Protesto de estudantes contra a Minustah no dia 25 de maio

Soldados da ONU são apedrejados nas ruas de Porto PríncipeO país abalado pelo terremoto em janeiro vem assistindo uma crescente mobilização contra o governo de René Préval e as forças de ocupação, comandadas na prática pelos EUA com o auxílio da Minustah.

No dia 24 de maio, um estudante da Faculdade de Etnologia que protestava contra o governo foi preso pelas forças da ONU. Frantz Junior Mathieu protestava pelo fato de a Comissão Provisória para a Reconstrução do Haiti ser composta por estrangeiros. A prisão, porém, gerou ainda mais rechaço e os colegas de Mathieu protestaram contra a violência.

Os alunos fizeram um “sentaço”, bloqueando a entrada do prédio da Faculdade. Segundo Didier Dominique, dirigente do Batay Ouvrie (Batalha Operária), organização sindical e popular do Haiti, ” os soldados da Minustah, brasileiros precisamente, entraram no recinto lançando bombas de gás, apesar do lugar ficar ao lado de um dos maiores acampamentos de desabrigados, atingindo idosos e crianças”

Segundo agências de notícias, os estudantes atearam fogo a uma bandeira brasileira em protesto contra a ação do país no comando da Minustah.

O estudante preso e agredido foi libertado na manhã seguinte. “A violência da ação foi tão grande que o oficial político da Minustah teve que pedir desculpas, mas sem dizer se haverá punições“, diz o dirigente. “Mas punir como? Os soldados da ONU não têm que prestar contas ao país!“, protesta.

Mais protestos
Já nesse dia 27 cerca de três mil haitianos protestaram contra Préval no centro de Porto de Príncipe. Mais uma vez, foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo e spray pimenta. Tal violência, porém, vem despertando a fúria dos haitianos. De acordo com a Agência Estado, os soldados da ONU estão aquartelados desde que foram atacados com pedras por moradores da capital.

Nas últimas semanas os protestos contra o governo tem se intensificado. No dia 18 de maio, dia da Bandeira no país, símbolo da soberania do Haiti, houve diversas mobilizações, todas reprimidas. Além de manifestações em Porto Príncipe, houve atos em Arcahaie (local onde ocorrem as comemorações oficiais), que reuniu 600 pessoas e Cap-Haitien, com 3 mil pessoas, essas duas impulsionadas pela Batay Ouvrie. As duas foram reprimidas.

Os protestos vêm se intensificando também devido a uma manobra do governo Préval de se aproveitar da situação de calamidade do país para prorrogar seu mandato. Apesar de reunir setores bastante heterogêneos, que inclui o Lavalas (pró-Aristides), essa recente onda de protestos demonstra de forma inequívoca o desgaste crescente das tropas de ocupação.

Episódios como a queima da bandeira brasileira e dos ataques aos soldados da ONU mostram que, apesar da difícil situação e da repressão, o vulcão Haiti continua desperto.