Martelly, o novo fantoche do imperialismo

No dia 20 de abril, o cantor popular Michel Martelly foi eleito presidente do Haiti. O Conselho Eleitoral Provisório (CEP) anunciou que Martelly obteve 67,57% dos votos, segundo resultados preliminares.

Martelly foi eleito em meio a uma grande crise política, desencadeada após denuncias de irregularidades e fraudes no primeiro turno das eleições, realizadas no dia 28 de novembro de 2010. Na ocasião, poucos haitianos votaram. Somente 27,1% dos eleitores registrados participaram do primeiro turno. Denúncias de fraudes e irregularidades foram feitas por quase todos os candidatos, organismos de observação nacionais e internacionais e inclusive membros do Conselho Eleitoral Provisório. Na época, o então presidente René Préval tentou emplacar seu candidato, Jude Célestin, no segundo turno das eleições. Mas a publicação dos resultados preliminares, que colocavam Célestin e a candidata Mirlande Manigat para a disputa, provocou uma onda de violência e protestos, dirigidos pelos partidários de Martelly.

Diante da crise, a OEA (Organização dos Estados Americanos), a Minustah, o imperialismo norte-americano e a França, antiga metrópole colonial do Haiti, não reconheceram o resultado eleitoral, o que obrigou Préval a recuar. Dessa forma, depois de ser adiado por várias vezes, Jude Célestin foi excluído do processo dando lugar a Martelly que acabou vencendo o segundo turno das eleições.

Mais fraudes
A grande imprensa e os organismos internacionais tentam agora sustentar a credibilidade do processo eleitoral. Mas o segundo turno das eleições não foi tão “limpo” assim como é apresentado pela ONU e a OEA. Uma reportagem da rede de TV Al Jazeera mostrou um local de votação onde todos os documentos tinham desaparecido. Jornalistas independentes também relataram cabos eleitorais de Martelly distribuindo alimentos ilegalmente para a população. Além disso, funcionários da ONU reconheceram que a baixa participação dos eleitores se repetiu novamente. Nas favelas da capital Porto Príncipe era evidente que muita gente seguia com sua vida quotidiana sem se dar conta da eleição.

Uma eleição para legitimar a ocupação
Toda essa crise política evidenciou a farsa do processo eleitoral haitiano, totalmente controlado pelas tropas da Minustah e pelo imperialismo. Só disputaram as eleições os candidatos que foram autorizados pela Minustah. E nenhum deles defendeu a retirada das tropas de ocupação do país.

A crise também permitiu que velhas raposas da política haitiana retornassem ao país para tentar tirar proveito do vácuo de poder. O primeiro foi o ex-ditador Jean-Claude, o Baby Doc. Filho do sanguinário Papa Doc, essa figura sinistra foi expulsa do poder em 1985, após uma revolta popular. Desde então vivia no exílio desfrutando do dinheiro roubado do país.

Outra figura que retornou foi o ex-presidente Jean Bertrand Aristide, que foi o primeiro presidente eleito democraticamente do Haiti em 1991. Ele serviu por mais duas legislaturas entre 1994 e 1996 e 2001 e 2004 — nas duas ocasiões foi retirado do poder por golpes de Estado. Na primeira foi reconduzido ao poder por tropas norte-americanas, enviadas pelo então governo Bill Clinton. Mas o apoio norte-americano foi condicionado a um acordo no qual Aristides se comprometeu implementar todo o receituário neoliberal no país. Já no seu segundo mandato, em 2004, o ex-presidente deixou o governo após uma rebelião armada. Visando estabilizar o país, tropas dos EUA e França ocuparam o Haiti e levaram Aristides à África do Sul. Desde então o país mais pobre das Américas sofre uma ocupação militar chefiada, vergonhosamente, pelo Brasil.

Um novo rosto
Ao longo de sua campanha Martelly tentou mostrar a imagem de “esperança” e de um “futuro melhor” para um país devastado pelo terremoto de janeiro de 2010 e por uma epidemia de cólera trazida por soldados nepaleses da Minustah. Dessa forma, o candidato explorou sua imagem como filantropo e de um homem “preocupado com os pobres”.

Mas toda a campanha de Martelly teve a assessoria de políticos e marqueteiros ligados ao Partido Republicano dos EUA. Sua campanha foi assessorada por uma experiente empresa de marketing baseada em Miami que já trabalhou para John McCain (candidato derrotado por Obama nas eleições dos EUA) e para Felipe Calderón (presidente do México).

Após a vitória, Martelly se reuniu em sua mansão no Haiti com empresários e diplomatas para comemorar o resultado e discutir o “futuro” do país. Muitos dos participantes eram os doadores de sua campanha milionária, inclusive banqueiros.

Sobre a ocupação da Minustah, Martelly manifestou explicitamente sua posição. “Planejo construir uma força nacional, não exatamente Forças Armadas. Não imagino o Haiti em guerra com outros países. Espero construí-la com a ajuda da Minustah [a missão na ONU no país] e outros países com expertise na matéria”, explicou.

O popular cantor haitiano cumpriu um papel decisivo para a política de dominação do imperialismo no Haiti. Seu carisma permite um novo fôlego ao regime do país, sendo uma aposta para reverter a crise política do país. O desgaste de Préval, hoje odiado pela maioria do povo haitiano, colocava em xeque a própria manutenção da ocupação da Minustah, alvo de vários protestos populares no ano passado.

Martelly é apenas um novo rosto para uma velha dominação. Seu governo vai manter a essência da política de Préval, isto é, a abertura do mercado haitiano para empresas estrangeiras, sobretudo as norte-americanas, que pretendem explorar ainda mais a mão-de-obra mais barata das Américas. “Hoje, a ONU aplica cegamente o capítulo 7 da sua Carta, enviando tropas para impor sua operação de paz. Nós não resolvemos a situação de ninguém, mas sim criamos um império. Todos querem fazer do Haiti um país capitalista, uma plataforma perfeita de exploração para o mercado americano, isso é um absurdo”, disse em entrevista o Ricardo Seitenfus, que foi destituído do cargo de representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti por ter criticado a ação das Nações Unidas. Só esqueceu-se de dizer que tudo isso é realizado com o apoio do governo Dilma.
Post author Da redação
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