Após seis dias de confronto armado com o Al Fatah, partido do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, combatentes das milícias do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) tomaram o controle da Faixa de Gaza no último dia 14.

O grupo islâmico declarou vitória depois de ter tomado os principais centros de comando do Fatah, inclusive o quartel-general das Forças de Segurança Preventiva na Cidade de Gaza.

Logo após a vitória do grupo, Abbas deu um golpe de Estado e dissolveu o governo de coalizão, destituindo o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas. Abbas também declarou estado de emergência nos territórios palestinos e anunciou que formaria um governo de transição chefiado por Salam Fayyad, ex-funcionário do Banco Mundial e do FMI. O Hamas rejeitou o “governo” proclamado por Abbas e disse que sua decisão não tem validade. “O premiê Haniyeh continuará a ser o chefe do governo, mesmo que ele seja dissolvido por Abbas“, disse o porta-voz do grupo.

Origem dos conflitos
As razões dos conflitos atuais estão na política adotada pelo imperialismo e por Israel desde que o Hamas conquistou a maioria do parlamento palestino, em janeiro de 2006. A vitória expressou a revolta e a frustração dos palestinos diante dos governos do Fatah, marcados pela corrupção e pela colaboração com Israel.
Nos anos 90, após os acordos de “paz” de Oslo e a criação da ANP, o Fatah (que anteriormente dirigira a luta palestina) passou a cumprir um papel de governo colaboracionista. Depois que Abbas assumiu a presidência, o governo da ANP passou a adotar posturas semelhantes às de outros governos fantoches do imperialismo na região, como o de Karzai no Afeganistão, ou mesmo dos mais antigos, como as monarquias da Arábia Saudita e Jordânia.

O imperialismo e Israel nunca aceitaram a eleição do Hamas, que representou um golpe em seus planos de construir um governo palestino totalmente serviçal aos seus interesses. Por isso, fortaleceram Abbas na disputa pelo controle do governo palestino e colocaram um dilema para o Hamas: ou reconhecem o Estado de Israel e baixam a cabeça, ou serão esmagados.

O cerco em torno ao Hamas foi se fechando em todas as esferas: política, militar e financeira. Em março de 2006, foi anunciado um boicote econômico internacional à Palestina, que trouxe mais fome e destruição e visava minar a popularidade do Hamas. Em seguida, o imperialismo buscou fortalecer militarmente o Fatah com a criação da Força de Segurança Preventiva, dirigida pelo coronel Mohamed Dahlan, homem em que os EUA apostavam para derrotar o Hamas.

Essas ações foram combinadas com a operação militar israelense “nuvens de outono”, de novembro de 2006, que provocou ataques genocidas à população de Gaza. Explodiram os maiores choques armados entre as milícias do Fatah e o Hamas.

Fórmula para guerra civil
Em fevereiro, o imperialismo enviou mais armas e dinheiro para o Fatah e suas milícias. Na época, o jornal israelense “Yediot Aharonot” dizia que o grupo era financiado “por fundos da Europa” transferidos diretamente para Abbas. O jornal ainda fazia menção às intenções de Dahlan de criar um exército unificando as facções do Fatah, cujo objetivo era fazer frente ao Hamas. Segundo a Reuters, EUA e Israel também enviaram fuzis para o coronel.

Em maio, Israel fez novas intervenções militares procurando enfraquecer o Hamas, realizando prisões e “assassinatos seletivos” dos seus dirigentes. Até o primeiro-ministro palestino foi ameaçado de morte.

Derrota imperialista
A tomada de Gaza pelo Hamas foi uma derrota do imperialismo e de seu aliado Abbas. O governo da ANP foi ocupado por uma burguesia corrupta, interessada em embolsar a “ajuda humanitária” que recebe da Europa e dos EUA e empregá-la em negócios escusos, lucrando em cima da desgraça da população.

Apesar do apoio militar do imperialismo, a crise do Fatah em Gaza ficou evidente na completa ausência de apoio popular. Muitas das forças que o Fatah esperava que estivessem ao seu lado não tomaram parte no conflito. Alguns líderes locais do grupo decidiram realizar pactos de não-agressão com o Hamas. Foi no mínimo sintomática a viagem ao Egito do coronel Dahlan, alegando “tratamento de saúde”.
O imperialismo, por sua vez, saiu rapidamente em socorro ao seu aliado e apoiou o golpe de Estado de Abbas. “Damos apoio total a ele “, afirmou a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, também prometeu tomar atitudes a favor de Abbas. “Israel fará o que puder para ajudar os moderados na Autoridade Palestina após o radical Hamas tomar Gaza à força“, disse. A União Européia seguiu os mesmos passos e declarou apoio a Abbas.
As declarações procuram estimular o Fatah a utilizar seu peso social e seu aparato, que se mantêm na Cisjordânia, para dividir os palestinos e conduzi-los à guerra civil, o que só beneficiaria o imperialismo e Israel.

Unidade contra o imperialismo e seus aliados
É preciso se opor à política de Abbas, apoiado pelo imperialismo, que favorece um cenário de guerra civil na Palestina. Nesse momento é muito importante realizar um chamado a todos os que desejam resistir a Israel e seus parceiros. O Hamas precisa estar à frente desse chamado a todas as organizações da resistência palestina, da esquerda e das próprias bases do Fatah, a romper com seu corrupto presidente e repudiar seu golpe. A paz só virá com a luta intransigente e até o fim contra o Estado de Israel e a construção de uma Palestina soberana, laica, democrática e não racista, com retorno de todos os refugiados.

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