No início de junho os petroleiros equatorianos realizaram mais uma greve em defesa da riqueza nacional, o petróleo, contra a privatização e enfrentaram um governo que dizia representar os interesses dos trabalhadores.

A eleição de Lucio Gutierrez para presidente, em 2002, gerou uma grande expectativa entre os trabalhadores. Lúcio teve uma participação ativa na insurreição popular, contra a dolarização da economia, que derrubou o governo do presidente Mahuad em 2000.

Nos últimos anos, o Equador tem vivido uma intensa mobilização popular. Os indígenas e os trabalhadores das estatais protagonizaram uma série de lutas. Isso é o que explica que no Equador as empresas de Petróleo, eletricidade, telefonia e água sigam sendo estatais, apesar da onda de privatizações na América Latina.

Uma forte crise econômica

Como parte da política dos EUA de preparar os países para a Alca, a economia do Equador foi dolarizada em janeiro de 2000. A miséria aumentou: agora os trabalhadores convivem com uma inflação em dólares e têm seus salários cada vez mais arrochados.

A dolarização encareceu os produtos do país. Fez despencar as exportações e dispararem as importações. Esta situação levou o país a ficar à beira da quebra.
Diante deste quadro, Lucio Gutierrez tinha dois caminhos a seguir: acabar com a dolarização e romper com o imperialismo, ou aprofundar a entrega do país, satisfazendo os interesses dos banqueiros. Escolheu o segundo.

O governo aplicou um forte corte nos gastos públicos, conforme exigência do FMI. Mas, como isso não foi suficiente para seguir pagando a “dívida externa”, Lucio deu início ao processo de venda das estatais.

A preparação da greve

A greve dos petroleiros se deu em meio a uma onda de lutas: os professores estavam em greve há 27 dias; os trabalhadores do setor elétrico iniciaram uma mobilização contra a entrega de suas empresas às multinacionais e os da saúde preparavam uma greve por tempo indeterminado.

Neste contexto, o governo iniciou o processo de privatização do petróleo e, como primeira medida, demitiu os sindicalistas que dirigiam a estatal Petroequador.
Ao iniciar a greve, o governo lançou uma campanha na TV para disputar a opinião pública, dizendo que os petroleiros são uma aristocracia privilegiada.
Além disso, interveio militarmente nas instalações da empresa para quebrar a greve. Ao final, os petroleiros voltam ao trabalho sem conseguir barrar o projeto de privatização.

O balanço da greve em debate

Agora é preciso tirar as conclusões desta luta. Por que o setor mais combativo dos trabalhadores do Equador, não conseguiu se impor e derrotar o projeto do governo Lucio e do FMI?

Em nossa opinião, o principal problema da greve foi a forma como a direção do sindicato preparou a luta. Alimentou ilusões dos trabalhadores no governo, não unificou as lutas em curso e acabou levando o movimento a uma derrota.

Governo em disputa?

Lucio Gutierrez ganhou as eleições com um grande arco de alianças. Seu governo é composto por: empresários, banqueiros, setor de extrema direita da Igreja Católica; e também conta com a participação de organizações vinculadas às lutas populares, como a CONAIE (Confederação Nacional das Entidades Indígenas); o Pachakutik (partido que tem maioria entre os indígenas); os ex-maoístas do PCMLE (Partido Marxista Leninista do Equador)e dirigentes de sindicatos importantes como o de Petroleiros.

Os dirigentes das organizações dos trabalhadores e do movimento indígena justificam a participação no governo com o argumento de que “como Lucio esteve conosco, na derrubada de Mahuad, ele é um dos nossos que está sendo disputado com a direita”.
Considerando o governo como “em disputa”, vários dirigentes históricos dos petroleiros aceitaram co-dirigir a estatal petroleira Petroequador.

O problema é que a greve não se enfrentou com um governo que estava sendo disputado, e sim com um governo que atua como um agente do imperialismo.

A direção do movimento não preparou a greve para um duro enfrentamento, desarmando os trabalhadores contra o inimigo que iria enfrentar. Ela não podia ir até o fim na greve, pois a preparava no sentido de pressionar o governo e disputá-lo. Nem de longe previa ou se preparou contra a militarização das instalações.

A linha de disputar o governo se mostrou ainda mais trágica ao não unificar os setores em luta pela mesma razão que os petroleiros: contra ataques do governo aos trabalhadores para honrar os compromissos com o FMI. Cada movimento foi deixado à sua própria sorte, permitindo ao governo atuar livremente.

Derrotar o governo

Para o Movimento ao Socialismo, seção simpatizante da LIT no Equador, o movimento operário e popular precisa tirar como principal conclusão política deste enfrentamento, que o governo de Lúcio Guttierez é burguês, pró- imperialista e tem como objetivo derrotar o movimento. Não devemos esperar nada de bom dele. É necessário derrotá-lo.

Post author Victor Hugo e Romel Reys,
do Equador
Publication Date