Hoje, o Haiti é o país mais pobre fora do continente africano. Isto é resultado da brutal pilhagem colonial e imperialista que o país sofreu ao longo de uma história que também está marcada por lutas heróicas.

Uma história que começou em 1492, quando Colombo chegou à então Ilha de Hispaniola (hoje dividida entre Haiti e República Dominicana). Nos cinqüenta anos seguintes a maioria da população indígena original foi exterminada pelos espanhóis e, partir de 1505, com o início do cultivo da cana de açúcar, passou a ser povoada por africanos escravizados.

No século seguinte, depois que as reservas de ouro também se esgotaram, os colonos espanhóis abandonam a ilha, abrindo espaço para a ocupação francesa, fato que foi “institucionalizado” em 1697, quando a Espanha aceitou a soberania francesa na região, que, um século depois, passou a se chamar Haiti, tornando-se (graças ao açúcar) uma das colônias mais ricas do mundo. Uma riqueza baseada na exploração de mais de 500 mil escravos.

A Revolução Negra
Quando começaram a chegar os primeiros ecos da Revolução Francesa, em 1789, as aspirações de liberdade dos haitianos se expressam na voz de Toussaint Louverture, que liderou uma rebelião, em 1804, e resultou na independência do país, após uma intensa luta, que provocou a morte de mais de 200 mil pessoas, a maioria negros, e constitui-se na primeira revolução anti-colonial triunfante na América Latina e a primeira revolução vitoriosa promovida por negros escravizados.

Apesar da vitória a economia haitiana estava em ruínas, fato agravado pelo isolamento imposto pelas potências da época, que temiam que os eventos do Haiti repercutissem em suas próprias colônias.

Além disso, durante anos a França buscou recuperar sua colônia, somente reconhecendo a independência do país em 1838, mediante ao pagamento de 90 milhões de francos, que foram pagos até 1883.

No decorrer do século 19, o peso dessa dívida, a devastação das florestas e o empobrecimento do solo causado pela exploração afetaram o desenvolvimento da jovem república negra e a crescente miséria deu origem a guerras civis e até a divisão do país.

Isso aprofundou o conflito entre os ex-escravos, que sobreviviam no campo, e a nova burguesia urbana, sobretudo mestiça, enriquecida com o comércio de café, inaugurando um período de sucessivos golpes de Estado e motins.

Imperialismo, ditadura e caos
No início do século 20 novos protagonistas entraram em cena, particularmente o imperialismo norte-americano, que, na época, desenvolvia a política do Big Stick (grande bastão), com uma série de invasões a países da América Central e do Caribe. Assim o Haiti foi ocupado pelos EUA entre 1915 e 1934.

Em 1957, a ocupação transformou-se em “gerenciamento” indireto, através da ditadura da família Duvalier (os sanguinários Papa e Baby Doc), varrida em 1986 através de uma imensa rebelião popular.

O presidente Jean Bertrand-Aristide, em ex-padre da Teologia da Libertação, surgiu no cenário político neste período, capitalizando os anseios de liberdade do povo, nas eleições que o levaram ao poder em 1991.

Na seqüência, Aristides deu início a uma espiral de golpes e contra-golpes que mergulharam o país no caos: foi deposto por Bush (pai), em 1991; voltou ao poder com o auxílio dos EUA, em 1994; perdeu as eleições de 1995 e ganhou um novo mandato 2000, num governo cercado por suspeitas de fraude e denúncias de repressão.

Atualmente, o domínio ianque da economia haitiana é quase absoluto. Aliado com uma pequena oligarquia mestiça (menos de 5% da população) e branca (pouco mais de 1%), exploram a maioria negra. Nas últimas décadas, à tradicional produção de café, rum e tabaco, foram agregadas também indústrias de vestuário e de brinquedos para exportação, como as maquiladoras. Nelas as multinacionais pagam salários de fome e ganham fortunas.
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