Pôster do filme
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Filme denúncia prisões ilegais na prisão criada pelos EUA há cinco anosPara invadir outros países e manter a sua economia crescendo, os Estados Unidos necessitam, permanentemente, de atribuir a alguns o papel de grandes inimigos de toda a humanidade. Foi assim nos investimentos bélicos para a Guerra Fria e na criação de uma peculiar verborragia anti-comunista. Nos dias de hoje, os que se recusam a curvar diante do seu domínio são tidos como “terroristas”.

Em 2006, esta busca de inimigos externos que mantenham o país unido foi retratada nas telas de cinema. Primeiro, com “Boa Noite e Boa sorte” (Good Night, and Good Lock), de George Clooney, e mais recentemente em “Caminhos para Guantánamo” (The Road to Guantanamo), dos ingleses Michael Winterbottom e Whitecross.

“Caminhos para Guantánamo” é uma espécie de documentário-ficcional, baseado nos relatos de quatro jovens paquistaneses que resolvem ir até sua terra de origem para celebrar o matrimônio de um de seus amigos, Asif Iqbal (Afran Usman). No caminho, resolvem cruzar a fronteira do Afeganistão e terminam indo parar em Kandahar.

O período e a região em que se desenrola a história aparentemente casual falam por si só: setembro de 2001. O que era para ser um passeio eventual, logo se transforma num infortúnio. No décimo-primeiro dia do mês de setembro, depois de ver as torres gêmeas ruírem, o porta-voz do império, colérico, declarou guerra ao mundo, em especial aos países tidos por ele como de um “Eixo do Mal”.

O Afeganistão, onde supostamente estariam escondidos os autores do atentado, foi o primeiro alvo. Os três amigos Asif, Ruhel (Farhad Harun), Shafiq (Riz Ahmed) e Monir (Waqar Siddiqui), na ocasião em estada no Afeganistão, ao tentarem regressar ao Paquistão, esbarram em um cenário de guerra assustador, com bombas, mísseis e explosões provocadas pelo exército norte-americano. Numa das confusões, Monir se perde dos demais, que não conseguem escapar e são capturados pelas tropas americanas.

O filme, que não deixa de ser uma crítica frontal a política internacional do presidente norte-americano George W. Bush, chega a interpor numa de suas cenas uma declaração do então presidente, de conteúdo: “Eles não tem os mesmos valores do que nós”. Bush demonstra um viés tipicamente etnocêntrico, que enxerga a população do Oriente Médio como hordas e o ocidente como sinônimo de civilização.

A intenção dos diretores é mostrar como no limiar do século XXI, prisões que se for buscar paralelo na história encontrará no degrau debaixo Auschwitz, continuam a existir, sob os olhos da ONU. Controladas pela Forças Armadas norte-americanas, apesar de estar fora de seu território, Guantánamo, fora instalada na ilha de Cuba, país condicionado a embargos econômicos pelo próprio EUA.

A atuação dos personagens, que nada mais fazem do que tentar representar o que disseram ter vivido os jovens que lá passaram mais de dois anos, não deixam dúvidas quanto aos métodos desumanos de investigação norte-americana. Apanhados sem prova alguma, os três jovens são aprisionados em um caminhão, cuja entrada de ar só é possível quando soldados resolvem atirar em suas laterais, viajam com os rostos cobertos até Cuba. São submetidos a constrangimentos ao ingressar na prisão de Guantánamo, onde o silêncio é incondicional, o isolamento é total e as celas solitárias são sob um som ensurdecedor de heavy metal.

“Caminho para Guantánamo” é, antes de mais nada, uma produção que aflora o sentimento contrário à injustiça, à desfaçatez, à prepotência, e em igual dosagem, revigora a consciência anti-imperialista de quem assiste.


Ficha Técnica
Título Original: “The Road to Guantanamo“
Duração: 95 minutos
Ano de Lançamento (Inglaterra): 2006
Site Oficial: www.roadtoguantanamomovie.com
Estúdio: Revolution Films / FilmFour / Screen West Midlands
Direção: Michael Winterbottom
Música: Harry Escott e Molly Nyman
Fotografia: Marcel Zyskind