Brasília - Deputado Jair Bolsonaro fala com a imprensa sobre ter virado réu no STF, pela sua declaração que "Não estupraria Maria do Rosário porque ela não merece" (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O suposto nacionalismo de Bolsonaro é tão falso quanto o passaporte brasileiro de Kim Jon-un

Conquistar a confiança do mercado tem sido a prioridade de Jair Bolsonaro. Recentemente, ele apresentou seu novo guru, o economista Paulo Guedes, que seria indicado para ser seu Ministro da Fazenda caso ele venha a ser eleito presidente. Totalmente ignorante em matéria econômica (e não é só nisso que ele é ignorante), Bolsonaro procurou rapidamente um “especialista” depois dos vexames em entrevistas sobre o assunto que até virou meme nas redes sociais. Assim, caiu nos braços do primeiro rufião que lhe convenceu ser capaz de atrair o apoio do “andar de cima”: Paulo Guedes.

Em recente entrevista ao Valor Econômico (26/02), Guedes revelou o plano de governo que prepara para o pré-candidato. O ponto central é um amplo programa de concessões e privatizações de estatais, capaz de arrecadar R$ 700 bilhões. A torra das empresas públicas tem o objetivo de arrecadar R$ 700 bilhões para pagar 20% da dívida pública federal que está hoje em 7,5 trilhões.

Pensou que o abatimento desse montante da dívida pode liberar mais dinheiro para saúde e educação? Pensou errado. O maior beneficiário do pagamento da dívida é o sistema financeiro. O pagamento anual com juros e amortizações devoram quase 50% do Orçamento Público.

O que torna a dívida um grande negócio rentável são os juros altos – o Brasil tem uma das maiores taxas do mundo. Para manter isso há um imbricado e nebuloso esquema de juros que faz a dívida crescer como uma bola de neve. O esquema não é muito diferente da forca do cheque especial e das dívidas em cartão de crédito.  Quanto mais se paga, mais se deve.

Há várias leis que obrigam estatais, o Banco Central e as sobras do Tesouro a destinar dinheiro e lucros ao pagamento da dívida. Quando falta grana, o governo emite mais títulos da dívida para pagá-la. É dívida pagando dívida.

Em 2016 foram pagos 1,13 trilhão da dívida. São R$ 3 bilhões por dia! Essa quantia é maior do que os R$ 700 bi proposto por Guedes, e mesmo assim a dívida não diminui. O que o guru de Bolsonaro defende é botar mais dinheiro no bolso de banqueiros e especuladores.

Naturalmente, Guedes defendeu a reforma da Previdência pública, elemento central na agenda dos grandes capitalistas. E sobrou até para os militares que, supostamente comporiam o eleitorado cativo de Bolsonaro. Na opinião do economista tem que acabar até o regime especial de aposentadoria de que atualmente gozam os milicos. “Esse cara que pague uma previdência privada“, disse. E, mirando-se do exemplo neoliberal chileno, disse que a Justiça Trabalhista “tem que acabar”.

Seu plano para a educação (área em que o espertalhão conseguiu fazer fortuna nos últimos anos) é a adoção do próprio modelo no qual ganhou dinheiro: maior abertura das escolas às empresas privadas, padronização de um currículo escolar pautado nas necessidades do mercado e, sem a menor vergonha na cara, defendeu a distribuição de “vouchers” para alunos pobres que rezarem a cartilha liberal/empresarial. Pra quem não sabe, vouchers são aqueles brindes muitas vezes usados como estratégia de marketing por várias empresas, que oferecem descontos para que os clientes comprem algum produto ou serviço. Pela proposta de Guedes, filho de trabalhador pobre que não falar laissez-faire na escola não recebe brinde.

O guru do Bolsonaro também acha que há lugar no governo para o empresário Flávio Rocha, dono das Lojas Riachuelo, como um possível ministro da Indústria e Comércio (Mdic). Além de comercializar roupas populares, Rocha é herdeiro de grande fortuna e recebeu mesada até os 36 anos. Atualmente vende ideias banais sobre meritocracia e outros despautérios do pensamento corporativo que sequer merecem publicação nos mais chinfrins livros de autoajuda. Flávio Rocha é vergonha alheia. No ano passado se auto intitulou o “Painho dos trabalhadores da Guararapes”, fábrica têxtil onde até para ir ao banheiro os funcionários devem respeitar um cronômetro.

Mas Guedes é macaco velho e já participou de outras eleições. Em 1989, montou o programa de governo do então candidato à presidência Guilherme Afif Domingos, empresário paulista que defende um programa ultraliberal, no qual o Estado não deveria ter papel algum na economia. Tudo deve ser confiado à “mão invisível do mercado”. Mas não é bem assim… O detalhe é que Afif ganha a vida como um parasita do Estado. Ocupa a presidência do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que integra o chamado Sistema S. Em 2016, a Receita Federal repassou R$ 16 bilhões arrecadados de tributos para as entidades privadas do Sistema S, como Sesi, Senac, Sesc e Sebrae. O valor equivale a cerca de metade do Orçamento do Bolsa Família de 2017.

As propostas do mentor de Bolsonaro já haviam sido expostas com menos requinte pelo próprio candidato no ano passado. Em busca de apoio para sua candidatura, Bolsonaro foi nos Estados Unidos e prometeu privatizar todas as empresas estatais, acabar com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e reduzir ainda mais os impostos para empresários. Disse para os gringos:  “O Estado deve fazer tudo que puder para servir aos interesses financeiros da classe empresarial, pois o empresário tem seu sangue sugado pelo governo”.

Lá também defendeu a retirada de direitos trabalhistas e esbravejou: “O trabalhador vai ter que decidir: menos direito e emprego ou todos os direitos e desemprego. ” Disse ser favorável ao fim da CLT, citando o Paraguai como exemplo de “uma CLT bem menos rígida”. E para fechar com chave de ouro, disse ainda que “Trump é um exemplo pra mim”.

O suposto nacionalismo e o patriotismo do deputado filhote da ditadura militar são tão falso como o passaporte brasileiro de Kim Jon-un. Bolsonaro é mais um entreguista como Temer. Talvez até pior. Também não passa de mais um picareta do Congresso Nacional que enriqueceu na política usando dinheiro para fazer da política um grande negócio de família.