A nota abaixo foi escrita por um grupo de militantes anteriormente organizados no Núcleo de Formação de Militantes Marxistas (NFMM), uma organização política regional, com base em Maceió (AL) e que vinha, desde fevereiro de 2011, em um processo de unificação com o PSTU.

O NFMM tinha origem no movimento estudantil da UFAL (Universidade Federal da Alagoas) e suas relações com o PSTU, a despeito de quaisquer diferenças, sempre se caracterizaram pela camaradagem entre companheiros e unidade na luta. À medida que a atuação política conjunta avançava, os militantes das duas organizações sentiram a necessidade de discutir mais a fundo os acordos e também as diferenças entre as duas organizações, com vistas a uma unificação.

No início de 2011, após uma série de atividades práticas conjuntas, bem como discussões políticas e teóricas, cursos e seminários, os companheiros do NFMM solicitaram o ingresso ao PSTU. Junto com o pedido de ingresso, os companheiros fizeram uma solicitação especial: que durante um ano, tivessem a possibilidade de manter sua estrutura de grupo, ou seja, eles integrariam os organismos do PSTU normalmente, mas teriam também o direito de reunir-se em separado para avaliar o andamento da experiência de unificação.

Embora o PSTU seja um partido sem grupos internos organizados, consideramos positiva a solicitação dos companheiros como forma de dissipar quaisquer dúvidas e desconfianças com relação ao nosso funcionamento e por isso decidimos permitir a manutenção de sua organização interna pelo período de um ano.

Essa política demonstrou-se mais do que correta: os companheiros se integraram perfeitamente aos organismos do PSTU, ao mesmo tempo em que tinham o direito de reunir-se em separado para avaliar o andamento da experiência de unificação. A atuação pública se manteve centralizada nos marcos da política do PSTU. Ao final do período acordado, como se verá pela carta, os companheiros decidiram dissolver definitivamente sua organização e se integrar plenamente ao PSTU, com todos os direitos e deveres de qualquer militante. Junto com isso, também como se verá pela carta, os companheiros sublinham que restam ainda inúmeras questões políticas e teóricas a serem discutidas, mas que preferem fazer essas discussões dissolvidos dentro do partido, já que ali encontraram um ambiente de democracia e camaradagem.

Publicamos os principais trechos do balanço final escrito pelos membros do agora ex-NFMM pois acreditamos que se trata de um ótimo exemplo de como pode ser construída a unidade entre aqueles que querem se dedicar à construção do único instrumento capaz de dirigir a classe trabalhadora em sua luta contra o capital e pelo socialismo: um grande e verdadeiro partido marxista revolucionário.

Principais trechos da nota:

Comunicado ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

Camaradas, escrevemos esse comunicado com a intenção de informar o resultado de nossa última reunião e o balanço final de nossa experiência (após um ano de duração como acordado), enquanto enlace, com o partido. De antemão, adiantamos que nossa avaliação geral é positiva no sentido de que decidimos pela permanência com consequente dissolução interna de nosso pequeno núcleo nas fileiras do PSTU.

Essa decisão não se dá pela resolução de todas as questões que, embora inacabadas, levantamos no documento que marca o início de nossa experiência. Acreditamos, ainda, que há debates a serem realizados com profundidade, acerca de todas as questões que levantamos naquela ocasião. No entanto, o período de prova pelo qual passamos junto à organização nos apresenta todas essas questões por um outro ângulo, talvez mais maduro.

Como sabido, partimos de uma tradição de interpretação do marxismo relativamente diferente daquela em que se construiu o PSTU. Rigorosamente não somos morenistas, o que não quer dizer que desprezemos o dirigente histórico da corrente da qual agora fazemos parte. Acreditamos, tão somente, que a teorização de Nahuel Moreno (incluindo a sua forma de recepção do trotskismo e do leninismo), ainda que importante, é insuficiente para resolver os problemas da construção do processo revolucionário que se põem atualmente. Essa diferença de tradição da interpretação do marxismo, contudo, não se traduz em uma incompatibilidade de leituras acerca das tarefas históricas que se põem para a classe trabalhadora hoje.

Essa é a questão que julgamos, após essa experiência, fundamental de ser respondida. Nosso acordo deve estar posto na resposta que damos à pergunta que Lenin lança ao movimento revolucionário: Que fazer? Percebemos, hoje, que o critério que deve balizar nossa decisão não são os acordos ou desacordos teóricos, por mais que possam existir. Diferentemente, aqui devem pesar muito mais os inúmeros acordos de compreensão do atual momento histórico, bem como das grandes tarefas postas para todo um período, o que não apaga os possíveis desacordos. Não se trata de concordar ou não com essa ou aquela caracterização para a “etapa” (categoria que, polemicamente, sequer adotamos). Nem mesmo de acreditar que os desacordos teóricos não se possam traduzir em desacordos práticos futuros. Trata-se de perceber os acordos que temos na compreensão das tarefas atuais necessárias para a constituição da classe trabalhadora enquanto revolucionária e independente. Trata-se, portanto, de agir coerentemente com essa compreensão.

(…) Não somos capazes de encontrar nenhum desvio grave nas formulações do PSTU e embora tenhamos matizes diferentes de interpretação da realidade, pressupostos teóricos distintos, leituras do marxismo que ora se distanciam, ora se aproximam, seria um absurdo não compreender que estamos construindo uma organização socialista, proletária e revolucionária. Avaliamos que dado o atual estágio da organização da classe trabalhadora no país e no mundo, essa está entre as principais tarefas militantes que estão dadas para o momento. É com o PSTU que queremos discutir a revolução socialista. Construí-lo, portanto, é nossa tarefa enquanto revolucionários.
(…)
Nossa caracterização é a de que o PSTU é uma organização revolucionária em construção. É necessário se debruçar sobre uma série de temas para amadurecer esse processo (crise estrutural do capital, a crise de direção e as tarefas para resolvê-la, o centralismo democrático e sua aplicação prática, história do movimento de massas no Brasil e no mundo, formação político-econômica do Brasil e sua posição atual na economia capitalista mundial, natureza e fomento do trabalho teórico do partido etc.). Contudo, as principais tarefas, as linhas mestras desta construção, parece-nos, estão postas. É com bons olhos que vemos a discussão congressual acerca da atuação como partido político que realizamos esse ano. Cabe-nos em associação aos demais militantes e em condições iguais aos mesmos, desenvolver essas linhas mestras da melhor forma que nos for possível. Assim, somos de nossa parte, hoje, militantes plenos do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e da Liga Internacional dos Trabalhadores.

Saudações revolucionárias,

Maceió, Fevereiro de 2012.

Davi Menezes, Eli Magalhães, Geice Silva, Lylia Rojas, Shuellen Peixoto