No próximo dia 15, a Organização das Nações Unidas (ONU) vai renovar a permanência da Missão de Estabilização do Haiti (Minustah)A missão é liderada pelas tropas brasileiras e mantém no país 6.700 soldados. O Brasil possui o maior contingente, com 1.300 soldados.

As tropas da ONU ocupam militarmente o país desde 2004, após a queda do então presidente, Jean-Bertrand Aristide. Vendida para o mundo como uma suposta “missão humanitária”, a serviço da melhoria das condições de vida da população, a ocupação exerce uma imensa opressão sobre o povo. Nestes cinco anos, ocorreram inúmeras denúncias de violação dos direitos humanos pelas tropas estrangeiras que invadiram o país.

Repressão e mortes
As tropas da ONU agem como forças de repressão. Defendem os interesses da burguesia do país e do imperialismo norte-americano. Um bom exemplo foram as incursões repressivas realizadas pelos soldados da ONU, ao lado da polícia haitiana, para impedir os protestos do 1° de Maio. As tropas da Minustah também foram acionadas para reprimir a luta do povo haitiano pelo reajuste do salário mínimo, o que resultou em pelo menos duas mortes. Em agosto, os soldados foram novamente acionados para deter uma onda de greves dos trabalhadores da indústria têxtil do país.

Nestes cinco anos, nenhuma melhoria foi registrada. O Haiti continua sendo o país mais pobre das Américas, com 80% da população vivendo em situação de pobreza. Atualmente, a soma das riquezas do país, de US$ 6,137 bilhões, é 245,9 vezes menor que a dívida pública brasileira.

As Nações Unidas gastam cerca de 500 milhões de dólares por ano para manter as tropas no Haiti. Uma quantia mais do que suficiente para resolver os problemais fundamentais de seu povo: energia, alimentos, moradia, educação e emprego.

Plano de colonização
O plano do imperialismo norte-americano é transformar o Haiti numa verdadeira colônia, aproveitando sua baratíssima mão-de-obra. Sem a presença militar brasileira, esse plano não seria possível. É a Minustah que assegura a “paz social” para que os trabalhadores do país sigam explorados. Reprime o povo para garantir a vigência do salário mais baixo de todo o continente americano. Além disso, a ocupação militar é fundamental para manter a própria estabilidade no governo do presidente René Préval, que hoje enfrenta desgaste popular.

Para converter o Haiti em uma colônia, o governo dos EUA aprovou uma nova lei que facilita a exportação dos produtos têxteis fabricados pelas maquiladoras instaladas no país. A chamada Lei Hope (Haitian Opportunity for Economic Enhancement) vai dar isenção de impostos às exportações haitianas aos Estados Unidos. Em agosto, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton visitou o país e disse que pretende levar uma missão de empresários ainda em outubro. O americano falou sobre a oportunidade de os empresários produzirem cana de açúcar para produção de etanol no Haiti.

Já no final do mês de setembro, uma missão de empresários liderada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) visitou o Haiti em busca de novas oportunidades de negócio. Entenda-se, explorar a mão de obra mais barata do continente. A entidade representa um dos setores da economia que mais sofreu com a desvalorização cambial e a concorrência com produtos chineses.

Fernando Pimentel, diretor superintendente da associação, que chefiou a comitiva brasileira, foi claro quanto aos objetivos nada humanitários da missão.

“Os trabalhadores haitianos recebem 1,75 dólar por dia e, em outubro, aumentará para 3 dólares por dia, mais 30% de encargos. Se ganhar o prêmio máximo, pode receber 4 dólares mais encargos, ou seja, a mão-de-obra naquele país é muito barata frente ao salário mínimo brasileiro”, disse sem maiores rodeios.

Assim, os empresários brasileiros pretendem utilizar as baratas bases produtivas instaladas no Haiti para exportar seus produtos aos mercados norte-americanos e europeus.

É preciso construir uma ampla mobilização para acabar com a ocupação militar no Haiti, envolvendo o conjunto das entidades sindicais, estudantis, populares, além de organizações de defesa dos direitos humanos. O caminho para impedir a renovação é a denúncia da vergonhosa ação praticada pelo governo Lula contra o povo haitiano.

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