O petista e ex-secretário de Palocci, Rogério Buratti, está sendo investigado por intermediar relações corruptas entre prefeituras e empresas do lixoA aproximação entre o PT e a burguesia vai além das alianças políticas e do programa. As alianças, associadas à posição do PT no poder, trazem conseqüências mais profundas. Quadros petistas, ex-sindicalistas, tornam-se dirigentes diretos do capital e mediadores entre o Estado e a burguesia em relações corruptas.

O exemplo mais recente é o caso Buratti, envolvendo favorecimentos a empresas nas licitações para a coleta de lixo em pelo menos 10 cidades do estado de São Paulo, incluindo a capital. A maioria das prefeituras investigadas é do PT.

As licitações como moeda de troca

A abertura de licitações consiste no processo pelo qual uma administração pública dá permissão para que diversas empresas privadas concorram para prestar à administração um serviço, encaminhar uma obra pública ou fornecer algum produto. A administração divulga um edital com as regras e as exigências e escolhe a empresa que tiver o melhor serviço por um menor preço.

Porém, na prática, as regras são outras. Nos processos de licitação para prestação de serviço em limpeza e coleta de lixo em várias cidades do estado de São Paulo, o Ministério Público (MP) investiga uma série de irregularidades. De acordo com os relatórios do MP, o advogado Rogério Buratti e outros executivos da empresa Leão Leão estariam intermediando favorecimentos a essa e outras empresas para o serviço de coleta de lixo.

Tais favorecimentos também estão relacionados à cobrança de propinas e a financiamentos de campanha. As empresas que financiam as eleições de determinados prefeitos querem, posteriormente, receber vantagens. Basta dizer que a empresa investigada nesses favorecimentos, a Leão Leão, foi a maior doadora da campanha eleitoral de Palocci à prefeitura de Riberão Preto em 2000, com R$ 150 mil.

De acordo com os relatórios de investigação do MP, as empresas de outros estados que tentavam participar das licitações públicas em São Paulo eram abordadas por executivos da Leão Leão para desistir da concorrência, ou fazer um acordo.

A história de Buratti

Rogério Tadeu Buratti é um quadro histórico do petismo. Fundador do PT na região do ABC, Buratti assessorou os principais dirigentes do partido, como José Dirceu e João Paulo Cunha. Em Ribeirão Preto, foi secretário da gestão de Palocci na prefeitura de 1993 a 1994, sendo afastado por envolvimento em favorecimentos a empresas em licitações da prefeitura na época. Até a explosão do escândalo Waldomiro, Buratti era vice-presidente da empresa Leão Leão.

Em fevereiro, o Ministério Público Federal investigou a denúncia de que o ex-assessor de José Dirceu, Waldomiro Diniz, havia pedido uma propina de R$ 6 milhões em troca da renovação do contrato da multinacional GTech com a Caixa Econômica Federal. Segundo as orientações de Waldomiro, esse dinheiro deveria ser pago a Rogério Buratti, através de sua empresa BBS Consultores.

Com as recentes investigações do Ministério Público, a Justiça autorizou a quebra de sigilo bancário de Buratti, devido à “ausência de fundamentação da origem de seus bens”. Rogério Buratti possuía em 1993 um patrimônio de R$ 13 mil. Naquele ano, Buratti chegou em Ribeirão Preto para participar da campanha de Palocci dirigindo um Fusca 79. Em março de 2004, seu patrimônio declarado atingiu R$ 1,4 milhão.

Consta no relatório do MP que há indícios de que Buratti recebeu “vultosas quantias em razão de intermediação de contratos”.

História se repete

O caso Buratti não é uma exceção. Não é à toa que o caso se relaciona com o escândalo de propinas cujo centro era Waldomiro Diniz.

Em 2001, a prefeitura de Ribeirão Preto licitou o fornecimento de produtos para cesta básica. O edital exigia uma lata de 330 gramas de “molho de tomate refogado e peneirado, com ervilhas” em cada cesta. O problema era que a única empresa no país que fabricava um produto com tais especificações era a gaúcha Oderich, mesma empresa que fornecia cestas básicas a diversas outras prefeituras petistas.

Em 2002, o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, traz à tona uma investigação que aponta várias versões para sua morte. Uma delas envolveria o pagamento de propinas à administração petista intermediada pelo empresário Sérgio Gomes Silva, o Sombra.

O Sombra, Waldomiro e Buratti são exemplos da prática que o PT vem assumindo de transformar alguns de seus quadros em administradores diretos do capital, estreitando seus laços com o conjunto da burguesia. Outro exemplo evidente disso é do ex-líder sindical e hoje ministro Luiz Gushiken, que atualmente dirige fundos de pensão.

As relações do PT com a burguesia e com o poder do Estado incluem suas sujeiras e relações perigosas. O PT não só as aceitou, como as protagoniza.

ENTENDA O CASO

1) O Ministério Público (MP) investiga favorecimentos feitos a empresas de coleta de lixo em 10 municípios de São Paulo, a maioria administrada pelo PT.

2) Segundo o MP, o ex-assessor de Palocci, Rogério Buratti, da empresa Leão Leão, estaria intermediando favorecimentos a empresas de coleta de lixo.

3) A Leão Leão foi a maior doadora da campanha eleitoral de Palocci à prefeitura em 2000, com R$ 150 mil.

4) O MP investiga o exorbitante crescimento do patrimônio de Buratti. Em 1993 seu patrimônio declarado era de R$ 13 mil, mas em 2004 passou para R$ 1,4 milhão.
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