Carole, da delegação do Haiti, denuncia brutalidade das tropas brasileiras no país caribenho

“A MINUSTAH para nós é o braço armado do imperialismo mundial e da oligarquia nacional”, afirma Carole Pierre Paul Jacob, integrante da Solidariedade das Mulheres Haitianas (SOFA), que realizou uma palestra no último dia 18, quinta – feira em Salvador.

A atividade, que é parte do calendário da delegação do Haiti no Brasil, contou com a participação de militantes do movimento negro, estudantes e trabalhadores.

Organizações como Disk Racismo, Jubileu Brasil (BA), do CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais), membros do Terreiro Ilê Axé Oxumaré e da ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) estiveram presentes na atividade que reuniu cerca de 60 pessoas no auditório do CEPAIA, Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos.

Na palestra, Carole Pierre destacou o verdadeiro papel das tropas da ONU no Haiti: “o objetivo da ocupação é fundamentalmente econômico. Não é uma missão para ajudar o Haiti. Um haitiano vive com menos de 1 dólar por dia e o dinheiro investido pela ONU na ocupação é gasto com armas. Todos os atos da MINUSTAH favorecem a oligarquia nacional e as multinacionais que se instalam no Haiti” .

Repressão
Carole Pierre denunciou ainda o papel das tropas de reprimir as mobilizações populares. Desde o início do mês, o Haiti vive um intenso processo de lutas pelo aumento dos salários. Os protestos cobram a implantação de uma lei aprovada em abril pelo Congresso Nacional do Haiti que reajusta o salário mínimo de U$ 1,7 diários para 5 dólares diários. No entanto, há 3 semanas a Minustah reprimiu brutalmente as mobilizações unificadas entre estudantes e trabalhadores. Dois estudantes foram mortos, um deles executado a bala e o outro por golpes de coronhada de soldados da Minustah.

Segundo Carole, essa não foi a primeira vez que os soldados da Minustah agiram com brutalidade contra a população haitiana. Em 2005, mais de 300 soldados realizaram uma grande ofensiva em Cité Soleil, um dos bairros mais pobres da capital Porto Príncipe. Nesta ocasião, a Minustah foi protagonista de um enorme massacre.

O Haiti é aqui…
Durante a atividade, militantes do movimento negro denunciaram o papel repressor da polícia de Wagner nos bairros da periferia de Salvador. “A estrutura de ataque ao povo negro e pobre perpetua também no Brasil. Negro é sempre suspeito. O que as tropas brasileiras fazem no Haiti , a polícia faz aqui” , afirmou Nilde Sena.
Segundo Jean Montezuma, militante do PSTU, “tomemos como exemplo a resistência do povo haitiano quando a polícia de Wagner extermina a população negra da periferia” .

Solidariedade
“Nossa maior luta é a internacionalização da luta” , afirmou Carole ao finalizar sua intervenção na atividade que reforça a campanha pela retirada das Tropas do Haiti. Segundo Carole, a presença da delegação haitiana no Brasil, e a ida da delegação da Conlutas ao Haiti em 2007 simbolizam a importância da unidade entre os povos oprimidos.

Segundo Cecilia Amaral da Conlutas-BA, “os haitianos nos deram grandes exemplos: construíram a 1o Republica Negra do mundo depois de uma vigorosa revolução protagonizada pelos negros. Ao mesmo tempo, demonstram na luta a importância da unidade entre os operários, os movimentos populares e a juventude, pensamento que a Conlutas defende. Esses relatos trazidos pela companheira do Haiti, portanto, são fundamentais para o fortalecimento da unidade dos povos explorados.

Para Lucas Scaldaferri militante do PSTU – BA, “aqui no Brasil, o povo haitiano pode contar, ainda com uma minoria, que está a favor não só da retirada das tropas da ONU do Haiti, mas também da derrota militar do exercito brasileiro. Nós estaremos nas ruas quando o povo haitiano expulsar a ocupação“.