O povo haitiano está enfrentando uma situação de enorme gravidade marcada pela intervenção militar em seu território. Quando escrevíamos estas linhas, a ocupação militar liderada pelo exército brasileiro completava 628 dias. Contudo, o Conselho de Segurança da ONU, logo após os primeiros protestos contra a fraude eleitoral, prorrogou a permanência da ocupação por mais seis meses.

Sob o manto da ONU, as tropas realizam sistemáticas incursões contra bairros pobres haitianos, atiram contra a população civil, intimidam mulheres e crianças e ainda acobertam tocais realizadas pela assassina Polícia Nacional Haitiana.

De acordo com o relatório da Missão Internacional de Investigação e Solidariedade com o Haiti, realizado por organizações dos movimentos sociais latino-americanos “as mulheres que estavam numa clinica de uma dos bairros marginalizados que visitamos, denunciaram sem cansar o assédio sexual do qual são vitimas permanentes assim como, nos melhores casos, os gritos e gestos violentos das tropas”.

Em julho, um enfrentamento de dez horas de tiroteios entre tropas de MINUSTAH e populares do subúrbio de Cité Soleil terminou com 7 homens mortos segundo fontes oficiais ou 23 civis assassinados, segundo o relato dos moradores.

O papel repressivo das tropas de “paz” da ONU ficou ainda mais claro na forte onda de repressão desencadeada às manifestações populares contra a fraude. Mas a população não abandonou as ruas, derrotou os planos do imperialismo e fez prevalecer a sua vontade.

Acuado diante da rebelião e com medo de perder completamente o controle da situação, o governo brasileiro foi obrigado a aceitar a vitória de René Prével. Não sem antes consultar seus amos imperialistas em Washington.

Assim, ao contrário das declarações do governo brasileiro e da grande imprensa, tal decisão não foi uma vitória da “diplomacia brasileira”, mais sim um resultado da forte mobilização do povo haitiano que obrigou o Brasil e o imperialismo norte-americano a aceitarem essa saída. O plano inicial de Lula era de dar prosseguimento á fraude. Isso ficou claro quando o Itamaraty, na figura de Celso Amorim, defendia a política de “não intervenção” do governo brasileiro. Mas as lutas prosseguiram e o governo foi obrigado a recuar. Nesse sentido, a vitória produzida pela mobilização das massas foi também a derrota para o governo Lula.

Para a ocupação colonial a situação do Haiti está muito longe da estabilidade. Os enfrentamentos de rua aprofundaram o ódio da população contra as tropas ocupantes. A tendência é que prossigam novos enfrentamentos ainda mais violentos. Como Bush no Iraque, o governo brasileiro está empantanado no país caribenho. O Haiti está se tornando o Iraque de Lula.

Um pouco mais do que soldados…
A estratégia de ocupação militar está diretamente associada a uma ocupação econômica do país. As multinacionais visam transformar o Haiti numa gigantesca área de maquiladoras aglutinadas em zonas francas, pagando um salário pra lá de miserável.

Uma reportagem realizada pelo Estado de S. Paulo revela que empresas automotivas, como Fiat e Volkswagen estão faturando com a exportação de automóveis fabricados no Brasil para o Haiti. Empresas como Sadia ou de vestuário também estão aproveitando a ocupação para realizar lucrativos negócios. Claro que esses produtos são vendidos para a pequena elite do país, e não a maioria da população miserável.

Campanha
A proclamação de Prével foi uma vitória pequena, porém importante das massas haitianas. Contudo, a luta não se encerra aqui. Não é possível haver soberania num país que continua sendo ocupado militarmente a mando do imperialismo. É preciso exigir a saída imediata das tropas brasileiras do Haiti que cumprem um papel semelhante às forças armadas dos EUA no Iraque. Essa bandeira deve ser tomada por todos os ativistas ligado aos movimentos populares, sindical e estudantil do Brasil. É preciso fazer uma campanha denunciando o trabalho sujo que o governo Lula faz para Bush no país caribenho. É preciso que os sindicatos, e entidades do movimento popular e estudantil votem moções exigindo a retirada imediata das tropas.

No dia 18 de março serão realizados atos mundiais contra a guerra no Iraque. Será uma boa oportunidade para que no Brasil associar essa luta a imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti. Vamos as ruas gritar: “Fora já daqui, Bush do Iraque e Lula do Haiti”.

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