticas, recepcionados pela crítica francesa como sendo responsáveis “pela elevação da pornografia à categoria de arte”.

Evidentemente excêntrica, Hilda também sempre esteve à frente de seu tempo no que se refere à defesa dos direitos das mulheres e de sua própria independência. Em seus escritos, o universo do sagrado e do místico, da sexualidade, da loucura e da morte mescla-se com uma incontestável paixão pela vida, como demonstra o poema abaixo.

Entre seus livros, destacam-se os premiados Ficções (1977), Com meus olhos de cão e outras novelas (1986), Cantares de perda e predileção (1983), Rútilo nada (1993).
(Wilson H. da Silva)

Post author Wilson H. Silva, da redação
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