`Banho de sol` em Guantánamo

Trinta milhões de dólares: essa modesta quantia é o que a Halliburton, empresa que já foi dirigida pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, receberá para ajudar a construir uma nova prisão na base americana de Guantánamo, em Cuba. Como se não bastasse uma, a partir de 2006 teremos duas guantánamos. Sem contar as outras prisões clandestinas que a CIA e o Pentágono mantém na Tailândia, no Qatar e no Afeganistão, que não passam de campos de tortura que o imperialismo norte-americano espalha pelos pontos estratégicos do planeta.

Guantánamo, porém, já virou um símbolo do conceito americano de direitos humanos. Atualmente há cerca de 520 presos de 40 países em seus calabouços, alguns dos quais há mais de três anos, sem direito a advogado de defesa, sem direito a visitas de amigos e familiares, sem mesmo culpa reconhecida.

Por que uma nova prisão?
Aparentemente, o anúncio da construção de uma nova prisão em Guantánamo visaria a dar uma satisfação à opinião pública americana e mundial. A nova seria uma prisão mais “humana”, digamos assim. Teria dois andares, com capacidade para 220 presos, e seria equipada com ar-condicionado, centro médico e salão de ginástica. Hipocrisia pura. A burguesia só constrói novas prisões quando precisa de mais espaço para prender seus oponentes, que não consegue vencer pelas armas.

De certa forma, as prisões dão um ar de legalidade às suas ações. Mas por trás das grades, com os prisioneiros indefesos e a cumplicidade da ONU e outros organismos que a burguesia cria para “controlar” seus próprios excessos, nada segura o braço do militar americano. Nada impede que aplique seus manuais de torturas, o Kurbark Counterintelligence Interrogation, de 1963, aplicado no Vietnã, e o Human Resource Exploitation Training Manual, de 1983, destinado a ensinar os serviços de segurança da América Central a extrair informações dos prisioneiros.

Só a luta implacável e sem trégua contra o imperialismo pode acabar com isso. No Iraque, no Afeganistão e em todo o mundo, ela cresce a olhos vistos. No horizonte do imperialismo, não se vislumbra a paz. Por isso, manter as prisões é uma necessidade para continuar a rapina dos povos e esmagar suas rebeliões. A tendência é um aprofundamento da crueldade, mas também das escaramuças guerrilheiras.

EUA em situação complicada
As torturas nas prisões militares americanas são constantes e sem qualquer fiscalização independente, já que, por serem bases americanas, têm controle único e soberano dos EUA. Depois do 11 de setembro, foi criada toda uma legislação, típica das ditaduras, que coloca os presos nesses calabouços por fora de qualquer jurisdição internacional e até mesmo dos próprios tribunais americanos.

O problema para Bush é que os EUA vivem uma situação de enfrentamento no Oriente Médio, com sérios reflexos em todas as frentes. No front da guerra, não estão conseguindo vencer. Há um evidente recrudescimento dos ataques contra os soldados aliados por parte da resistência. No front econômico, da reconstrução do Iraque, também essa situação de enfrentamento se manifesta. A própria Halliburton virou um problema para Bush. Foi premiada com contratos milionários para a reconstrução do Iraque, justamente dos campos de petróleo, o que mais interessa a gangue Cheney, mas houve denúncias de que esses contratos foram entregues sem licitação e depois, superfaturados. Isso em um momento em que Bush quer cortar os benefícios da Previdência Social para diminuir os déficits.

Resultado: além de despencar sua popularidade, Bush vê o questionamento às suas medidas autoritárias crescer. Além da Anistia Internacional, a Comissão de Direitos Humanos da ONU quer explicações sobre as prisões. E uma comissão de 80 parlamentares americanos pediu que Bush marcasse a data para sair do Iraque.
Enquanto anunciam a nova prisão, os EUA alardeiam o fim das torturas em Abu Graib e no Afeganistão. Estão mentindo. Já abriram um outro centro de torturas no Iraque, Camp Bucca, onde há mais presos que em Abu Graib, e no Afeganistão funciona a todo vapor a prisão de Bagram, onde os presos são torturados até a morte.

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