Grande número de mortos revela descaso dos países com ações de resgate e ajuda médicaAté a tarde desse dia 27 de janeiro, 132 pessoas haviam sido resgatadas com vida sob os escombros do terremoto que devastou o Haiti no último dia 12. Por outro lado, o último balanço da ONU divulgado no dia 25 indicava pouco mais de 112 mil mortos, enquanto o governo do país anunciava a confirmação de 150 mil. Já o general Ken Keen, que comanda os soldados norte-americanos no Haiti, acredita que as mortes ultrapassem 200 mil.

O número de resgatados e de vítimas fatais chega a algo próximo de 1.500 mortos para cada pessoa resgatada com vida. Mais do que a violência e intensidade do tremor, esta relação mostra o fracasso das operações de resgate. Isso ocorre porque os países priorizaram a ocupação militar, deslocando tropas para o país atingido, em detrimento de ajuda médica e de equipes de resgate.

Dupla condenação
Os EUA, a uma hora de vôo do Haiti, preferiu mobilizar e remeter primeiro ao Haiti milhares de fuzileiros navais. Menos de três dias após o terremoto, os EUA tomaram o controle do aeroporto de Porto Príncipe, impedindo a aterrissagem de diversos aviões que levavam ajuda humanitária. A ONG Médicos Sem Fronteira denunciou os EUA por terem impedido o pouso de cinco aviões da entidade.

“Estes aviões transportavam 85 toneladas de material médico”, afirmou a ONG em nota. Os aviões tiveram que pousar em Santo Domingo, capital da República Dominicana, o que atrasou a chegada do suprimento médico às vítimas do terremoto. “Cinco doentes morreram no centro médico de Martissant, por causa da falta de equipamento médico que se encontra a bordo do avião”, afirmou um dos coordenadores da entidade, Loris de Filippe, no comunicado.

Enquanto isso, a imprensa divulgava imagens dos hospitais improvisados superlotados e a falta de equipamentos mínimos para o atendimento dos feridos, o que gerou situações absurdas como amputações sem anestesia. Relatos dão conta de que, nos primeiros dias, a população haitiana contou apenas com suas próprias forças para resgatarem os soterrados, enquanto a ajuda internacional permanecia apenas nas palavras.

A ONG Save the Children estima que 1 milhão de crianças haitianas ficaram órfãs devido ao terremoto. Sem os pais e a família, vagam sozinhas e desamparadas pelas ruas da capital Porto Príncipe.

O povo haitiano está sendo submetido a uma dupla condenação. A miséria do país, mantida por uma ocupação militar, potencializou os efeitos do tremor, que se tornou mais fatal do que seria em qualquer outro lugar. Os que sobreviveram sofrem agora com o descaso da comunidade internacional e a falta crônica de suprimentos básicos, com alimentos e medicação.